Mundo afora

Nos passos do pai, Eduardo Strapasson vai às Olimpíadas de Inverno da Juventude

Nascido em Rio Grande e morador de Pelotas, atleta de 16 anos disputará as Olimpíadas de Inverno da Juventude menos de 12 meses após começar no skeleton

Foto: Carlos Queiroz - DP - Jovem embarca no próximo dia 10 para a Coreia do Sul, onde os Jogos ocorrem de 19 de janeiro a 1º de fevereiro

O legado dos Strapasson para os esportes de gelo no Brasil já era digno de aplausos quando, em 2003, Emílio se tornou o primeiro atleta do País a participar de uma competição de skeleton. Duas décadas mais tarde, o filho Eduardo, 16 anos, que nasceu em Rio Grande e mora com a família em Pelotas, garantiu vaga nos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude na mesma modalidade.

A ascensão do jovem foi meteórica. As Olimpíadas acontecerão em Gangwon, na Coreia do Sul, entre 19 de janeiro e 1º de fevereiro, menos de um ano depois de Eduardo começar a praticar skeleton. Ao longo de 2023, ele marcou presença em oito competições, em pistas localizadas em três países diferentes - Noruega e Áustria, além da já citada nação asiática. Assim, se enquadrou nos critérios do Comitê Olímpico Internacional (COI).

"É o início de uma carreira, para em 2026 estar em uma Olimpíada de novo. Espero estar no top-12, que acho possível", diz o atleta. Em etapa realizada também na Coreia do Sul, no mês passado, Eduardo Strapasson terminou em nono lugar, um segundo e meio atrás do líder. Porém, a delegação alemã não disputou a competição, o que provavelmente, considerando os tempos médios, faria o rio-grandino cair duas ou três posições.

Rotina de atleta longe do gelo

Desde julho, Eduardo faz trabalho personalizado de preparação física com Icaro Schultze, na academia Hoy. Já que a ausência de pistas de gelo impede o treinamento do âmbito técnico, as atividades são focadas em outros aspectos considerados importantes para o alto rendimento. "O esporte em si é só nas pistas de verdade. Só lá. Aqui é só a parte física e mental", enfatiza o atleta.

Para o profissional, o fato de o skeleton não ter frenagem exige foco na repetição de movimentos explosivos durante a preparação. Icaro também destaca a importância do aumento do peso corporal para que Eduardo tire ainda mais proveito do próprio biotipo. "Em queda livre, quanto mais pesado ele for, menor resistência ao ar, mais fácil de ganhar velocidade.[...] Precisa ser forte, explosivo e pesado", resume.

Mesmo ainda curta, a experiência do garoto na modalidade já basta para a compreensão de fatores importantes. "A gente desgasta muito pouco o músculo. O desgaste é mais mental. A gente fica muito tempo parado, desce no máximo duas vezes por dia. Mais que isso, [descidas] em sequência podem gerar um acidente por estar desgastado mentalmente", afirma.

Na modalidade, o atleta se lança em um trenó (composto por metal e plástico, com peso de 43 quilos) e desce de cabeça a pista. Foto: Divulgação - KSBF

Um esporte radical

O filho de Emílio, que foi presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) e atualmente coordena os departamentos de bobsled e skeleton, passou por um susto em novembro. Logo após quebrar o recorde brasileiro masculino da modalidade (55s47), na Coreia do Sul, Eduardo sofreu um grave acidente. Passou duas semanas sob cuidado médico na Ásia antes de rumar para etapa na Áustria, já recuperado.

Ele estava a quase 120 quilômetros por hora e desmaiou no momento do choque. Queimou parte do pescoço e do ombro ao deslizar no gelo. Por sorte, não teve fraturas apesar da queda de quatro metros de altura. "São várias curvas na pista. Se eu faço alguma coisa na curva 1, tem consequência na curva 3, e assim por diante. Eu queria baixar muito o meu tempo. Meu treinador falou: 'na curva 9, faz isso'. Só que fiz no timing errado. Fiz tudo muito cedo e na curva 12 eu capotei", explica.

O treinador de Eduardo é espanhol, e os encontros pessoais só acontecem quando o jovem passa temporadas fora do Brasil para competições. Nessa equipe técnica de apoio vinculada à CBDG, aliás, está Edson Bindilatti, atleta de bobsled, esporte semelhante ao skeleton. Porta-bandeira da delegação do País nas Olimpíadas de Inverno em 2018, Bindilatti é referência nas modalidades de gelo.

