Ato

Uma caminhada que ainda está longe do fim

Marcha Mestra Griô Sirley Amaro completa 20 anos na luta antirracista; evento tem nova edição neste sábado

Carlos Queiroz - DP - Marielda Medeiros diz que ato surgiu para potencializar os debates sobre a problemática social do negro, especialmente em Pelotas

Potencializar as discussões sobre os temas pertinentes a negritude e a luta antirracista em Pelotas foi o motivou um grupo de ativistas negros pelotenses a marcar o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, com uma caminhada, em 2003. Nos últimas duas décadas a ação, criada por iniciativa do hoje Centro de Ação Social, Cultural e Educacional Odara, cresceu e estabeleceu-se também como um ato de reverência à ancestralidade afro. Neste sábado, às 10h, o ato chega a 20ª edição, agora intitulada Marcha Mestre Griô Sirley Amaro. Na sequência, o evento prossegue na praça Coronel Pedro Osório, com diferentes atividades culturais e artísticas e de fomento ao empreendedorismo, até as 20h30min.

A marcha tem concentração, às 9h, em frente ao Altar da Pátria, na praça Dom Antônio Záttera, da avenida Bento Gonçalves, com saída às 10h. Mais uma vez, o grupo vai percorrer as ruas Andrade Neves, Major Cícero e Anchieta, chegando à praça Coronel Pedro Osório, onde acontecerá a Feira Preta, entre outras atividades.

A professora e escritora Marielda Medeiros, do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Pelotas (CPDCNPel), uma das 30 entidades que organizam esse evento, relembra que a ação teve início apenas com uma caminhada, saindo do Altar da Pátria em direção ao largo Edmar Fetter, no Mercado Central. O encerramento era com pronunciamentos dos envolvidos.

Bem-aceita pela comunidade, a marcha começou a tomar a forma atual, associando outras ações ao ato, há 15 anos. "Começamos a pensar em terminar o evento com outras atividades que não fossem só as de fala. De lá para cá, com essa ideia de que a gente pudesse ter outras atividades durante o dia, começamos a ter uma nova estrutura", conta Marielda.

Em 2019 a marcha agregou mais um propósito, celebrar a ancestralidade, por iniciativa do Coletivo Juntos, que indicou que naquele ano a mestra griô Sirley Amaro fosse homenageada. Sirley acompanhou toda a construção do evento e liderou a caminhada por duas edições. Depois da morte da griô, em 2021, os organizadores mantiveram o nome dela denominando a ação como forma de reforçar a importância do culto às raízes ancestrais afro-brasileiras.

A marcha ainda homenageia Zumbi e Dandara de Palmares. "Algo que nos é de muito orgulho, pois demarca a resistência e luta negra em nosso país", destaca Marielda. Nesta edição celebra os 45 anos do Movimento Negro Unificado no Brasil, os 50 anos do Movimento Hip Hop e os 115 anos da Umbanda.

A ativista comenta que a ação griô continua representada no movimento com a presença ativa do mestre Dilermando Freitas, que também faz parte da coordenação do evento. "Ele caminha com a gente nessa busca, principalmente aqui em Pelotas." A busca a que se refere a ativista é pelo direito do negro ocupar os espaços com dignidade. "A gente percebe, neste século 21, que a população negra ainda é a que mais carece de atenção e é nesse sentido que a marcha vem sendo trabalhada, para que a gente possa mostrar que hoje os negros, através do seu trabalho, continuam contribuindo e muito para o crescimento e desenvolvimento da cidade", diz a professora.

Mas para os organizadores da marcha é crucial que os não-negros também se engajem nessa luta por uma sociedade igualitária. Marielda lamenta que a sociedade brasileira ainda seja pautada pela desigualdade racial, por meio de estruturas que nasceram no período colonial. Neste sentido a caminhada rumo a uma sociedade sem diferenças entre raças e gêneros ainda está longe de terminar.

"A sociedade ainda traz muitos dos resquícios da escravidão, mas a gente pensa que se cada um começar a fazer esse papel (antirracista) as coisas podem realmente mudar, não pode ficar só nas mãos dos negros, os não negros também têm que caminhar ao nosso lado para que isso possa vir acontecer, porque a luta antirracista é de toda a sociedade brasileira", diz.

Dois espaços e atrações

Atualmente o coletivo tem quatro Grupos de Trabalhos (GTs) formados: Infraestrutura e Finanças, Cultura, Comunicação e Segurança, para que o evento seja organizado. Este ano a ação na praça terá dois espaços, um chamado Plural, destinado as atividades didático/pedagógicas, e outro intitulado Cultural, onde ocorrerão as apresentações artísticas e oficinas.

No espaço Plural haverá roda de conversa e Poevivências, prática de Las3 Tramas, roda de capoeira com o grupo Povo que Ginga e exposição do acervo da Mestra Griô. Também serão feitas algumas homenagens.

No espaço Cultural o público será brindado com apresentações, como do DJ Lúcio, Ação Griô Mestre Griô Dilermando Freitas e Grupo Marias (24º Núcleo do CPERS), DJ Nenê Konfirmado e DJ Helô, além de performance Quando o som me tocar, com Matheus Enrico e Rafaella Degani e show Filhas de Obá. Também haverá oficina de dança do Coletivo de Danças Negras. O encerramento será com show do grupo Samba do Cortiço.

Serviço
O quê:
Marcha Mestra Griô Sirley Amaro
Quando: neste sábado, concentração às 9h
Onde: Altar de Pátria, na praça Dom Antônio Záttera
Apoio: CPERS/24º Núcleo; SIMP; ADUFPel; ASUFPel; Sindicato dos. Bancários de Pelotas; Secult/Prefeitura de Pelotas; Curso de Jornalismo/UFPel, RadioCom/104.5 FM


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