Acolhimento

25 anos de plantar a semente e fortificar

Caex completa 25 anos de auxílio a dependentes químicos

Carlos Queiroz -

É bonito, trabalhoso e muito sério plantar uma semente na terra. É preciso cuidar para que ela germine, cresça e seja forte e independente. Mas, com carinho e atenção, as chances de sucesso são grandes. Hoje, a Casa do Amor Exigente (Caex) completa 25 anos de atuação junto a dependentes químicos.

Nestas duas décadas e meia, mais de duas mil pessoas já passaram pelo local. Mil terminaram o tratamento, que hoje tem duração de um ano e, destes, 37,82% continuam limpos. Atualmente, 48 vagas são disponibilizadas: dez pelo Governo do Estado, 12 através da Prefeitura e 26 tem origem particular. Destas 48, 40 estão ocupadas atualmente e existe uma média de dez internações mensais.

O tratamento dentro do Caex utiliza a mudança de comportamento como foco. Os abrigados cuidam da casa, tratam dos animais, têm acompanhamento psicológico e recebem orientação de acordo com os "12 passos" - programa criado nos Estados Unidos, em 1935, voltado à discussão e compartilhamento de histórias, vitórias e derrotas. Nos primeiros seis meses, o abrigado não sai da casa. No semestre posterior tem início a reinserção social.

Mudanças

Nestes 25 anos, algumas coisas mudaram no Caex. A principal delas é o perfil atendido. Se nos anos 1990 e 2000 os abrigados eram predominantemente alcoólatras e adictos de cocaína, a partir de 2010 o crack passou a ser o principal adversário. "Em decorrência dele, eles começaram a vir mais debilitados, pelo que o dependente de crack se submete a fazer. É sorrateiro. A pessoa acha que experimentar uma vez não vai dar em nada. Mas sempre dá", comenta o coordenador terapêutico da casa, José Adelberto Bordin Júnior.
Outra mudança, e essa é positiva, é o aumento da percepção de que a dependência é um problema de saúde pública e, também de que a família é co-dependente e adoece junto. "É preciso que pais e filhos sejam tratados junto. Porque o dependente usa artimanhas para conseguir o que quer. A família tem que dar limites", afirma a psicóloga Gicelma Kaster, que assumiu o cargo no Caex há dois meses.

Retorno
Quem conclui o tratamento costuma ser muito grato ao Caex. E a gratidão, muitas vezes, se reverte em auxílio. Atualmente, sete ex-abrigados trabalham no local, nas mais diferentes frentes. O próprio Bordin Júnior é um exemplo. Usuário de álcool desde os 13 anos, com 22 ele chegou ao Caex após perder o pai, responsável por o inserir no que o coordenador terapêutico da casa chama de "vida desregrada." Após o ano de internação, começou estágio e hoje é quem auxilia os abrigados. "Passar a minha experiência é bom porque identifico o que eles fazem e consigo conversar. É um fortalecimento mútuo, eu e eles", completa. Por incentivo do Caex, ele atualmente cursa Enfermagem na Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

O paralelo entre o processo de desintoxicação e a lida com a terra é de Everton Rodrigues Rosa. Usuário de drogas - entre elas o crack - por 20 anos, ele acumula diversas tentativas e alternativa para deixar o vício. Encontrou no Caex, em 2016, uma oportunidade. Após uma recaída, completou no último outubro o ciclo de um ano, muito por ter, finalmente, encarado o problema como doença. Hoje ele cuida da horta. Produção totalmente orgânica que serve como alimentação da casa e fonte de renda para o projeto, que também recebe verba do Sistema Único de Saúde (SUS) e das internações particulares.

Na luta

Ítalo (nome fictício), oriundo de São Borja, também iniciou o vício em bebida na adolescência. Após frustradas tentativas de vencer a doença por conta própria, ele há cinco meses entrou no Caex. "A gente chega perdido, sem perspectiva alguma e precisa continuar a vida. Os coordenadores são a ferramenta, mas nós mesmos temos que agir", comenta.

 

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