Pandemia
Diagnóstico de Covid-19 deve ganhar agilidade no Estado
Chegada de 50 mil testes deverá contar com análise de universidades; contratação de laboratório do ramo agropecuário, em Pelotas, gera críticas
Divulgação -
A confirmação do diagnóstico do novo coronavírus deve ganhar agilidade, a partir do final deste mês, no Rio Grande do Sul. Laboratórios de universidades devem se juntar às análises de 50 mil testes RT-PCR adquiridos pelo governo do Estado. A contratação de uma empresa de Pelotas, do ramo agropecuário, gerou pedido de esclarecimentos da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas e do Conselho Regional de Farmácia e virou alvo de críticas nas redes sociais.
A M&S Produtos Agropecuários - localizada na avenida Francisco Carúccio - foi contratada pelo período de seis meses e deverá analisar até 250 amostras por dia. A expectativa é que a empresa atenda à demanda dos 28 municípios da área de abrangência da 3ª e da 7ª Coordenadorias Regionais de Saúde (CRSs) e receba também o material coletado de profissionais de Saúde e de Segurança, de diferentes zonas do Estado, com sintomas da Covid-19. O prazo para entrega dos resultados é de até 24 horas.
As primeiras 24 amostras analisadas foram encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), em Porto Alegre, para validação e 100% das respostas foram confirmadas: 23 testes negativos e um positivo para o novo coronavírus - ressalta a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann.
“Acreditamos que nesta semana, o laboratório de Pelotas estará com força total”, projeta. E lembra que o Lacen tem recebido uma média que ultrapassa os 200 exames por dia, sem falar nos casos que envolvem morte e, conforme as características, é preciso verificar se o óbito está relacionado à infecção por Covid-19. É mais um dos casos que ficam sob responsabilidade do Estado.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) se juntará ao grupo nos próximos dias e responderá por 500 análises.
O pico de contaminação ainda está por vir
As ações de prevenção e de controle são fundamentais para barrar a proliferação do novo coronavírus, altamente resistente. Detalhe: o pico de contaminação em solo gaúcho está previsto para os próximos meses. “Hoje ainda não temos muitos casos de pacientes internados, mas precisamos estar preparados”, destaca a titular da 3ª CRS, Caroline Hoffmann.
A preocupação cresce entre os municípios da região da Campanha, onde, só em Bagé, há 27 casos confirmados e transmissão comunitária. “A possibilidade de diagnóstico rápido é um grande ganho. É complicado esperar mais de uma semana por um resultado”, afirma o titular da 7ª CRS, Ricardo Necchi. E lembra que, na quinta-feira, havia quatro pacientes com suspeita de Covid-19 e um internado com a doença na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Bagé.
- Aval da Anvisa - A Resolução 364, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, libera laboratórios agropecuários para realização de análises do novo coronavírus. A medida publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 1º de abril, tem validade de seis meses, mas pode ser postergada se o cenário da pandemia exigir.
A suspensão de algumas exigências não exime os laboratórios de atenderem requisitos técnicos para garantir qualidade e segurança. Podem participar da força-tarefa unidades de Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo.
- Pedido de explicações - Em ofício encaminhado à Secretaria Estadual de Saúde, em 7 de abril, o Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul solicitou informações sobre a autorização sanitária e profissional da M&S Produtos Agropecuários e cobrou esclarecimentos sobre o processo de escolha da empresa, já que existem mais de mil laboratórios registrados nos Conselhos de Farmácia, Biomedicina e Medicina.
A Sociedade Brasileira de Análises Clínicas reforçou as indagações e ampliou o pedido de esclarecimentos, ao mencionar que a administração pública precisa estar alicerçada em princípios, como legalidade, moralidade, razoabilidade, segurança jurídica e interesse público. O documento foi enviado também ao Ministério Público (MP).
O que diz o governo do Estado -
A secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, assegura que os critérios para escolha foram técnicos. “Precisávamos achar uma solução e não ficar amarrados em burocracia.” Com insumos, equipamentos e equipe capacitada à disposição, o Estado firmou o contrato, após visita de integrantes da Vigilância de Pelotas, da 3ª CRS e do próprio Lacen à M&S Produtos Agropecuários.
No final de março, o governo gaúcho teria procurado vários laboratórios privados e de universidades, mas apenas 18 teriam respondido o e-mail; todos com a mesma limitação: falta de insumos para realizar as análises. A empresa pelotense teria efetuado adequações em documentação - ao obter registro como laboratório de Análises Clínicas - e isolamento de fluxo para entrada e saída de material a ser analisado.
“A discussão precisa ser técnica. Tem um processo de politização acontecendo neste momento”, rebate a secretária, ao conversar com o DP, na noite de sábado. O contrato inclui o pagamento de R$ 175,00 por teste; preço quase de custo - garante Arita.
Tecnologia a favor da saúde
O termômetro a cerca de 4oC do lado de fora da caixa térmica, lacrada, é o primeiro pré-requisito a ser observado. Ali se inicia a atuação do laboratório, que filma a chegada do material. Ao adotar padrões impostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), três tipos de controle passam a ser analisados: o RNA Humano - para comprovar que a amostra genética é de uma pessoa -, a possível existência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Covid-19.
As respostas integram o chamado teste diagnóstico, realizado em um equipamento de ponta: o termociclador de PCR em tempo real, capaz de identificar o agente logo no começo da infecção, ao encontrar o material genético do vírus. Tudo em um intervalo de quatro a seis horas, conforme o número de amostras - contam Rodrigo Casquero Cunha, que possui pós-doutorado em Biotecnologia, e o mestre em Sanidade Animal, Iuri Pioly Marmitt.
Desde 2015, os dois veterinários têm se dedicado a dignósticos moleculares de doenças de animais, exigidas para exportação de gado vivo. “Em 2018, mais de 70% da exportação do Brasil pro Egito passou pelo nosso trabalho”, ressalta o proprietário da Agropecuária, Toni Machado.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário