O cronometro apontava apenas três minutos. Era o tempo dado para resumir uma tese, longe dos termos usuais aplicados nos laboratórios e bibliografias. O trabalho de anos de estudos e pesquisas em apenas 180 segundos, diante de uma comissão avaliadora e quase duas centenas de pessoas, em um auditório completamente lotado no Campus das Artes. Foi diante deste cenário que 17 doutorandos representando os 27 programas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) apresentaram-se na primeira edição do 3MT - Sua tese em três minutos, dentro da programação da 4ª Semana Integrada de inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (Siiepe).

A grande vencedora, escolhida pela comissão de avaliação, foi a estudante Franciéle de Souza Masiero, formada em Enfermagem e ligada ao Programa de Pós-Graduação em Parasitologia. Em 2º lugar ficou Cácia Signori, da Odontologia. A escolhida pelo público foi Paola de Oliveira Camargo, da Enfermagem. Elas receberam, respectivamente, R$ 2 mil, R$ 1 mil e R$ 500,00, a serem usados no ano de 2019 em auxílio-evento.

A empolgação da plateia, que demonstrou ter comprado a ideia e abraçado a iniciativa, traduzia o sucesso do evento. A iniciativa surgida na Universidade de Queensland, Austrália, há dez anos era inédita em Pelotas. O público trancava a respiração conforme o cronômetro ia aproximando-se dos segundos finais e os alunos esforçavam-se para ser o mais concisos e diretos para explicar a uma comunidade que desconhecia o tecnicismo daquele assunto, utilizando-se de termos mais comuns. Esta é, afinal, a base do 3MT. Deixar claro, em três minutos, a importância de sua tese para o público leigo. Uma oportunidade de dar transparência ao trabalho da universidade, demonstrando a importância de todo o investimento público em pesquisas que em um futuro próximo gerarão impacto social e econômico.

As premiações
As temáticas eram das mais variadas. Iam desde os impactos da inflamação na fertilidade de bovinos, apresentado por um aluno da Veterinária, até o uso de drones em plantações, vindo de um acadêmico da computação. As teses andavam por campos que abrangiam Ciências Humanas, Agrárias, Exatas, da Saúde e tinham aplicação em inúmeros meios.

A grande vencedora, Franciéle de Souza Masiero, trouxe o tema "Larvas de dípteros (Arthropoda: Insecta) para o tratamento de lesões tegumentares: uma abordagem multissistêmica". Enfrentando o desafio de traduzir para uma linguagem simples, ela explicou que a iniciativa consiste em utilizar-se de larvas de uma mosca específica para ajudar na cicatrização de lesões nos tecidos da pele de pessoas que possuem feridas crônicas. "Foi um grande desafio, a gente está acostumado a usar os nossos jargões", reconhece.

O interesse pelo tema surgiu em uma aula sobre terapia larval. Nos últimos seis anos, Franciéle estudou o tema e formulou um gel a partir das secreções dessas larvas, visando a romper o nojo e a repulsa causada pela presença dos insetos até o momento. "É um tratamento eficaz e barato e que vem gerando resultados espetaculares", garante, ao explicar que os testes já são feitos em cães. Sem esconder a felicidade, comemorou o novo passo na pesquisa, de uma linha restrita, mas que considera vir se demonstrando eficaz para, em breve, ser aplicada em humanos.
A segunda colocada, Cácia Signori, expôs o tema "Diagnóstico de cárie ao redor de restaurações e decisão de tratamento", que demonstrava como pode-se melhorar o tratamento de obturações dentárias que se confundem com cáries. A escolhida do público, Paola de Oliveira Camargo, apresentou a tese "Relações de trocas no território da Cracolândia (SP)", tendo convivido e analisado como funciona o trato com o público usuário de crack através de diferentes óticas.

Legado para a universidade
O reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, reforçou o compromisso social do evento. Ele já espera realizar outras edições e sonha com um momento em que todas as teses estarão sumarizadas em termos mais acessíveis para o público em geral. O exercício de analisar o que realmente importa para a sociedade foi comemorado pelo reitor. "As pesquisas são feitas muitas vezes para o próprio pesquisador", aponta, ressaltando a importância de pensar também fora da bolha do meio científico.

Ambos os trabalhos escolhidos pelos avaliadores trazem tanto impacto social quanto da redução de gastos, analisa o Coordenador de Pós-Graduação da UFPel, Rafael Vetromille Castro. Ele ressalta que esta é uma prova da capacidade de produção da UFPel. "O público comprou a ideia, se envolveu", comemora. Para o coordenador de Pesquisa, Marcos Britto Correa, o objetivo foi cumprido e conseguiu-se demonstrar à comunidade que a universidade tem produzido resultados de relevância nos meios sociais e mercadológicos.