1º de abril

A perna é curta, mas o reflexo é grande

Mentiras espalhadas através de notícias falsas e boatos mostram que efeito negativo na sociedade pode ser irreversível

Vamos iniciar essa reportagem pelo óbvio: a mentira sempre existiu. Porém, o que serve como brincadeira no 1º de Abril ganhou novos contornos e você já deve ter notado. Está cada vez mais difícil entrar nas redes sociais e não dar de cara com uma notícia ou boato suspeito. O assunto é tão sério que influencia eleições fora do país e, em Pelotas, chegou a esvaziar ruas.

Em 4 de agosto de 2016, uma fuga de detentos após a queda do muro do presídio fez com que alertas se espalhassem pelas redes sociais com notícias falsas afirmando que bandidos promoviam assaltos e arrastões. O resultado: lojas e mercados fecharam as portas. Pouca gente se animou a sair às ruas naquela tarde e foi preciso até que a página do Diário Popular no Facebook refutasse os boatos e fake news através da checagem com as autoridades de segurança.

Subcomandante do 4ª Batalhão de Polícia Militar e professor de Tecnologia em Segurança Pública da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Márcio Facin lembra do caso e diz que o problema é cada vez mais comum. “Essas notícias e informações falsas preocupam, pois se espalham e causam sensação de insegurança e medo à comunidade”, alerta, ressaltando o tempo investido para confirmar a falsidade e evitar danos piores.

Ano eleitoral, preocupação redobrada
Não são apenas alertas infundados que trazem prejuízo social. Em período de embate político, boatos e notícias manipuladas, infelizmente, tornam-se mais presentes e podem pesar na hora do voto. Tanto que uma das maiores democracias do mundo, os Estados Unidos, enfrentam acusações de interferência das fake news na eleição do presidente Donald Trump e têm dificuldades para lidar com o problema. No Brasil, políticos temem que a interferência se repita em um cenário de forte acirramento da disputa entre esquerda e direita.

Pré-candidatos a vagas na Câmara dos Deputados, os vereadores Ivan Duarte (PT) e Daniel Trzeciak (PSDB) discordam em muita coisa no campo ideológico, mas dividem a mesma opinião sobre a propagação de notícias falsas. Para eles, ainda há desconhecimento sobre como lidar com as fake news. “Empresas responsáveis pelos meios, como o Facebook, e órgãos competentes, como a Justiça, devem fiscalizar e punir cada vez mais os crimes na internet. Boatos e notícias falsas prejudicam a todos”, aponta o tucano.

Conforme o petista, muitos dos conteúdos são difíceis de ser identificados pela maioria das pessoas como fictícios ou manipulados. Duarte admite que já divulgou material acreditando ser verdadeiro. “Fui avisado e apaguei, não passei adiante. É isso que todos deveriam fazer, alertar quem compartilha e excluir. Mas isso é uma postura ética de cada um e quando existe má-fé a Justiça deve agir.”

Dicas para identificar uma notícia falsa

  • Verifique a reputação da fonte. Ela é confiável? Tem CNPJ ou jornalista responsável?

  • Desconfie de notícias com fontes de renomados médicos ou especialistas. Verifique se existem mesmo e se são referências em seu setor.

  • Pesquise mais de uma fonte e busque o contraditório, ou seja, se pessoas publicaram o mesmo conteúdo sob ótica diferente.

  • E, principalmente, pense antes de compartilhar sobre a real importância e qual impacto aquilo pode trazer.

Duas perguntas para:
Natália Flores, doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Pernambuco e professora de Teoria do Jornalismo na Universidade Federal de Pelotas

  • As fake news são bastante discutidas pelo impacto que têm em processos eleitorais. Elas são um fenômeno só das redes sociais?

Não são um fenômeno recente. As notícias falsas sempre tiveram espaço, porém agora elas ganharam amplitude. A questão central sobre elas é que cada vez mais pessoas são alcançadas e influenciadas, muitas sem saber que aquele conteúdo é falso.

  • As fake news cumprem hoje na eleição um papel que durante muito tempo foi dos boatos? Qual a diferença entre eles?

A diferença é que as fake news geralmente tendem a parecer verdadeiras. É um discurso que mimetiza a notícia real, o jornalismo de verdade. Isso que a difere de um boato, que é simplesmente uma narrativa que se espalha entre as pessoas, mas sem esse formato de informação.

 

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Doce de leite de Santa Vitória para a região Anterior

Doce de leite de Santa Vitória para a região

Museu da UCPel possui um dos acervos mais valiosos do Brasil Próximo

Museu da UCPel possui um dos acervos mais valiosos do Brasil

Deixe seu comentário