Preocupação

Cheias trazem prejuízos e más expectativas para a pesca na região

Entre outros prejuízos já contabilizados à estrutura e captura de peixes, pescadores afirmam que não haverá safra de camarão na próxima temporada

Foto: Jô Folha - DP - Safra de camarão foi comprometida pelas chuvas que atingiram a região

"Não tem nada". É assim que os pescadores da Colônia Z-3, em Pelotas, definem a situação da pesca na Lagoa dos Patos após as cheias dos últimos meses. Para o futuro, a situação é ainda mais preocupante. Com a Lagoa ainda em nível elevado e previsões que indicam chuva acima da média nos próximos meses, os pescadores garantem que a próxima safra de camarão já está comprometida.

Os prejuízos à produção são confirmados pelos pescadores Gilnei Oliveira, 58, e Edmilson Bernardes, 52, que na segunda-feira (4) já estavam guardando os materiais de pesca. "Não tem nada na Lagoa. Essa elevação da água levou tudo que tinha de peixe", diz Oliveira. "Estamos desmanchando tudo pra parar mesmo, porque não tem pescaria. Se tu vai pescar, não tira nem [para pagar] o gelo", complementa Bernardes. Além disso, a dupla comenta que muitas redes e embarcações também estragaram com as cheias e temporais.

Na casa de Oliveira, as redes já estão penduradas para não correr o risco de estragar com a entrada de água na residência, situação que ficou cada vez mais comum nas últimas semanas. "O que tava no chão foi tudo. Não aproveitei nada. Está tudo separado pra botar fora", lamenta o pescador enquanto mostrava a marca da água nas paredes. Nem os freezers, utilizados para refrigerar os pescados, se salvaram dos estragos.

Pouca esperança

Os pescadores demonstram ainda mais preocupação e incerteza sobre o futuro. A safra do camarão, por exemplo, já é dada como impossível pela comunidade. "Esperança de camarão ninguém tem mais. Nós, como pescadores, não queremos que caia nem sereno", diz o pescador Clair Costa, 73. "Não é fácil a vida de pescador. Só vendo aí fora o que a gente passa pra não ganhar nada, pra vir um peixinho aqui e outro lá adiante. Não sei o que vai ser de nós", teme Bernardes.

Para ajudar no sustento da comunidade, através do Ministério da Pesca, estavam sendo entregues cestas básicas para pescadores com a carteira de pesca atualizada na Colônia Z-3. Segundo os trabalhadores, no entanto, seria necessário um auxílio maior, como um segundo seguro-defeso, para ajudar de forma permanente os profissionais que não estão conseguindo trabalhar. A reportagem buscou contato com os representantes da Colônia Z-3 para entender como está se dando o auxílio à comunidade, mas não obteve retorno.

Cenário na Zona Sul

A situação não é diferente em outros municípios da região. Em São Lourenço do Sul, por exemplo, o presidente da Colônia de Pescadores Z-8, Ivan Kuhn, comenta que são grandes os prejuízos. "O excesso de chuva e água doce na Lagoa dos Patos diminui muito a produção porque o carro chefe do pescador é a tainha e a corvina, peixes vindos da água salgada. A safra está tendo uma quebra muito grande", observa.

Kuhn garante, ainda, aquilo que os pescadores também preveem: não haverá camarão na Lagoa dos Patos. "O camarão está completamente descartado. Não vamos ter safra. Não tem mais como porque já é tarde demais para a entrada da larva. Vai ser uma safra completamente perdida, camarão não vai ter. Temos que torcer para que tenha uma tainha lá para fevereiro, março e abril, que dê pra ajudar um pouco", afirma.

Entre as alternativas para garantir o sustento dos pescadores, Kuhn afirma que há necessidade de uma revisão de medidas, como a proibição da pesca de bagre, espécie que pode ser pescada tanto em água salgada quanto em água doce. "A gente está nessa luta para ver se consegue pelo menos uma pesca monitorada, porque isso agrega bastante pro pescador. Precisamos imediatamente de uma revisão da nossa instrução normativa para que o pescador possa trabalhar e não ficar dependendo só de auxílios do governo", finaliza.


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