Evitar o primeiro gole de 24 em 24 horas. Esse é um dos lemas que José* traz em sua vida desde que entrou pela primeira vez em uma reunião do Grupo 20 de Outubro de Alcoólicos Anônimos (AA) em Pelotas, 25 anos atrás. Neste sábado (9), data que marca o Dia do Alcoólico Recuperado, o Diário Popular traz a história de quem encontrou o caminho da sobriedade e detalha como funciona o trabalho de acolhimento do AA. 

“É uma doença mental, física e espiritual. A gente começa a perder o controle da nossa vida, quem manda é o álcool. Se perdem oportunidades profissionais, sociais, convívio da família”, define José sobre o vício. Ele relembra, ainda, o caminho que o levou a buscar ajuda. “Eu não vi meus filhos crescerem porque estava nos bares e botecos da vida. Estava com a vida destruída. Já tinha perdido um casamento e estava prestes a perder o segundo”, lamenta.

Convidado por um amigo que já frequentava o AA, a identificação com os companheiros incentivou José a dar o primeiro passo. “As histórias contadas pelos outros falavam das reviravoltas que a vida tinha dado depois de entrar no AA. Me identifiquei muito com a história deles e queria ter uma vida melhor sem uso do álcool também”, comenta. José destaca que a luta é contínua, mas transformadora. “Foi muito difícil, porque o vício do álcool é uma doença. Sou portador de uma doença lenta, progressiva, fatal e incurável. Nunca vou deixar de ser um alcoólico. A diferença é que não estou doente porque não estou ingerindo”, explica.

Identificação e acolhimento

Em mais uma das reuniões semanais abertas do grupo pelotense, a reportagem testemunhou a força que ser escutado tem na luta contra o alcoolismo. Entre cerca de 15 pessoas, relatos de diferentes histórias de homens e mulheres que dividem o mesmo caminho de recuperação e, também, o mesmo sentimento de acolhimento. “Vim para cá porque sozinho é impossível. Aprendo muito mais ouvindo do que falando”, disse um dos presentes.

Ao redor do mundo, são cerca de cem mil grupos de AA. “O único requisito para participar do Alcoólicos Anônimos é o desejo de parar de beber. A chave do AA é a troca de experiências entre os companheiros. Ninguém é mais ou menos do que ninguém aqui dentro. Não há julgamentos”, enfatiza José. Na irmandade, são sugeridos métodos para que as pessoas consigam superar o vício. “Tem o programa das 24 horas, que consiste em fazer o possível e impossível para não ingerir o primeiro trago nas próximas 24 horas e isso se renova todo dia. Tem também os 12 passos sugeridos para evitar o alcoolismo e evoluir como ser humano”, destaca.

Onde procurar

O Alcoólicos Anônimos está fixado em Pelotas há quase 50 anos. Dois grupos realizam reuniões semanais para alcoólicos e seus familiares. No Grupo 20 de Outubro (rua Gonçalves Chaves, 3.229), as reuniões são diárias, sendo os encontros abertos nas segundas, quartas e sextas-feiras. O Grupo São José, que funciona junto à paróquia São José, no bairro Fragata (avenida Duque de Caxias, 518), realiza reuniões às segundas e quintas feiras. Ambos os grupos se reúnem das 20h às 22h. O contato com qualquer um dos grupos é feito através do número (51) 3226-0618, que pertence ao AA estadual, tem plantão 24 horas e dispõe de informações sobre reuniões em todo o Estado.

​*José é um nome fictício adotado para proteger a identidade do entrevistado.

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