Retrato da crise

Cada vez mais pelotenses dependem do governo para viver

Números registrados no município preocupam quando comparados com os do Estado e do restante do país

Carlos Queiroz -

Os números não mentem: Pelotas registrou um aumento de 79,6% entre as famílias que dependem financeiramente dos auxílios do governo federal para viver. E a realidade comprova: Emily Gomes e Alessandra Santos dividem a mesma agonia no final do mês: a de fazer com que os R$ 400,00 recebidos através do Auxílio Brasil - antigo Bolsa Família - sejam suficientes para bancar as despesas básicas delas e dos filhos.

Emily tem 20 anos e é mãe da pequena Maria Luiza, de dois anos e meio. Moradoras do Pestano, mãe e filha dividem uma casa emprestada de três peças. É de lá que no dia 24 de cada mês a jovem sai para ir na lotérica buscar o dinheiro responsável para sustentar a casa. "E depois vou direto pro supermercado", disse, relatando que comprar o básico está cada vez mais difícil. Ela se inscreveu no programa ainda grávida, em agosto de 2019, e em seguida começou a receber o valor através do Bolsa Família. Com a chegada da pandemia foi beneficiada pelo Auxílio Emergencial e agora é uma das mais de 12 mil famílias que recebem o Auxílio Brasil em Pelotas.

Antes da crise sanitária se instalar na cidade, Emily vendia pastéis. Com uma carrocinha na frente de casa ela garantia o sustento da família e, em semanas de boas vendas, conseguia faturar cerca de R$ 700,00. "Com o preço das coisas eu parei de ver o lucro e tive que parar", lamentou. Agora, o que resta é fazer malabarismo com os R$ 400,00, que precisam ser divididos entre contas básicas, alimentos e fraldas. "Eu estou apavorada. Preciso de um serviço e não consegui vaga para a Maria na creche, assim não consigo nem sair para largar currículo", desabafou.

No outro lado da cidade, no loteamento Mauá, mora Alessandra Santos, de 21 anos. Ela é mãe do Kauã, de sete anos, e do Arthur, de quatro meses. Em 2018, quando soube que possuía o direito de se inscrever no Bolsa Família, foi até a Secretaria de Assistência Social (SAS) e conseguiu o benefício. Desde então, passou a juntar o valor recebido do programa com a renda extra proporcionada pelas faxinas que fazia. Porém, com a chegada do pequeno Arthur ficou complicado desempenhar a função, já que precisa cuidar dele em tempo integral. Além disso, Kauã ainda não conseguiu vaga na escola, o que também dificulta o dia a dia da jovem, que mora com os dois filhos. "Está tudo muito caro. Parece que já era ruim e só piora", falou, lembrando que a renda do Auxílio é a responsável por pagar o aluguel, as contas e a comida.

O diagnóstico da SAS

Os números municipais preocupam quando comparados aos do Rio Grande do Sul e aos do Brasil. No Estado, a alta registrada foi de 32,6%; no país, de 27,2%. De acordo com a secretária interina da SAS, Manoela Silva, o aumento registrado é ainda resultado da pandemia. "Notamos que com o fim do Auxílio Emergencial houve um aumento significativo na procura", disse. Segundo ela, o perfil do pelotense que passou a procurar o benefício é o que acabou ficando sem renda na pandemia e ainda não conseguiu se reestruturar. Outro ponto destacado por Manoela é que essa suba ocorreu em todas as áreas da cidade. "Majoritariamente nas periferias, mas é possível notar esse aumento nas zonas centrais também", contou. O primeiro pequeno reflexo que a SAS observa de que o Auxílio atingiu seu público alvo é a diminuição das filas para o cadastro. Porém, a secretária interina garante que isso não anulará a busca ativa por pessoas que tenham o direito.

Comparativo de empregos

Em fevereiro de 2018, de acordo com Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Pelotas contava com 61.503 pessoas com vínculo empregatício. Nessa época, 7.177 famílias dependiam do governo federal. Em fevereiro deste ano, o estoque de empregos estava em 59.709, uma queda de 2,91%, e mais de 12 mil famílias estavam inscritas no programa.

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