O Remar para o Futuro tem levado o nome do esporte de Pelotas ao mundo inteiro. Constantemente, o Diário Popular noticia conquistas de atletas do projeto em nível estadual, nacional, continental e até mesmo mundial. Já que nesta quarta-feira (26) faltará um ano para o começo dos Jogos de Paris 2024, a conversa é com o coordenador técnico da iniciativa, Oguener Tissot. 

Referência no assunto, Tissot fala do crescente reconhecimento do programa, da perspectiva da participação de remadores formados às margens do Arroio Pelotas nas próximas Olimpíadas, dos pilares técnicos para o sucesso do Remar, da equipe multidisciplinar e, também, do futuro. A seguir, os principais trechos da conversa.

O remo é hoje um dos principais expoentes do esporte de Pelotas. Como tu enxerga esse reconhecimento?
Estou envolvido diretamente com a modalidade desde 1994. Durante esses quase 30 anos, realizei muitas pesquisas sobre o esporte, em especial sobre o remo em Pelotas. Não foi difícil encontrar matérias sobre remo em jornais antigos de Pelotas, em especial dos anos 60 e 70. Isso sempre me despertou uma inveja boa em relação à forma como o remo era reconhecido e valorizado pela população da cidade através de participações em competições municipais e estaduais. A partir daí sempre me questionei sobre o que teríamos que conquistar para novamente alcançar tal visibilidade na mídia local. E a partir de um trabalho sério, árduo, hoje nosso esporte, através do Remar para o Futuro, alcançou grandes resultados em nível regional, nacional e internacional e consequentemente o reconhecimento que sonhamos. Não imaginávamos que seria em tão pouco tempo, são oito anos de projeto. Isso, comparado a mais de um século do esporte em Pelotas, pode parecer pouco, mas nesse breve período conquistamos os resultados mais significativos do remo da nossa região. O reconhecimento e a valorização do nosso esporte e projeto pela mídia e pela população podem ser definidos como a realização de um sonho.

Falta um ano para os Jogos de Paris. Hoje, qual é a perspectiva de atletas pelotenses, ou com passagem pelo Remar, estarem presentes nas Olimpíadas?
Participar dos Jogos Olímpicos é um objetivo comum de todos os atletas que pertencem ou já pertenceram ao Remar para o Futuro. A principal competição que precede os Jogos Olímpicos são os Jogos Pan-Americanos, que ocorrem em outubro desse ano. Embora todos atletas da primeira geração do projeto ainda sejam muito jovens (todos ainda da categoria sub-23), atualmente quatro jovens estão participando de um processo seletivo para integrar a equipe que defenderá o Brasil no Pan-Americano desse ano: Piedro Xavier, Mariana Macedo, Shaiane Ucker e Helen Belony. A conquista da vaga em alguma classe de barcos para defender o Brasil no Jogos Pan-Americanos e a conquista de uma vaga seguida de um resultado significativo no Pan poderá ser um forte indicador da participação de um desses atletas nos Jogos Olímpicos de 2024. Isso não descarta a possibilidade de um desses ou outros atletas remanescentes do projeto também tentarem a vaga em outras regatas de qualificação olímpica.

Quais são os pilares técnicos e comportamentais do Remar para o Futuro pra alcançar resultados tão significativos?
Gostar de remo; treinar para se divertir; aprender a treinar; treinar para competir; e treinar para vencer. Desde o princípio do projeto até os dias atuais, toda equipe técnica e de suporte do projeto fortalece um sistema de crenças em todos os jovens atletas do projeto. Acreditamos que esse forte sistema de crenças, baseado na excelência, que vai desde boas notas no colégio, assiduidade e contínua melhora nos treinos e avaliações, aliado a um grande embasamento científico que alicerça todo planejamento de curto, médio e longo prazo no processo de formação dos nossos atletas, gera resultados positivos da nossa metodologia. Tudo isso somado a dedicação, paixão e comprometimento de uma grande equipe técnica e de suporte (coordenadores, treinadores, pais, instituições parceiras e realizadores do projeto) resultam no que denominamos Família Remar para o Futuro. Mais que um projeto, somos uma grande família.

Existe uma equipe técnica por trás de tudo, em parcerias com universidades, e, aliado a isso, o Arroio Pelotas à disposição. Tu acredita que a cidade de Pelotas tem características únicas pra alavancar o projeto?
A parceria com a UFPel nos proporciona ter como Coordenador Geral do projeto um dos principais nomes do Brasil e da América do Sul em se tratando de treinamento desportivo, Fabrício Boscolo Del Vecchio. Ele vem fazendo uma diferença significativa nas mais diversas modalidades esportivas desde que chegou à cidade. A nossa equipe multidisciplinar conta com fisioterapeutas (da UCPel) dentista, nutricionistas, professora de yoga, professor de natação e apoio do Poder Público. No remo, em especial a sede Aníbal Vidal, do Centro Português, nos proporciona acesso direto ao Arroio Pelotas a partir do nosso centro de treinamento. Arroio sinuoso, com condição perfeita de água para o aprendizado do remo. Além do arroio, acessamos rotineiramente o canal São Gonçalo, que nos proporciona águas mais “revoltas” com correnteza e vento, além de, dependendo da época do ano, água salgada ou doce, fria ou quente. Características que, somadas, fazem toda diferença na formação plena de atletas para as mais diversas situações.

E pro futuro, qual tua perspectiva sobre o que será do Remar? O remo pode crescer ainda mais por aqui?
Temos grandes perspectivas para o projeto. Hoje conquistamos reconhecimento nacional no processo de formação, sendo reconhecidos pela Confederação Brasileira de Remo como um dos principais celeiros no processo de formação de atletas para a Seleção Brasileira. Mas queremos alçar voos mais altos, envolvendo ainda mais o Poder Público, empresas locais, universidades, pessoas e instituições parceiras. Acreditamos que temos capacidade de manter atletas de categorias sub-23 e quem sabe adultas representando a cidade. Atualmente “exportamos” atletas que alcançam a maioridade para grandes clubes do Brasil, em especial para o Flamengo, clube com o qual mantemos convênio. Alguns atletas posteriormente migram para outros grandes clubes do País. Também já fomos procurados por mais de uma universidade dos Estados Unidos, ofertando bolsas de estudo para os nossos atletas devido ao rendimento apresentado em testes, assim como após serem vistos por olheiros em Campeonatos Mundiais Júnior. Isso tudo nos leva a crer que com contínuo apoio do Poder Público e também protocolando mais projetos em âmbito municipal, estadual e nacional, podemos tornar verdadeiro o sonho de ampliar nossas instalações junto ao Centro Português e Prefeitura de Pelotas através de aquisição de equipamentos (barcos, remos e remos ergômetros) e estrutura física para que possamos oferecer aos atletas das categorias sub-23 e sênior condições de treino similares a de grandes clubes das principais metrópoles do Brasil.