Trânsito

De quem é a vez?

Dúvidas quanto a ciclovias da cidade geram conflitos entre ciclistas e condutores

Paulo Rossi -

Uma dúvida comum entre os condutores de duas e de quatro rodas que escolhem a avenida Dom Joaquim como caminho - e outros cruzamentos da cidade também - é sobre a preferência do tráfego durante os retornos no centro da via. Para os ciclistas, o entendimento é que o caminho que começa na ciclovia segue sem interrupções durante a faixa de pedestres. Já os motoristas dividem opiniões. Algumas vezes aguardam a passagem dos colegas de trânsito e, em outros momentos de maior tensão, discutem sobre a preferência. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, os ciclistas, enquanto desmontados, ou seja, empurrando a bicicleta, se equiparam aos pedestres quanto a direitos e deveres; assim sendo, a vez é deles.

Apesar das placas vermelhas de pare nas esquinas dos retornos, os ciclistas reclamam do não cumprimento das normas nos locais por parte dos motoristas. Pensando na segurança do trajeto, Gabriel Jardim conta que já passou por situações semelhantes. “É recorrente. Ali sempre prefiro aguardar a ação do motorista pra tomada de decisão.” Preocupado, visa uma direção preventiva para fugir dos acidentes. Jardim é adepto das bicicletas há quatro anos e tem oito meses que trabalha com bike entregas, usando o meio de locomoção como forma de serviço. Para o estudante, o problema não se dá apenas na sinalização ou falta de informação, existe uma construção cultural da atenção ligada somente à via, que venda os olhos dos motoristas quanto às “adjacências da rua”, assim como explica, se referindo à ciclovia e aos pedestres que cruzam os espaços.

Para Martina Corrêa, ciclista há cerca de um ano, a explicação para os obstáculos que cercam os diferentes tipos de condutores está na falta de informação. Mesmo com os mais de 50 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas da cidade, e presença constante dos utilitários, ela acredita que os deveres e direitos dos ciclistas ainda não se espalharam suficientemente na cidade. “É bem complicado”, lamenta. O tempo em que convive com a prática já fez com que ela entrasse em contato com alguns atos de imprudência dos motoristas de duas rodas. Certa vez, quase foi vítima em um dos retornos da Dom Joaquim.

Flávio Al Alam, secretário de Transporte e Trânsito (SMTT), salienta que o convívio saudável entre os condutores é a chave para evitar possíveis problemas, compartilhando as vias e respeitando o espaço do próximo. Uma certa negociação por meio das duas partes tem que existir, opina. Leandro Karan, coordenador do grupo ciclista Pedal Curticeira, é mais incisivo sobre a questão: “O maior problema é o excesso de individualidade”. Um olhar que beneficie mais o coletivo do que os interesses individuais em meio ao trânsito é a melhor solução a ser desenvolvida.

Uso compartilhado
A ciclovia da Dom Joaquim, dadas as vezes, serve também como pista para os pedestres que praticam caminhadas. Ato rotineiro, já que o trajeto construído para os passantes é de chão batido, formando poças d’àgua em dias chuvosos. “A ciclovia (da avenida) em tese é compartilhada. (...) Porém a sinalização não é replicada”, conta Jardim. A ideia de que o carro é o meio de transporte mais importante entre os demais causa reflexos em outros espaços, como as pistas dedicadas aos ciclistas. A forma como os pedestres utilizam a ciclovia é um dos exemplos apontados pelo estudante, que presenciou casos de pessoas que obstruem o caminho das bicicletas. Karan é outro que, assim como Gabriel, não vê problemas em dividir a via, mas as atenções devem estar focadas no bem comum.

Diferenças entre as pistas
É recorrente a confusão sobre as definições e diferenças das ciclovias e ciclofaixas. Entre os ciclistas é sabido que o uso de cada pista é diferente. Como o nome sugere, as ciclovias são vias construídas especificamente para os motoristas de duas rodas. A principal característica é uma separação física que isola os ciclistas dos demais andantes, como é exemplo da Domingos de Almeida e da praça 20 de Setembro. Neste tipo, a circulação de carros e motos é proibida. Já as ciclofaixas são aquelas em que a delimitação nas pistas é dada a partir das faixas pintadas no chão, como na Félix da Cunha e na Andrade Neves. O estacionamento e a passagem de veículos nas faixas de bicicleta são proibidos, podendo acarretar multas aos condutores.

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