Crise na saúde
Começa greve de trabalhadores da Santa Casa de Pelotas
Movimento por tempo indeterminado teve início na tarde desta segunda-feira
Jô Folha -
A crise financeira da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas segue a espalhar rastros. Os trabalhadores deflagraram greve na tarde desta segunda-feira (25) para cobrar o pagamento dos salários de janeiro, que permanecem com 28% pendentes. Férias, vale-transporte e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também integram a lista de reivindicações. O alvo volta-se ao governo do Estado, que teria dívida de mais de R$ 1,4 milhão com o hospital - sustenta a Provedoria. O atendimento na Traumatologia, retomado depois de ficar dois dias e meio suspenso, segue sob risco.
Nesta terça, representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saúde (Sindisaúde) devem reunir-se com a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, em Porto Alegre. Um dos objetivos centrais da direção da Santa Casa, entretanto, é garantir horário na agenda do governador Eduardo Leite (PSDB). Ao se manifestar, o provedor Lauro Ferreira de Melo, endureceu o tom e voltou a defender que a dívida do Estado com o hospital refere-se à metade de setembro e à integralidade dos incentivos de outubro, novembro e dezembro. E o pior: o prazo para o pagamento dos valores de janeiro vencerá nos próximos dias. O acumulado ultrapassaria R$ 1,4 milhão.
"Um dispositivo burocrático não pode simplesmente excluir que a dívida de novembro e dezembro existe. Se não foi empenhada, que a responsabilidade seja colocada ao gestor público", afirma o provedor, ao rebater números apresentados desde a semana passada pelo governo. "É uma covardia conosco, já que o contrato foi cumprido. É duro ficar aqui só tomando a culpa, sendo que a culpa não tá conosco".
Nas ruas para exigir direitos
Faixas, cartazes, apitos, cornetas e até tampas de panela se transformaram em artifícios para chamar a atenção da comunidade. O recado é o mesmo que tem reverberado nos últimos meses: Nossa Santa Casa pede socorro. Reconhecimento da profissão não é gasto e sim investimento. As mensagens foram levadas às ruas, no começo da tarde desta segunda, quando os trabalhadores saíram em caminhada para exigir o cumprimento de direitos básicos, como os salários em dia.
Durante o percurso, buzinas disparadas por veículos e palmas em portas e janelas transformaram-se em apoio aos funcionários. "A situação já ultrapassou o limite da resistência. Não tem quando encerrar a nossa greve", reforça a presidente do Sindisaúde, Bianca D´ Carla.
A posição do governo do Estado
Ao responder as indagações do Diário Popular, a Secretaria Estadual de Saúde manteve posicionamento e só reconheceu a pendência de R$ 400 mil, referentes a setembro e outubro. Por e-mail, através da assessoria de Imprensa, o governo gaúcho fez questão de lembrar da abertura de linha de crédito, no valor de R$ 100 milhões, para 116 Santas Casas e hospitais filantrópicos.
O empréstimo, junto ao Banrisul, tem carência de 12 meses e pode ser pago em 18 parcelas, com juros bancados pelo Estado. O valor à disposição da Santa Casa de Pelotas pelo Fundo de Apoio Financeiro e de Recuperação dos Hospitais Privados, Sem Fins Lucrativos e Hospitais Públicos (Funafir) equivale a dois meses de fatura do Sistema Único de Saúde (SUS).
Saiba mais
- Traumatologia: O atendimento na Traumatologia, referência pelo SUS em Pelotas, foi retomado na tarde de sexta-feira. O retorno, entretanto, não é suficiente para provocar tranquilidade. Sem dinheiro em caixa, não está descartado novo fechamento do serviço - admite Lauro de Melo.
O retorno das atividades só foi possível devido à combinação de duas medidas: a prefeitura adiantou cerca de R$ 300 mil, equivalentes a incentivo federal de janeiro, e fornecedores realizaram a entrega de materiais. "Só se empurrou o problema para frente. Se não ocorrer mais nenhum repasse, dentro de 15 ou 20 dias não teremos mais como suportar". Na última quarta-feira, o bloco cirúrgico precisou fechar as portas para os casos traumatológicos. Não havia insumos para os procedimentos.
- Mobilização política: Uma reunião na manhã desta terça colocará lado a lado o presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Pelotas, Marcos Ferreira, o Marcola (PT), e o presidente da Azonasul, Mauro Nolasco (PT), prefeito de Capão do Leão. Na pauta, um movimento político para recuperação da Santa Casa. "Devido à importância regional do hospital, buscaremos uma audiência com o governador", destacou Marcola.
Em 21 março, uma audiência pública - proposta pelo vereador Marcus Cunha (PDT) - também deve colocar as relações de trabalho e a crise financeira da Santa Casa de Pelotas no centro das discussões. Afinal, só entre juros, multas e taxas, a instituição acumulou um déficit de R$ 1,5 milhão em 2018, em decorrência dos atrasos nos repasses estaduais.
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