Dança

Uma noite para reviver um clássico

Alunos de todos os níveis de estudos proporcionados pela do Ballet Dicléa Ferreira de Souza estão unidos na remontagem de La Bayadère, espetáculo que não era apresentado pela escola há 32 anos

Foto: Susana Pacheco - Elisa Freitas Bertoldi e Vitor Medronha protagonizam o espetáculo

Uma noite para desfrutar o balé clássico. É o que promete a Escola de Ballet Dicléa Ferreira de Souza no seu tradicional espetáculo de encerramento do ano. Desta vez o título escolhido é La Bayadère, um drama romântico em três atos e quatro cenas, que vai contar com a participação de todos os alunos da escola. A apresentação será terça-feira, às 21h, no Theatro Guarany. Ingressos a R$130,00 (inteira), R$70,00 (solidário) mais um quilo de alimento, que deverá ser entregue na entrada do espetáculo, e R$65,00 (meia).

Clássico de repertório, La Bayadère é um balé acadêmico, com resquícios românticos, do final do século 18, que conta a história de amor impossível, entre o guerreiro Solor e a dançarina do templo, Nikiya. A trama, que envolve traição e tragédia, tem como pano de fundo a Índia e suas tradições lendárias. O espetáculo tem música de Ludwig Minkus e libreto de Marius Petipa e Sergei Khudenov.

Essa é a segunda vez que o Ballet Dicléa encena a história, a primeira foi há 32 anos, com a atual diretora Artística da Escola, a bailarina Daniela de Souza, como a protagonista Nikiya. "É um balé grande, de aproximadamente duas horas de duração e a gente está levando para cena cerca de cem alunos de todos os adiantamentos da escola", conta Daniela. A direção geral é de Dicléa de Souza.

Tem sido um trabalho duro, ao longo de muitas semanas, para que a remontagem fique o mais próxima possível do original, revela a diretora. Como todos os alunos da escola participam, algumas coreografias foram adicionadas para encaixar as crianças no contexto. "Claro que elas fazem coisas do seu adiantamento", explica a diretora. A coreografia original é de Marius Petipa, com adaptação Daniela Souza e Eliana Oliveira, diretora assistente, e as adicionais são do bailarino e coreógrafo uruguaio Ruben Luís Montes Trinidad (1931-1997), o Kyro, que atuou na Escola entre as décadas de 1970 e 90, e de Eliana.

O primeiro e o segundo atos são muito ricos e coloridos, adiantam Daniela e Eliana, em contraste com o último ato, chamado Balé Branco. "Para nós este é o apogeu do balé", comenta Eliana, que foi primeira bailarina da Escola.

Misancene mais exigente

Remontar La Bayadère tem seus desafios, especialmente no cuidado com os detalhes, que segundo Daniela são muitos. Durante os ensaios, o olhar apurado e experiente da dupla Daniela e Eliana fica atento às coreografias em conjunto, que segundo a diretora artística são muitas e requerem muita atenção das bailarinas e muitos ensaios.

Outro aspecto importante neste espetáculo são as misancenes, aquele jogo de cena no qual, com gestos e expressões faciais, os bailarinos contam a história, sem emitir uma única palavra. Esta encenação exige mais esmero dos intérpretes. "Tecnicamente este é um espetáculo muito exigente, é um clássico muito detalhado, não tem esses malabarismos das danças mais modernas. E a gente costuma dizer que quanto mais simples, mais difícil", diz Eliana.

Desafios da protagonista

A médica Elisa Freitas Bertoldi que volta ao balé especialmente para interpretar a protagonista Nikiya, concorda que a misancene de La Bayadère é exigente. "É um balé muito técnico, muito avançado, mas do ponto de vista da misancene, para mim é a maior dificuldade. Eu tenho que ser extremamente formal e respeitosa numa cena e na outra me posicionar na frente do sacerdote e em outra extremamente apaixonada. De uma emoção de amor, tu passa para uma sensação de perda profunda. Aí vem as sombras que é uma parte neutra de expressão. Ela (Nikiya) vai de um extremo ao outro, é bem desafiador. Mas estamos ensaiando bastante", conta.

Com formação na Royal Academy, de Londres, Elisa dança na Escola pelotense há dez anos, mas durante a pandemia teve de conciliar aquele momento extremamente exigente para os trabalhadores da área da saúde, com a maternidade. Claro que não sobrou tempo para o balé.

