Saúde
A tensão de quem aguarda por cirurgia
Crise financeira dificulta andamento da fila de quem espera por procedimentos na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas
Paulo Rossi -
A mala está feita e do lado da porta. Ela espera apenas chegue o dia em que a aposentada Luciana Cousen, de 71 anos, consiga, enfim, a cirurgia para colocação de uma prótese no joelho direito. Mas não existe previsão para que isso aconteça. A idosa aguarda na fila para operações da Traumatologia, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na Santa Casa de Misericórdia, cujo andamento é lento desde o fim do ano passado.
Luciana esperou 12 anos até conseguir a primeira cirurgia pelo SUS - uma prótese no joelho esquerdo, para substituir a cartilagem. Em janeiro de 2018 a operação foi realizada, mas não sanou o problema: faltava o direito e, com contrabalanceamento que tem de fazer, o que passou pelo processo já começa a ficar novamente debilitado.
Foi por conta do problema que ela teve de se aposentar por invalidez há 11 anos. Hoje, por conta das dores, é praticamente impossível sair de casa, embora a ajuda das pessoas próximas seja constante. “A gente trabalha a vida toda para chegar na velhice e conseguir aproveitar, visitar a família, mas não recebe nada em troca. É uma falta de consideração”, lamenta. Luciana tem dois filhos e três netos e é quando fala deles que sorri.
Quem também aguarda por cirurgia na Traumatologia é o pedreiro Luís Carlos da Silva, de 72 anos. Após cair de uma escada, ele quebrou o fêmur, está na espera há dois meses e se encontra internado desde então. Sem ter como levantar da cama, ele foi diagnosticado recentemente com depressão.
De acordo com o atual provedor da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, Lauro Ferreira, o problema da Traumatologia é o mesmo do hospital como um todo: o atraso nos repasses mensais de R$ 338 mil do governo do Estado. No último dia 10, a parcela de julho foi paga. Agosto, setembro e também outubro ainda não chegaram. A situação ocorre desde o final de 2017.
Sem precisar a queda, Ferreira diz que, por conta da escassez de recursos de um dos serviços cujo funcionamento é mais caro, estão sendo realizadas apenas cirurgias em pacientes com caso considerado urgente ou emergente. “Quando há risco de morte, consideramos prioritário e os eletivos são adiados.”
Raios X
No início da semana, outro problema envolvendo a Traumatologia atingiu a Santa Casa. O aparelho de raios X, imprescindível para exames feitos nos pacientes, teve pane e parou de funcionar. Ferreira, entretanto, afirma que os reparos já foram feitos e o equipamento está novamente disponível.
Audiência pública
O gabinete do vereador Marcus Cunha (PDT) e o Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saúde de Pelotas (SindiSaúde-Pel) realizarão hoje, às 19h, uma audiência pública no plenário da Câmara Municipal de Pelotas. Na pauta, as más condições de trabalho dos funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas.
Negociação
A situação da Traumatologia em Pelotas pode se agravar a partir do fim de novembro, quando termina o contrato entre prefeitura e Santa Casa de Misericórdia, atual prestadora do serviço pelo SUS na cidade. Por conta de diferença entre as propostas de valores, a renovação ainda não foi firmada.
De acordo com a titular da Secretaria de Saúde, Ana Costa, as duas partes seguem em negociação e o governo aguarda retorno da Santa Casa sobre o assunto. “Quando se negocia uma contratualização como essa, existem questões jurídicas e financeiras, uma série de pontos a serem tratados um por um.”
Sobre o caso, o provedor da Santa Casa, Lauro Ferreira, disse ao Diário Popular que hoje será apresentada uma proposta de renovação do SUS para a prefeitura. “A continuidade da prestação do serviço de Traumatologia está inclusa.”
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