Preocupação
A saúde da mulher em pauta
Tese de doutorado da UCPel levanta questões referentes à depressão e suicídio durante a gravidez
Paulo Rossi -
Um trabalho produzido no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel) aborda uma importante questão de saúde pública. Orientada pela professora Luciana Quevedo, Jéssica Trettim defendeu sua tese de doutorado intitulada "Suicilidade e depressão materna: impacto no desenvolvimento infantil". O estudo, que envolveu 980 gestantes e 535 crianças de 24 a 36 meses, tem como objetivo levantar a bandeira da saúde mental e deixar claro que é necessário falar sobre suicídio em um período tão vulnerável que é a gravidez.
A estudante de 28 anos se formou no curso de Psicologia em 2013. Passou pelo mestrado durante dois anos e, já no terceiro ano, estava encaminhada para o doutorado. A tese escrita deu origem a dois artigos, "Ideação vs. comportamento suicida: a gestação como um fator de proteção para novas tentativas" e "O papel da saúde mental materna no desenvolvimento infantil". Este último, por sugestões da banca avaliadora, terá o título alterado. Isso porque Jéssica quer mostrar que não se deve culpabilizar a mãe. A gestação é uma fase na qual há uma grande tendência de aparecimento de problemas psicológicos, uma vez que a mulher sofre com mudanças comportamentais, hormonais e sociais. É um período de extrema vulnerabilidade. E a saúde mental é um tema pouco discutido por profissionais, porque, segundo Jéssica, não há espaço para isso. Um ambiente confortável e acolhedor precisa ser oferecido às mulheres, deixando-as à vontade para falar abertamente sobre seus mais diversos pensamentos. A não aceitação externa impede que muitas gestantes admitam que fazem uso de certas substâncias como tabaco, por exemplo. Falar sobre suicídio, então, amedronta ainda mais. "É difícil falar que está tendo esses pensamentos", pontua.
Uma parte do estudo demonstra que a depressão e o risco de suicídio que afeta a grávida podem acarretar menor desempenho socioemocional nos filhos. A longo prazo, eles podem desenvolver ansiedade, fobias e apresentar dificuldade na hora de se relacionar com as pessoas. O pós-parto e o desenvolvimento infantil também são fases que precisam ser acompanhadas. A mulher que possui transtornos psicológicos durante a gestação pode apresentar dificuldades na hora de lidar com o recém-nascido. Jéssica explica que as crianças se desenvolvem praticamente sozinhas, mas, ainda assim, precisam de estímulo. A outra parte, por sua vez, mostra que, em grupo de 13 gestantes, 10% apresentaram a chamada "ideação suicida" e 1,3%, o "comportamento suicida", ou seja, tentaram cometer suicídio. Duas gestantes nunca haviam tentado se suicidar - o que representa uma baixa incidência - , enquanto que as outras 11 já, mas em fases diferentes da vida. A gravidez, portanto, é um fator de proteção para novas tentativas.
Jéssica ressalta que visa difundir a ideia de que falar sobre suicídio é uma questão de saúde pública. "O suicídio ainda é um tabu", afirma. É preciso se trabalhar com a importância do diálogo e fazer com que esse tema chegue aos profissionais, principalmente durante a gravidez, pois envolve riscos às mulheres e aos bebês. Além disso, a população como um todo precisa estar ciente da importância de estar atento a todos os tipos de sinais. A identificação precoce da existência de pensamentos suicidas pode incentivar a busca por tratamento, a fim de tentar minimizar os problemas causados. Ao contrário do que algumas pessoas acreditam, falar sobre suicídio não incentiva a prática. Em um momento tão sensível como a maternidade, os olhos precisam se voltar à saúde mental da mulher. "A gestante precisa desse cuidado", justifica.
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