A carreira e os estudos

Em Pelotas, o garoto se prepara para o terceiro ano do Ensino Médio. Liberado pela escola para fazer provas online durante os períodos de competição, Eduardo sabe das portas abertas com o sucesso nas pistas de gelo. Quer construir uma trajetória, porém sem abrir mão do restante. "Pretendo seguir [no skeleton], sim, mas até o ponto dele não afetar meus estudos. Minha vida não vai ser só no esporte, mas pretendo fazer uma carreira", diz.

Sobre esse assunto, Icaro é enfático. "Ele ficou sozinho na Coreia, precisando falar outras línguas. Está tendo uma educação extremamente privilegiada, que só o esporte proporciona. Já tem uma vida direcionada para de repente conseguir bolsa fora, por exemplo. A vida educacional dele está pronta", afirma o preparador físico, que precisou buscar conhecimento técnico a respeito do skeleton para a excelência do trabalho.

Emílio Strapasson (foto), pai de Eduardo, foi o primeiro brasileiro a participar de uma competição de skeleton, na Copa América em 2003. Foto: Divulgação.

O skeleton

Na modalidade, o atleta se lança em um trenó (composto por metal e plástico, com peso de 43 quilos para homens e 35 para mulheres) e desce de cabeça a pista. Ele faz de duas a quatro descidas e vence quem tiver o menor tempo no total. Os equipamentos necessários são um capacete de fibra de vidro, uma sapatilha com mini-agulhas na sola para dar tração durante a largada e um speed suit, espécie de macacão cujo tecido é feito para evitar atrito.

Assim como o bobsled, a origem do esporte remonta ao século 19, com a popularização dos trenós como meio de transporte em montanhas. Alemanha, Áustria, Suíça, Reino Unido e Canadá são alguns dos países que se destacam nas principais competições internacionais, mas a modalidade vem se expandindo a outras nações, como Coreia do Sul, Austrália e o próprio Brasil.

"Até o último segundo a gente fica encasacado, totalmente aquecido. Quando apita o sinal a gente tira e corre", explica Eduardo, citando o chamado push, corrida inicial de 30 metros antes do mergulho no trenó para encarar as curvas. Cada pista tem um trajeto diferente, com sinuosidade e comprimento específicos. A posição do corpo e os movimentos com a cabeça e o ombro, além da pressão feita nas placas do trenó, vão direcionando o atleta.

Brasileiros

Após disputar a Copa América há duas décadas, Emílio Strapasson esteve perto de conquistar vaga nas Olimpíadas de Inverno em 2006 e 2010. Primeiro competidor brasileiro no skeleton, ele divide o posto de pioneiro com Leandro Fracasso, precursor de treinamentos da modalidade.

Em 2011, o pai de Eduardo foi o 30º colocado na estreia do Brasil em um Mundial. Um ano depois, uma crise administrativa impactou a CBDG e Emílio foi nomeado interventor após acusações de corrupção na gestão do mandatário anterior. Em 2016, ele assumiu formalmente a presidência da entidade, da qual ainda faz parte.

Como já noticiou o Diário Popular, os Strapasson não são os únicos rio-grandinos em destaque no skeleton. Também nascida na cidade, Nicole Silveira, 29 anos, ficou na 11º posição do Mundial 2023. Com o 13º lugar nas Olimpíadas de Inverno em 2022, em Pequim, ela registrou o segundo melhor resultado do Brasil na história do evento. Nicole mora no Canadá.

Jogos de Inverno

A 4ª edição dos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude contará com aproximadamente 1,9 mil jovens atletas competindo em 81 eventos de sete esportes e 15 disciplinas. O Brasil iniciará o evento com uma marca importante: o recorde tanto no número de atletas (17), quanto de modalidades das quais tomará parte (sete) - skeleton, bobsled, esqui cross country, curling, snowboard, esqui alpino e patinação velocidade.

Além de Eduardo Strapasson, o outro brasileiro no skeleton é Cauê Miota, 15 anos.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Com três ausências, Brasil segue preparação com novo treino na Arena Marini Anterior

Com três ausências, Brasil segue preparação com novo treino na Arena Marini

Gabriel Oliveira, goleiro do Brasil: “Ambiente muito legal de trabalhar” Próximo

Gabriel Oliveira, goleiro do Brasil: “Ambiente muito legal de trabalhar”

Deixe seu comentário