Neste retorno ela teve de correr mais para deixar o corpo pronto para as exigências da coreografia. "A Eliana topou a tarefa difícil de me ensaiar. Depois de ser mãe, a gente tem que reaquecer os motores e ela ficou semanalmente me ensaiando", conta Elisa.

A antagonista da personagem de Elisa será vivida pela fisioterapeuta Paula Mesquita, que está na escola há 25 anos. Desta vez ela dará vida a caprichosa Gamzatti, que vai disputar o amor de Solor, com Nikiya. "Têm alguns elementos do balé que são de difícil execução, então os movimentos têm que ser executados com bastante perfeição e limpeza e isso é um desafio para mim."

O nobre guerreiro Solor terá a interpretação do bailarino Victor Medronha. Com 23 anos de balé, essa é a primeira vez que ele dança La Bayadère. "O protagonista sempre tem o nível técnico mais alto, então esse é um desafio. Todo o balé novo que a gente dança é sempre um desafio."

Medronha elogia a música do espetáculo, a qualificando como "linda". Outra peculiaridade da sua estreia neste clássico é a estreia dançando com com duas partners. "É um triângulo amoroso, então tem momentos que eu danço com a Nikiya e tem momento que eu danço com a outra parceria (Gamzatti), o tempo todo em cena, mas estamos ensaiando pra isso. E as duas partners ótimas", fala.

Projeto social

Professor da Escola, Medronha dá aulas para três turmas do Magia da Dança, projeto resultante de parceria entre Prefeitura e o Grupo de Ballet de Pelotas, com 80 estudantes do Município. O público alvo são crianças com idades entre oito e 13 anos, oriundos de famílias de baixa renda.


O bailarino destaca como um grande desafio a sua primeira experiência como professor do projeto. "Foi de muito aprendizado, mas é muito gratificante ver o desenvolvimento das crianças." Neste espetáculo os alunos do Magia da Dança não participam, mas estão com seus ingressos para assistirem ao balé.

Medronha diz que que muitas das crianças que participam da proposta não teriam o contato com essa arte se não fosse o Magia da Dança. "Tanto de ter as aulas, tendo contato não só da técnica, mas de tudo o que envolve o ensino do balé, as questões que envolvem disciplina da responsabilidade, concentração e espírito de equipe para aprender a fazer coisas em conjunto, além de desenvolverem habilidades como a musicalidade, é uma oportunidade incrível que o projeto traz para esse público."

Mesmo sendo uma turma de iniciantes, o professor conseguiu perceber quais alunos têm mais habilidades para a dança. "Apareceram vários talentos, muitas crianças com grande potencial para desenvolver", fala. O projeto, com mais de uma década de atividades, já deixou legados para a própria escola, incluindo um dos destaques desta montagem, o bailarino Marcos Mackedanz, que fará Magdaveya, líder dos faquires. "A partir do momento que surge o interesse na criança, que é fisgada por esse universo, tem-se esses resultados. Temos bailarinas que estão hoje no corpo de baile que surgiram neste projeto."

Marcos Mackedanz começou a dançar no Magia da Dança, em 2006, ano da primeira edição do projeto e não parou mais. "Não parei nunca e estou aqui dançando mais um balé, um balé surpreendente, trabalhoso mas muito bonito."

Apesar da formação em Técnico Contábil, Mackedanz não deixa a dança de lado e se dedica no mínimo duas vezes por semana às aulas. "Minha vida é o trabalho e a dança." Sobre o personagem, o bailarino revela que ele é bem diferente do que já tinha vivido até então. "Estou gostando bastante, ele tem uma presença forte, salta, corre e se movimenta bastante. Exige muito da parte física, mas é bem legal."

Serviço
O quê: Ballet Dicléa Ferreira de Souza apresenta La Bayadère
Quando: terça-feira, às 21h
Onde: Theatro Guarany, Lobo da Costa, 849
Ingressos:R$130,00 (inteira), R$70,00 (solidário) mais um quilo de alimento, que deverá ser entregue na entrada do espetáculo, e R$65,00 (meia)
À venda: no Theatro a partir de segunda-feira, das 10h às 20h30min, e na terça-feira, a partir das 9h até a hora do espetáculo
Mais informações pelo telefone (53) 3225-7975 ou 98125-0054 (whatsapp)
Apoio: Espaço de Dança Laís Hallal e Diário Popular

Programa completo disponível por meio de QR-Code



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