Histórica

A casa fúnebre mais antiga do Brasil está em Pelotas

Em funcionamento desde 1882, a Pompas Fúnebres Moreira Lopes resiste ao tempo e à concorrência

Foto: Jô Folha - DP - Fachada da Pompas Fúnebres Moreira Lopes foi reformada em 1932

Neste dia de finados, muitas pessoas que homenageiam seus entes queridos acabam por contemplar as belezas dos jazigos, principalmente no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula. Por trás dos mausoléus e túmulos com esculturas angelicais estiveram os enterros que muito chamaram a atenção do final do século 19 e início do 20, pelos seus rituais, na rica Princesa do Sul. Foi nesse período que surgiu a funerária que agora é mais antiga em funcionamento no Brasil.

A escrita já revela a época: "Empreza de Pompas Funebres Moreira Lopes", marca estampada no prédio do Centro Histórico de Pelotas, em estilo art nouveau, resiste ao tempo e à concorrência. Desde 1882 realiza enterro de ilustres e de desconhecidos cidadãos pelotenses, mantendo a tradição da negociação direta com os familiares no momento difícil do luto. Pelo tempo em funcionamento e por ser Patrimônio Cultural de Pelotas e, mais recentemente constituir bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Conjunto Histórico de Pelotas, já foi tema de documentário da UFPel e de livro da historiadora Zênia de Leon.

O prédio é uma volta ao tempo em que Pelotas era destaque no Brasil por sua riqueza e opulência. A fachada não é original, foi reformada em 1932 e recebeu todo o requinte do movimento artístico francês, incluindo o cimento penteado, com adornos e as aberturas em madeira e vidros. Por dentro, a edificação preserva o madeiramento, sendo que o mezanino é tombado. Já os grandes armários nas laterais serviam de exposição dos caixões, mas hoje sofrem com a ação do tempo. Já na terceira geração, o atual proprietário André Luiz Duarte Luz, 42, conta que está elaborando um projeto, através da Casa de Cultura de Pelotas, que fica no Clube Caixeiral, para que as carroças que faziam os enterros das mais abonadas celebridades do tempos das charqueadas - um preto e um branco - sejam levadas para a casa fúnebre, pois é parte integrante da história de Pelotas. "A carruagem preta hoje está na Secult. A branca está guardada, pois precisa ser restaurada, em função dos cupins. Já a mais pomposa, dizem que sumiu no Rio de Janeiro."

Estilo

A atmosfera fúnebre instiga ainda mais a curiosidade de quem conhece o espaço. Para quem lida com a morte diariamente, como André e como foi seu pai, Loir Louzada, personagem do documentário da UFPel, a prioridade é dar liberdade à família enlutada para escolher as condições do enterro, o caixão e a forma de pagamento, mantendo a palavra do preço combinado. "Aqui temos caixões dos mais luxuosos aos mais simples, para os enterros assistenciais", explicou Luz ao se referir o fato que muitas pessoas deixam de procurar a empresa com a impressão de que é só para os ricos.

Raridades

Embora seja um tanto mórbido, tem ataúdes que são verdadeiras obras de artes, esculpidos em madeira. Um exemplar tem mais de 60 anos e ainda é forrado com veludo e renda em azul marinho e turquesa. Os mais modernos são revestidos em cetim branco, com a possibilidade de tampa móvel. Ainda entre os modelos, André Luz mostra os personalizados com motivos religiosos. "Tem os brancos que geralmente são para as virgens, seguindo tradição da carruagem branca que levava também e crianças, ou para quem é de religião", explicou. Por manter a tradição e preservar a história da cidade, a Pompas Fúnebres recebeu o troféu Destaque da Casa de Cultura de Pelotas.

Entre as relíquias guardadas pela empresa estão as mãos em madeira ou em bronze com um lenço pendurado que eram usadas em frente às casas. "Conforme o tipo do lenço ou cor, identificava qual familiar, como mãe, filho ou o patriarca." Nas paredes em madeira, os quadros revelam os rituais dos cortejos, ou seja, quanto mais cavalos, mais ricos eram os mortos. Ainda pelos costumes do passado, a funerária tem túmulos para durar pela eternidade, que são geralmente adquiridos para jazigos perpétuos, além de ossários para quem faz exumação.

Ao longo dos 142 anos de atividade André não faz ideia de quantos enterros já foram realizados, mas as fotos e as escrivanias (muitas cobiçadas por cariocas que já visitaram o local) revelam que foram muitos. Entre os pomposos e os mais simples, Luz conta que o mais temido eram os bate-bates, quando o corpo era levado em uma carroça com dois cavalos. "Até pouco tempo, se fazia a cova, às vezes estava cheia d'água, e ali colocava o caixão", comentou. Com sepultamentos bem mais dignos atualmente, o proprietário revela sua admiração pelos rituais e costumes de algumas etnias. Com o filho de nove anos já demonstrando interesse pelos negócios, ele promete manter a tradição da Pompas Fúnebres por muitos anos.

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