Desolação no campo

A cada dia cresce o impacto da estiagem na região

Perdas na zona rural já ultrapassam os R$ 663 milhões; aponta relatório da Emater

Paulo Rossi -

A cada dia a estiagem faz crescer a desolação na Zona Sul. Campos torrados. Lavouras perdidas. Cacimbas e poços artesianos esgotados. Açudes transformados em solo seco. As perdas na agricultura e na pecuária se acumulam. É o que demonstra o último relatório da Emater: os prejuízos ultrapassam R$ 663 milhões na região.

E se a perspectiva de poucas chuvas para os próximos dias se confirmar, Pelotas deve engrossar a lista dos municípios em situação de emergência. Até a tarde de sexta-feira (23), 15 cidades da região haviam decretado. E não é para menos. O número de atingidos também não para de disparar: já são quase 27 mil famílias afetadas diretamente pela seca na Zona Sul.

"Estamos monitorando diariamente a situação. Na terça teremos nova reunião de avaliação com a administração dos distritos, mas o indicativo, até agora, é por decretar", afirma o secretário de Desenvolvimento Rural de Pelotas, Jair Seidel.

Cenário de angústia e incerteza
O jovem Rafael Tuchtenhagen, 27, caminha pela lavoura de milho e confere o rastro de prejuízos. Em condição favorável, o morador de Cerrito Alegre - 3º distrito - deveria desaparecer entre os milhares de pés com cerca de 2,5 metros de altura. Não é o que acontece. Grande parte não chega nem no ombro do produtor. A estimativa de colher em torno de 50 toneladas por hectare já não existe. Hoje, em perspectiva otimista, a produção poderá beirar as 20 toneladas por hectare.

E o pior: a família não possui seguro para se ressarcir das perdas. "Seguro é o bolso do cara rebentado agora", desabafa. Com os poços praticamente secos e as pastagens comprometidas, é a produção de leite que encolhe. E muito. A média diária de 400 litros - entre os 39 animais em ordenha - despencou para um máximo de cem litros.

O jeito tem sido recorrer a duas alternativas: levar o rebanho para saciar a sede em uma sanga que passa atrás da propriedade e investir em farelo e ração para compensar a alimentação escassa no campo. "É o que tem dado para fazer, mas nem conseguimos calcular os prejuízos. A gente acaba ficando no vermelho", preocupa-se.

Afinal, as perdas também se estendem às verduras. Dos 27 mil pés de brócolis e de couve-flor semeados, só restaram sete mil para comercialização. E, de novo, dói no bolso. "É difícil. A gente tem que se virar que nem minhoca na cinza quente", procura descontrair o sogro, Ildoneu Henke, 55.

Saiba mais 
* Algumas ações do Governo do Estado que podem vir na carona dos decretos
- Disponibilização de caminhões-pipa para abastecimento de água das comunidades
- Liberação de maquinário para perfuração de poços artesianos e de açudes
- Instituições bancárias, como Banrisul, Badesul e BRDE devem avaliar a prorrogação de prazos para o pagamento de financiamentos dos pequenos agricultores

* Investimentos em abastecimento de água
Cerca de 500 famílias de Pelotas, moradoras de distritos como Quilombo e Santa Silvana, devem ser beneficiadas por obras de abastecimento de água. A construção de seis redes e a abertura de poços artesianos devem ser financiadas por verbas do Ministério de Desenvolvimento Social, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) - destaca o secretário de Desenvolvimento Rural. Ainda não há, entretanto, data definida para os projetos saírem do papel.

* A palavra da Defesa Civil Regional
O dano humano é um dos aspectos que tem pesado na hora de a Defesa Civil Estadual definir se homologa ou não os decretos de situação de emergência - ressalta o coordenador regional, sargento João Carlos Domingues. Desde a instrução normativa de dezembro de 2016, não há mais um percentual mínimo de comprometimento da Receita Corrente Líquida dos Municípios para que as prefeituras possam decidir pelos decretos.


Conheça alguns dados do relatório da Emater 
* Municípios da Zona Sul com situação de emergência decretada
- Turuçu
- Candiota
- Cerrito
- Piratini
- São Lourenço do Sul
- Herval
- Santana da Boa Vista
- Pinheiro Machado
- Jaguarão
- Pedro Osório

* Com decreto homologado e reconhecido
- Amaral Ferrador
- Morro Redondo
- Pedras Altas
- Canguçu
- Arroio do Padre

* Não identificaram perdas significativas ou problemas devido à estiagem
- Tavares, Chuí e Santa Vitória do Palmar

* Estão na iminência de decretar
- Pelotas, Capão do Leão e Arroio Grande

* Outros municípios que decretaram e estão na área de cobertura da Defesa Civil Regional
- Cristal, Camaquã, Dom Feliciano e Chuvisca

O impacto na Zona Sul
* Famílias atingidas: 26.957
* Famílias sem abastecimento de água: 1.355
* Produtores rurais de grãos atingidos: 14.458
* Produtores de tabaco atingidos: 9.950
* Produtores de leite atingidos: 2.927
* Produtores fruticultores atingidos: 604
* Produtores olericultores: 1.464
* Prejuízo total: R$ 663.749.968,15

* Perdas nos principais grãos cultivados - em toneladas
- Soja: 320.632,2
- Milho: 100.158,81
- Milho para silagem: 57.199,67
- Feijão: 999,7
Prejuízo: R$ 378.572.686,95

*Tabaco: 18.132,5 toneladas
Prejuízo: R$ 145.060.240,0

* Fruticultura: 8.403,9 toneladas
Prejuízo: R$ 4.351.280,0

* Olericultura: 7.139,7 toneladas
Prejuízo: R$ 5.837.100,0

* Na pecuária
- Gado de corte: 21.916.235,7 quilos
- Gado de leite: 5.347.758,00 litros
Prejuízos: R$ 129.928.661,20

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