Oito anos após a assinatura pelo Município do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), as chaves das 57 residências do loteamento Estrada do Engenho foram entregues às famílias que residiam em área de risco às margens do canal São Gonçalo. Os novos lares significam para os contemplados mais qualidade de vida em casas com condições dignas de moradia. Assim que os moradores realocados realizarem suas mudanças, as estruturas no dique de contenção serão demolidas.

Jovens mães com crianças pequenas e que são chefes do lar, assim como famílias com idosos, esse era o retrato de boa parte dos rostos que aguardavam ansiosos a realização do sonho de residir em um lugar seguro. Em vulnerabilidade social, os moradores que habitavam de forma irregular as casas sobre o dique de contenção do canal São Gonçalo viviam em estruturas apertadas e sem as condições básicas de moradia, como água encanada e energia elétrica.

A realocação para o conjunto de moradias populares construídas no início da rua conhecida como Estrada do Engenho era um anseio dessas pessoas há muitos anos, que aumentava a cada dia que a entrega do loteamento era atrasada. "Já olhei a casa é a coisa mais linda, estou muito orgulhosa de ter chegado até aqui. A alegria nos olhinhos deles é a melhor coisa", diz a moradora Tais da Silva, 25 anos, ao citar a empolgação dos três filhos.

Moradora da Estrada do Engenho há cinco anos, a manicure Elisângela da Rosa, 26 anos, explica que uma das maiores dificuldades era a falta de água encanada. "A gente tinha que descer um barranco para conseguir água para tomar banho, lavar uma louça, para fazer comida", relata. Com um bebê de um ano e outros dois filhos pequenos, a moradora destaca que todos os dias pensava no momento da entrega e em como seria morar na residência nova. "Era um sonho conseguir uma casa melhor, com luz, água e tudo direitinho".

A entrega

Ao final da cerimônia de inauguração do loteamento, com a presença de diversas autoridades políticas e de outros segmentos, os moradores foram chamados um a um e as 75 chaves das casas foram entregues pela prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB). "Agora vamos ter condições melhores de viver porque lá não era viver, era sobreviver", diz uma das contempladas, Valéria Ferreira ao citar que os filhos não tinham condições adequadas de moradia.

Durante a entrega, a prefeita Paula destacou o trabalho em conjunto com o governo do Estado e com o Ministério Público para que o projeto das casas fosse concretizado. "Raramente se vê uma entrega de moradias populares com as características desse aqui, de beleza, de acolhimento e cuidado nos mínimos detalhes", declarou.

Já o governador do Estado destacou que o loteamento é um ponto de partida para melhores condições de vida dos moradores de forma geral. "Será mais do que um abrigo, será um alicerce para construirem novos sonhos". Ainda conforme Leite, em breve será assinado o convênio com a Prefeitura que prevê o investimento de R$ 17 milhões para viabilização de um Parque Municipal no espaço de preservação ambiental. "Uma área de lazer, com a prática de esportes e para contemplação da beleza do canal São Gonçalo". Assim que os moradores completarem suas mudanças para o novo loteamento, as antigas casas serão demolidas pelo Município.

O loteamento

O projeto de moradias populares é composto por 35 unidades com recursos do programa Avançar Habitação do governo do Estado, com investimento de R$ 2,4 milhões e contrapartida do Município de R$ 1,3 milhões. Outras 22 casas são financiadas pelo convênio firmado entre a Prefeitura e o Ministério Público do Rio Grande do Sul, por meio do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL), com investimento total de R$ 2,4 milhões, sendo R$ 1,2 milhão em contrapartida.

Reivindicação

Com a presença das autoridades políticas, um grupo de moradores do Pontal da Barra compareceu ao evento para reivindicar soluções para a falta de acesso ao local. Os cartazes com frases como "124 dias sem estrada na Barra", expressavam o sentimento de indignação. Desde setembro, quando o grande volume de chuvas destruiu a estrada, a comunidade não tem outra via para o deslocamento. "A safra do camarão abre dia 1° de fevereiro, as pessoas estão em extrema situação de vulnerabilidade econômica, a gente depende da safra para se manter e da estrada para escoar a produção. Vai voltar o calendário letivo e as crianças vão continuar sem acesso às aulas e não temos acesso a unidades de saúde", elenca a moradora Fabiane Fonseca.

Conforme a prefeita Paula Mascarenhas, em resposta aos manifestantes, as obras na estrada devem iniciar ainda em janeiro. "Hoje a empresa está entrando com os documentos para a licença ambiental e se não nesta semana, na outra as obras devem iniciar".