Amor

Um ano para comemorar as boas ações

Voluntários passaram o ano desenvolvendo oficinas com jovens do Instituto de Menores Dom Antônio Zattera em Pelotas

Esta é uma notícia sobre amor, dedicação e empatia. Coisas raras de se ver nos dias de hoje. Valores aprendidos e transmitidos por um grupo de jovens voluntários às crianças atendidas pelo Instituto de Menores Dom Antônio Zattera (Imdaz). Reunidos pela fé e pelo padre Marcus Bicalho, vice-presidente do Instituto. Movidos pela paixão de fazer o bem a pessoas tão simples e carentes não só de bens materiais, mas das coisas mais importantes: amor e atenção.

O projeto Rocha se iniciou oficialmente em agosto, mas vem sendo planejado desde o início deste ano. O nome vem da Bíblia, inspirado no 25º versículo do sétimo capítulo do livro de Mateus: “A chuva caiu, vieram as enxurradas, os ventos sopraram e bateram contra essa casa, e ela não caiu, porque estava alicerçada sobre a rocha”, diz a passagem. Os jovens querem ser como a rocha, firmes no compromisso de ajudar e ser um espelho de boas atitudes às crianças do Imdaz.

Para os voluntários, fica uma nova lição de religião. “Eles se dizem impressionados com a realidade e com essa nova forma de ver Jesus”, pontua o padre Marcus. O menino Jesus, para eles, se manifesta em cada uma das crianças atendidas nas diversas oficinas. Em época de Natal, o sentimento de acolhida e afeto desponta mais ainda. O desafio, conta o padre, é encontrar formas de dar a esses meninos um pouquinho mais de conforto. “Quantos Jesus já nascidos existem no Instituto?”, questiona Amanda da Luz, voluntária no projeto.

Amanda é uma espécie de ponte entre o religioso e o Movimento de Emaús, grupo de jovens ligado à Igreja Católica. O encontro entre a jovem e o padre se deu ao acaso, quando era a responsável por recepcionar ele e o bispo em uma missa. Após poucos minutos de conversa com o sacerdote, veio a surpresa. “Ele disse que eu tinha sido escolhida por Deus para estar lá e naquele momento e ajudá-lo em uma missão”, recorda. A missão se resumia em reunir um grupo de jovens dispostos a desenvolver oficinas no Instituto de Menores.
Os planos de trabalhar voluntariamente com crianças sempre fizeram parte de sua vida, conta Amanda. O chamado, para ela, foi um recado divino. “Percebi que poderia fazer um bem muito grande”, fala. Partiu, então, em busca de ajuda dos companheiros de Emaús para pensar nas aulas. Juntaram-se a ex-estagiários do Imdaz e montaram as oficinas, todas voltadas a atender às necessidades dos menores.

Aprender a se moldar às necessidades do outro foi mais um conhecimento adquirido pelos voluntários. Antes de formar as aulas, foi realizada uma conversa com os futuros alunos para saber o que eles esperavam e queriam aprender. Desse modo, Amanda acredita que as lições foram ainda mais especiais e proveitosas aos meninos. “O importante é saber amar os outros como eles precisam ser amados”, acentua.

A ideia das oficinas é propiciar um conhecimento que possa ser uma fonte de renda no futuro. Como os alunos são jovens de baixa renda e, muitas vezes, com famílias desestruturadas - alguns até são menores abrigados pela prefeitura -, oferecer uma oportunidade de transformar o futuro é prioridade. Embelezamento de mãos, estofamento de cadeiras, música, inglês, educação física e formação religiosa são os cursos ministrados pelos voluntários.

Outros projetos desenvolvidos paralelamente incluem a reorganização da biblioteca e o atendimento psicológico, ambos oferecidos gratuitamente. Para o próximo ano a intenção é desenvolver uma Feira de Profissões. “Eles [os atendidos] não têm ideia das oportunidades que existem”, fala Amanda, referindo-se à faculdade e aos cursos técnicos e profissionalizantes.

