Justiça

Caso Rai: por tortura, MP denuncia 17 policiais militares

Investigação identifica crimes que também incluem falsificação de documento, além das agressões físicas e psicológicas do dia 1º de maio do ano passado

Foto: Reprodução - Dos 12 rubro-negros, Rai Duarte foi o que sofreu as piores consequências: ficou internado por quase quatro meses

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), por meio da Promotoria de Justiça Militar de Porto Alegre, denunciou 17 policiais militares por tortura contra 12 torcedores do Brasil, incluindo Rai Duarte, que permaneceu internado na capital de maio a agosto do ano passado. Um dos PMs foi denunciado também por falsificação de documento. Outro, além da tortura e da falsificação, foi acusado por injúria e ameaça. A denúncia foi ajuizada nesta terça-feira (24), pelos promotores de Justiça Marcos Reichelt Centeno e Anelise Haertel Grehs.

Na peça, os promotores explicam que, em 1º de maio de 2022, o Xavante enfrentava o São José quando, por volta das 19h, os denunciados, integrantes do pelotão de Força Tática do 11º BPM, ingressaram nas dependências do estádio Francisco Noveletto para controlar uma briga. Cessada a confusão, ainda segundo os promotores, no momento em que alguns torcedores do Brasil retornavam para a respectiva arquibancada, 11 deles foram encurralados por parte do efetivo da Força Tática em uma área localizada no canto do estádio, sem qualquer possibilidade de saída.

O Diário Popular teve acesso à lista dos denunciados. São eles o primeiro tenente Dinei Silva Leon e os soldados Leandro Duarte Lemes, Fabricio Anthony Gules Camargo, Marcus Vinicius de Araujo Moura, Tiago do Couto Maiato, Douglas Requelmes Pimentel, João Carlos Krauze do Nascimento, Alberto Kersten Coelho, Rafael da Silva Vasconcelos dos Santos, Weverton Ramalho da Silva Nunes, Thiago da Conceição de Oliveira, Luan Rodrigues da Fonseca, Kelli Lisiane Abreu Marques, Eperson Andrei Teixeira do Amaral, Heliago Grespan do Nascimento, Wilian Henrique de Carvalho Dutra e Djeisson da Silva.

Relato dos promotores

Conforme o MP, Rai Duarte foi colocado junto às demais vítimas, momento em que três PMs, por motivo não esclarecido, o prenderam quando estava em um ônibus com destino a Pelotas. Ele não havia participado da briga. Retirado do coletivo e algemado, Rai foi conduzido ao local onde já estavam os demais denunciados e vítimas detidas.

Ali, foi agredido e colocado em um banheiro sem uso e submetido a intenso sofrimento físico e mental, como forma de aplicar castigo pessoal, gerando lesões de natureza grave descritas no laudo de exame de corpo de delito (hemorragia intra-abdominal, ruptura de artéria cólica média, hematoma em mesocólon transverso, isquemia de cólon transverso, choque hemorrágico, escoriação no segundo dedo da mão esquerda), que ocasionaram risco de vida e incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias.

Abuso físico e psicológico

Novamente segundo o MP, em algum momento da detenção, Duarte questionou a ação dos denunciados, seja porque não lhe foi indicado o motivo da prisão, seja porque seus condutores não se identificaram, tendo a vítima referido conhecer os procedimentos policiais pois tinha sido colega de policiais (ele foi policial militar temporário). Ao consultarem a identidade do torcedor e constatarem não se tratar de policial militar da ativa, os denunciados passaram a agredi-lo com tapas, socos e chutes, chamando-lhe de “lixo”. De forma geral, todos os torcedores foram submetidos a intenso sofrimento físico e mental, como forma de aplicar castigo pessoal em razão da suposta participação na confusão.

Desde o momento em que foram detidas até o momento em que deixaram o estádio, conduzidas pelos policiais, o que durou mais de 40 minutos, as vítimas sofreram as "mais diversas agressões". Os denunciados se revezavam desferindo tapas, socos, chutes e golpes com bastão, mesmo estando as vítimas subjugadas, sempre algemadas, deitadas ou sentadas e não oferecendo qualquer resistência ou risco aos policiais. Quando não agiam diretamente agredindo as vítimas, os denunciados assistiam-se mutuamente, anuindo às condutas uns dos outros. Ao agir, além das agressões físicas, os denunciados procuravam humilhar as vítimas, chamando-as de “vermes” e “lixo”, além de outras ofensas destinadas a aumentar o sofrimento psicológico.

"Acostumados a bater na torcida do Brasil"

Os denunciados também falavam que estavam acostumados a bater nos torcedores do Brasil desde longa data, e que sempre que viessem a Porto Alegre seriam agredidos, além de outras afirmações destinadas a incutir medo. Ao identificarem as vítimas para consulta no Sistema Consultas Integradas, além dos nomes, os denunciados exigiam que elas dissessem o número do RG e, quando estas demoravam ou não sabiam responder, os denunciados deferiam-lhes tapas no rosto ou cabeça.

Depois, os torcedores rubro-negros foram conduzidos algemados até a parte externa do estádio, onde foram colocadas em grupos na parte traseira das viaturas com destino ao Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. Os torcedores, já lesionados pela ação dos denunciados, foram “jogados” uns por cima dos outros, algemados, apertados em espaço limitado do bagageiro das viaturas, também como forma de infringir maior sofrimento físico e castigo. Os policiais referiam-se jocosamente às vítimas, debochando de suas condições, e ameaçando agredir novamente.

Ameaça de "enxertar" drogas

Os denunciados também ameaçaram “enxertar” drogas, para atribuir às vítimas o crime de posse de entorpecentes. Também como forma de ameaça e intimidação, visando ocultar as agressões cometidas contra as vítimas, os denunciados ameaçaram-nas dizendo que, caso revelassem o ocorrido ou procurassem as autoridades, eles as encontrariam e se vingariam, dizendo que a Brigada Militar em Pelotas era a mesma instituição da qual pertenciam e, portanto, tomariam conhecimento e haveria represália.

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