Fim de ciclo

Em coletiva, Zimmermann se despede e encerra quinta passagem pelo Brasil

Treinador elogia jogadores e torcida, diz ter colocado dinheiro do próprio bolso para ajudar o clube e manifesta preocupação com o futuro do Xavante

Foto: Jô Folha - DP - Ídolo rubro-negro ficou a três partidas de igualar Paulo de Souza Lobo, o Galego, como comandante que mais dirigiu o time na história, conforme dados de Izan Muller

Acompanhado da tradicional xícara de café, Rogério Zimmermann se sentou à mesa do Salão de Honras do Bento Freitas, nesta quarta-feira (9), para mais uma despedida. O treinador encerrou a quinta passagem pelo Brasil com um discurso forte, expondo problemas do clube. O ídolo rubro-negro agradeceu jogadores, funcionários e torcida, resumiu a temporada, revelou ter colocado dinheiro do próprio bolso em viagens e voltou a falar de promessas não cumpridas pela direção.

O técnico levou duas folhas de ofício com pautas para abordar durante o pronunciamento, que durou quase 1h20min. Um dos principais tópicos levantados foi a necessidade, sob sua visão, de transparência dos dirigentes. Sem citar nomes, Zimmermann citou a importância de clareza a respeito de possíveis débitos do clube com membros da Executiva. Não lamentou ter retornado, mas enfatizou: ouviu projeções que não se confirmaram na prática.

"O que me motivou a voltar não foi pra jogar mais um Gauchão, mais uma Série D ou Copa do Brasil. Eu vi a possibilidade. Pensei: 'acho que o Brasil vai se organizar dessa vez'. Quando me chamaram, eu perguntei: vai ter salário em dia? E prometeram. Não queria passar por isso. Só vim porque me passaram uma ideia de que o clube estava se organizando, que o clube isso, que o clube aquilo...", desabafou.

Dinheiro do próprio bolso

Rogério fez questão de tocar no assunto das logísticas de viagens para partidas fora de casa. O treinador nunca escondeu a preferência por chegar ao local dos jogos com antecedência. Foi assim no duelo de ida da terceira fase da Copa do Brasil, contra o Atlético Mineiro, em abril, por exemplo. O profissional revelou ter pago uma diária da delegação em hotel para antecipar o deslocamento.

Nesse caso específico, o Xavante viajou em um domingo a Porto Alegre, onde os atletas dormiram. Na segunda-feira, houve um treinamento. No dia seguinte, aconteceu a viagem para Belo Horizonte. Como a CBF custeia apenas duas diárias em cada confronto para o clube visitante, o clube também precisou pagar uma estadia, além do técnico.

RZ enxerga que essa preparação foi um dos diferenciais para o bom desempenho do time no Mineirão, na quarta-feira daquela semana. O placar de 2 a 1, conforme o comandante, ajudou a aumentar a renda oriunda da partida de volta, na Baixada. A parte que saiu do bolso do treinador para esse investimento teve como origem a premiação da classificação sobre o Cordino, na primeira fase do torneio _ até hoje, o valor da vitória contra a Ponte Preta, pela etapa seguinte, não foi acertada.

Realidade difícil

O atraso de salários não é segredo. Na despedida, Rogério reforçou a visão de que cumprir o compromisso com os jogadores precisa figurar no topo das prioridades da direção. O agora ex-comandante do Brasil citou dois exemplos, um no elenco e outro na comissão técnica.

Zimmermann contou que o lateral-direito Tony pediu para viajar a Patrocínio, no último fim de semana, mesmo lesionado. Se esforçou para atuar, mas não teve condições. Ainda assim, quis cumprir o papel de membro da barreira no treino prévio ao jogo no interior mineiro - tudo isso no dia de seu aniversário. Já Gustavo Papa, contratado como auxiliar técnico, acumulou funções de analista de desempenho - após a saída não reposta de Rafael Prerniska - e de preparador de goleiros - depois da recente morte de Toninho Castilhos.

E não foi só isso. "Tinha jogador aí que atrasou um pouquinho o salário, tava vencendo o segundo aluguel. Aí vai lá o Rogério, dá uma ajuda. Aluguel, mais condomínio, já vai dois mil (reais) e pouco. Então, o treinador pega a premiação dele e redistribui pra jogador. Pra funcionários. Pra algum torcedor. Pra diária do clube…", disse.

Extracampo

Apesar de ter lembrado do Gauchão "tranquilo", da competitividade da equipe durante a temporada e da garantia de calendário nacional, com Série D assegurada para 2024, RZ procurou não falar muito de futebol. Praticamente nada, na verdade. "Eu ia começar um trabalho, talvez não terminasse", rememorou, repetindo frase mencionada muitas vezes ao longo da quinta passagem pela Baixada.

"É comida, aluguel, local de treino, salário em dia. Quando derem condições pra esse clube, esse clube atropela todo mundo. Por isso voltei. Com o passar do tempo, as coisas não foram funcionando muito. O resto da história vocês já sabem. Afastamento, renúncia de presidente... O Brasil só precisa se organizar", sustentou.

Zimmermann afirmou não enxergar "problemas de honestidade" dentro do clube. O profissional falou até de temas administrativos, como conforto do torcedor no estádio, envolvendo acessos e banheiros, por exemplo. "O dirigente, pra pensar grande, precisa pensar nos detalhes menores", disse, ressaltando a importância de não focar "no próximo treinador ou gerente", com prioridade a questões mais amplas.

"O Brasil está cada vez pior"

Rogério manifestou preocupação com o futuro do Xavante. Está deixando o clube, porém espera ter plantado sementes. Sua relação com o torcedor se estreitou nesse período: conforme ele, "parece que o carinho foi ainda maior". Justamente por isso, o comandante fica à vontade para expor problemas que visualiza internamente.

"Eu estou saindo, mas se eu deixar algumas ideias aqui, é uma maneira de permanecer", resumiu. Também disse: "tem que parar de fazer videozinho emocionante pro nosso torcedor chorar. Faz o acesso [ao estádio] ser rápido, faz banheiro, oferece boas condições pro sócio. É isso que muda um clube. Paga em dia".

Apesar das opiniões fundamentadas sobre gestão, RZ foi claro. "Sou treinador de futebol. Ponto", afirmou, esclarecendo que não cogita desempenhar outras funções. E ao manifestar a contrariedade com decisões tomadas por dirigentes, usou palavras fortes. "O que eu não posso é falar tudo isso e ficar [no clube]. Por isso que eu estou saindo. É duro ouvir isso, mas o Brasil está cada vez pior. Talvez se alguém tivesse falado antes...", argumentou Rogério.

Números

O contrato de RZ terminou na derrota para o Patrocinense, domingo passado, quando o Xavante foi eliminado da Série D. Em 2023, foram 31 jogos por Gauchão, Copa do Brasil: dez vitórias, dez empates e 11 derrotas. Ao total, segundo dados do historiador Izan Muller, o técnico deixa o cargo tendo dirigido o Brasil em 465 partidas, apenas três a menos que o recordista da estatística, Paulo de Souza Lobo, o Galego.

Íntegra da coletiva

A entrevista completa de Zimmermann, marcando o fim deste ciclo, está disponível neste link.

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