Eles estão aí

Documentos revelam aparições de Ovns na região Sul do Estado

Com a liberação de atas guardadas pelo extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) relatam dois registros ocorridos na década de 70

Carlos Queiroz -

A partir da liberação de documentos até então guardados, pertencentes ao extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e à Aeronáutica Brasileira, é possível deduzir que Pelotas poderia ter sob vigia grupos ligados, de alguma forma, a pessoas que tivessem histórico político familiar, ainda que fossem apartidários. Tudo poderia ser motivo para desconfiança na época do regime militar, inclusive situações que hoje são populares e despertam o interesse de milhões de pessoas. Uma ata de 28 de junho de 1975, agora disponível para consulta, prova o quanto o controle do regime considerava qualquer situação. Ela conta com detalhes as visões de luzes e os contatos que um grupo de adolescentes, membros da Sociedade de Astronomia do Colégio Municipal Pelotense (Sascompe), teria mantido com seres extraterrestres, em discos voadores vistos em uma fazenda no Capão do Leão.

Em relato anterior, de 1971, também conta outra aparição de Ovnis, em outra propriedade rural, denominada Triângulo Azul, igualmente situada no Capão do Leão. Ambos os documentos tomaram por base o relatório do professor Luiz do Rosário Real, fundador da Sociedade Pelotense de Investigação e Pesquisa de Discos Voadores (Spipdv). A pedido do Estado-Maior da Aeronáutica, cujo objetivo seria reunir os quatro casos de aparições de fenômenos ufológicos no Brasil, Real enviou o material.

O caso específico que envolveu o grupo de jovens da Sascompe ocorreu na propriedade particular de Carlos Andretti. Na ata, Real conta que quando chegou com os adolescentes não encontrou o dono da fazenda, mas recebeu informações sobre o desaparecimento de animais e de uma estranha doença acometendo muitos bichos.

Dividiram-se em duas equipes para procurar luzes que indicariam a presença de discos voadores. Radiotransmissores foram usados para manter a comunicação entre as duas equipes, telescópio, bússolas, lanternas, binóculos e câmeras fotográficas. Às margens do rio Piratini alguém que trabalhava na fazenda relatou ter visto um objeto estranho luminoso, à noite. Havia gravado em fita magnética. Contou que havia visto, junto com sua família, três discos voadores durante a noite, de forma redonda.

O relato é minucioso e não fogem detalhes. O lugar era silencioso e não se via sequer um pássaro. Por volta de 17h o primeiro fato teria acontecido: a jovem Carla Maia, um tanto nervosa, avisou pelo rádio que acabara de avistar, mesmo que rapidamente, uma luz branca brilhante sobre o bosque de eucaliptos situado à nordeste da propriedade.

Já era noite, mais de 18h, quando o segundo episódio teria ocorrido e na mesma direção do primeiro. Uma luz vermelha, que aos poucos tornou-se maior, subitamente expandiu-se para o alto e ficou parecida com uma enorme fogueira, conforme a descrição. No ínterim, o grupo nota um flash de luz branca, vez por outra. Considerado um espetáculo de rara beleza, a tal projeção de luz emitida teria durado cerca de cinco minutos.

A tentativa de contato
Sinalizaram várias vezes em direção ao ponto onde estaria a luz e por um momento pareceu que a luz teria piscado. A essas alturas a euforia era geral. O grupo estava deslumbrado com as aparições e queria contato. Tentaram uma comunicação por rádio. Iniciaram falando mais ou menos assim: “Atenção! Se realmente são astronautas de outro planeta que estão aí, procurem nos dar um sinal afirmativo. Nós estamos aqui em missão de paz e gostaríamos de entrar em contato pessoal com vocês”.

Repetiram isso várias vezes, sem obterem qualquer resposta. Eis que um deles, Wilson da Silva Stone, teria dito mais ou menos assim: “Senhores astronautas, irmãos de outro planeta, por favor, para que tenhamos certeza de que são vocês que estão aí e não se trata de uma ilusão nossa, apaguem as luzes”. Naquele exato momento viram, “com a mais viva emoção”, dois pontos de luz branca, até se extinguirem por completo, apagando-se de cima para baixo, dando a entender que haviam captado a mensagem.

Ao final do relato, Real conta que, após a extraordinária projeção luminosa, o grupo ficou muito agitado e, na qualidade de coordenador, sugeriu que esperassem um pouco mais para ir embora. Foi quando ouviram pelo rádio a comunicação de várias pessoas em língua espanhola, semelhante à comunicação de radioamadores. Mas estavam tão apavorados com as luzes, que não lembraram de averiguar o que as pessoas falavam.

Um último detalhe: teriam registrado o aparecimento da extraordinária luz, batendo três fotos com um filme 125 asas, mas após a revelação constataram que a película nada captara, talvez por pouca sensibilidade, o que foi uma pena, lamentou Real.

A história como ela é
O professor Real já é falecido, mas a reportagem do Diário Popular localizou dois dos seis jovens que constam no relatório enviado ao SNI. Ambos se formaram em Medicina, eram colegas de aula e vizinhos na época da Sascompe. Mantiveram a amizade esses anos todos. Lúcio Castagno e Carla Maia Garcias (sobrenome de casada) ficaram muito surpresos com o documento e mais ainda por ter ido parar nas mãos do governo. Mas acharam engraçado, até porque a versão dos dois é outra: o que viram não se tratou de Ovnis. As luzes eram de carros que passavam pela rodovia próxima, o que ficaram sabendo depois do episódio no Capão do Leão.

Em meio a risos, Castagno, fundador e presidente da Sascompe na época, conta que eram do pai dele os dois walk talk utilizados na “missão”. Sempre se interessou por Astronomia, diz, por isso, junto com o grupo, criou a entidade. Ganharam um telescópio do diretor do Pelotense à época, Walney Hammes, e seguidamente se reuniam para ver eclipse, chuva de meteoros e estrelas. Até conhecer Real, que tinha uma coluna no Diário Popular, onde fazia relatos de casos de Ovnis na região. A partir daí o grupo se interessou pelo assunto.

“O facho de luz existia, mas era de carros que passavam na BR para Jaguarão”, fala, ao acrescentar que saiu dessa história absolutamente convicto de que é uma lenda urbana, igual à história de bicho-papão. Carla refere-se ao grupo como um “bando de crianças” que acreditava em ETs e que os discos voadores atacavam o gado. Recorda, contudo, que a Sascompe era muito organizada e possuía até departamentos de Astrofísica e Astroquímica. O que era isso eles não tinham a menor ideia, mas haviam pesquisado que outras entidades do gênero possuíam e a deles também tinha de ter. As reuniões eram semanais e aos finais de semana realizavam observações com o telescópio. Ninguém sabe ao certo até que ano a Sascompe existiu. Nem o Colégio Pelotense tem essa informação.

Carla deduz que o monitoramento poderia ter ocorrido porque a família de Real teria ligações político-partidárias. “Nós éramos alheios a tudo isso”, diz. Mas de fato ninguém sabe. Há um relato na internet de que o material foi solicitado porque seria enviado a um jornalista de fora do país. Ao recordar o fato, Carla ri e conta que as luzes, que eles acreditavam ser os discos voadores, realmente piscavam ou ficavam mais fortes, mas eram dos carros que em alguns momentos usavam luz alta na estrada. Esse era o “sinal” captado.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Um ano para comemorar as boas ações Anterior

Um ano para comemorar as boas ações

Próximo

Tempestade Tembin deixa pelo menos 133 mortos nas Filipinas

Deixe seu comentário