Amor às crianças
Dedicação e amor ao próximo foram os sentimentos que motivaram Raquel de Freitas a montar a oficina de embelezamento de mãos no Instituto de Menores. Hoje, suas alunas - e amigas - são meninas que vivem em abrigos da prefeitura. Amiga pessoal de padre Marcus, seu envolvimento com o Imdaz começou aos poucos. Inicialmente seu objetivo era apenas preencher o tempo, uma vez que estava impossibilitada de trabalhar devido a problemas de saúde.

As primeiras atividades foram desenvolvidas em um brechó. “Ajudava dobrando roupas e vendendo”, lembra. Quando soube das oficinas, logo pensou em ensinar as técnicas de manicure e pedicure, profissão exercida por ela quando mais jovem. Assim como os outros cursos, a intenção das aulas é ensinar uma profissão às alunas. Por isso, tudo é feito com muita seriedade. A importância de usar equipamentos individualizados para evitar contaminação e lições de higiene são ministradas às meninas.

As gurias adoram. Stela, 17, sonha em trabalhar na área da beleza. “Queria ser cabeleireira, mas [aprender a fazer] uma unha já ajuda”, confessa. A amiga e colega Pâmela, 16, compartilha o gosto por cuidar de si e, principalmente, das unhas. “Quando vi que tinha curso de manicure, vim direto”, conta. Entre esmaltes, algodões e lixas de unhas, as três meninas dividem duas tardes por semana. Para a professora Raquel, o sentimento é de gratidão. “Fico lisonjeada por conviver com elas. Formamos uma amizade”, resume.

Sustentabilidade
Outra oficina que chama a atenção pela originalidade é a de estofamento. O material utilizado nas aulas é praticamente todo reciclado. As cadeiras são fruto de apreensões feitas em bingos ilegais. Os tecidos são reaproveitados de roupas que já não vestem mais. Usando técnicas de customização e revestimento, os alunos do curso expressam sua criatividade ao mesmo tempo em que aprendem um novo ofício.

A ideia do curso partiu de Bruna Heinemann, estudante de Design de Moda. Ela foi estagiária do instituto e era responsável por organizar as roupas recebidas de doação. No período, realizou brechós para angariar fundos ao local. Mas algumas peças estavam deterioradas e acabaram não sendo vendidas. Surgiu, a partir de um convite do padre Marcus, a ideia de recuperar as cadeiras recebidas.

A primeira oficina foi feita com os internos da Casa do Amor Exigente (Caex), local de recuperação de dependentes químicos. Logo em seguida, Bruna retornou ao Imdaz e trouxe consigo o curso. Na fase inicial das aulas, os alunos aprenderam a customizar os tecidos. Depois, foram ensinados a revestir propriamente as cadeiras. Para a voluntária, fica uma nova visão da profissão. “Passei a enxergar a moda como instrumento de inclusão social”, conta. Além dos aprendizados, ela acredita que as aulas proporcionam mais confiança e autoestima aos alunos porque mexe com suas habilidades e criatividade.
Essenciais na instituição

Os voluntários do Instituto de Menores cumprem um papel fundamental para a manutenção do local, fundado em 1924. A avaliação é de Nilce Elisabete Silveira, diretora do Imdaz. O projeto Rocha não é a primeira iniciativa a prestar serviço gratuito junto às crianças e aos adolescentes. As cozinheiras, por exemplo, são, em sua maioria, voluntárias.

O novo time de voluntários é elogiado pela diretora. “O convívio deles com as crianças é excelente. Só vieram a somar”, comenta. As oficinas tiveram tanto sucesso que as inscrições para o próximo semestre já começaram. As vagas são gratuitas e abertas à comunidade. Para se inscrever basta comparecer ao Instituto de Menores (avenida Domingos de Almeida, 3.150) e informar o nome e um telefone para contato, além dos dados do responsável pelo menor.

Oficinas
Em 2017 foram oferecidas as oficinas de percussão, violão, cavaquinho, flauta, coral, banda marcial, dança, taekwondo, educação física, inglês, formação cristã, embelezamento de mãos e estofamento de cadeiras. As oficinas de 2018 ainda estão sendo montadas.

boas a?es

 

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