Saúde

Atendimento especializado tem oferta reduzida

Serviços odontológico a crianças com necessidades especiais passam de semanal a mensal

Carlos Queiroz -

Por ano, a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) atende mais de mil pacientes com casos cirúrgicos, de forma gratuita. Dentro desse percentual estão crianças com necessidades especiais atendidas pelo projeto de extensão Acolhendo Sorrisos Especiais. No entanto, no em 2018 o acesso da equipe ao bloco cirúrgico do Hospital-Escola da Universidade (HE) diminuiu de semanal para quinzenal e, posteriormente, uma vez ao mês. O Hospital argumenta que dois problemas justificam o ocorrido e afetam todas as 20 especialidades que dividem apenas duas salas cirúrgicas, a perspectiva é que o serviço retorne ao normal este ano.

Marina Azevedo é a coordenadora do projeto, que existe desde 2010, e lembra que os pacientes necessitam do espaço por conta da dificuldade de realização dos atendimentos clínicos. Os casos mais frequentes são com crianças autistas e com paralisia cerebral. “O paciente chega aqui já no caos”, frisou. No bloco cirúrgico, o manuseio é facilitado por conta da anestesia geral. De acordo com os dados do projeto, entre abril de 2018 e dezembro de 2019, 49 crianças entraram para a fila de atendimentos cirúrgicos. Desses, 11 realizaram o procedimento.

Em 2017, por exemplo, com a possibilidade de utilizar semanalmente a sala de cirurgia, 25 pacientes foram atendidos. Já em 2018, quando o acesso passou para quinzenal, o número caiu para 13. Uma vez não presentes no mapa organizacional do bloco cirúrgico, criou-se uma necessidade acumulada, explicou a professora coordenadora do projeto. O odontólogo da Faculdade responsável pela demanda do bloco, José Ricardo Costa, explica que as avaliações dos pacientes têm validade de seis meses, tempo que, se ultrapassado, exige uma nova consulta.

“O projeto é da Universidade, mas ele atende toda a região. É um problema regional, não é mais um problema interno”, frisou. Além de Pelotas, pacientes de outros municípios da Zona Sul são atendidos pelos profissionais da Faculdade. Ao longo do ano passado, 15 cirurgias foram feitas. “Todas com o bloco agendado do dia pra noite”, explicou Costa. Hospitais da cidade também foram procurados para disponibilizar o bloco, contudo, a resposta não foi positiva.

Sem dores é mais fácil de lidar

Miguel, oito, por exemplo, é de Arroio Grande e foi uma das crianças que puderam passar pelo procedimento cirúrgico no ano passado. Lauriane Borges é mãe do pequeno, que é autista. “O ano de 2019 foi bem tenso e complicado. Ele teve crises de dor tão fortes que precisou ser contido”, contou. Ela explica que já levou o filho em consultas particulares e em Unidades Básicas de Saúde, mas não conseguiu o atendimento efetivo. “Ele não senta na cadeira, não tem jeito. Não aceita de maneira nenhuma.”

Depois do procedimento de extração de dentes cariados e restauração de dentes quebrados, em agosto, a rotina de Miguel ficou totalmente diferente. “Quando ele acordou já era outra criança. Tudo melhorou”, lembra a mãe. Fora as dores, a principal diferença foi no aceitar os alimentos. Antes, ele não bebia água. Agora, pede o líquido para os familiares.

Alisson, 18, passou pela mesma mudança. Ele é diagnosticado como autista não verbal e, assim, o atendimento clínico também é impossível. “Já teve vezes que foram umas cinco, seis pessoas pra segurar ele e não tinha como. Ele tem medo”, afirmou a mãe, Ivani Ludke. Desde que conheceu o projeto, Alisson passou por três cirurgias e, desde os últimos meses, aguarda pela quarta. A maior parte dessas foi de extrações dentárias. 

De acordo com o José Ricardo, a fila, atualmente, é de cerca de três anos de espera aos pacientes.

Problema afeta todas as 20 especialidades do HE 

A chefe da Divisão Médica do Hospital-Escola da UFPel, Cristiane Neutzling, explica que o problema se deu por duas questões. Uma delas foi a extinção do convênio entre o HE e a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas. Antes disso, as especialidades tinham quatro salas cirúrgicas disponíveis para os procedimentos. Com o término da ligação entre as casas de saúde, duas ficaram disponíveis no HE. O pedido de encerramento do convênio foi feito pela Controladoria-Geral da União (CGU).

O fato ocorreu em 2018 e, nessa época, os atendimentos do projeto seguiram semanais, ainda segundo a chefe da Divisão. A outra problemática que justifica a diminuição do acesso começou em dezembro de 2017. Entre o último mês de 2018 e junho de 2019, o HE passou por uma falta de profissionais no corpo de anestesistas do local. Durante os meses, os procedimentos com pacientes oncológicos foram priorizados, juntamente das urgências envolvendo os internados. “A demora afeta mais essas do que outras áreas”, justificou Cristiane.

No início do segundo semestre de 2019, uma empresa terceirizada de anestesia passou a atuar no HE e, assim, os procedimentos aos poucos foram retomados.

Hoje são oito anestesiologistas, enquanto o ideal para atender a demanda são 14. “Mesmo assim estamos adiantados na resolução dessa demanda reprimida”, refere-se a chefe da Divisão aos pacientes de todas as especialidades que o Hospital abarca. A expectativa é que os atendimentos a crianças especiais voltem ao sistema quinzenal este ano, com a perspectiva de se tornarem semanais.

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