Saúde mental
Dos oito Caps, apenas um possui equipe mínima completa em Pelotas
Serviços de atendimento psicossocial estão sem receber verbas federais por conta da falta de pessoal
Jô Folha -
Diariamente, de 120 a 150 pessoas recorrem aos serviços do Caps AD em Pelotas (Foto: Jô Folha - DP)
O Ministério da Saúde exige que em cada Centro de Atenção Psicossocial (Caps), uma equipe mínima seja formada por um médico, um enfermeiro, quatro profissionais de nível Superior e seis de nível Médio. Pelotas conta com oito unidades do serviço e, destas, apenas uma está com o número completo no quadro de funcionários. Sem o requisito, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) deixa de receber R$ 220 mil ao mês para os atendimentos voltados à saúde mental da população.
A coordenadora do Departamento de Saúde Mental da SMS, Gabriela Haack, explica que a falta de profissionais se dá tanto por conta de exonerações e aposentadorias, como pela grande rotatividade de vagas a nível Médio. "A demanda dessas vagas em outras áreas é alta, acaba que elas se esgotam primeiro", afirma. O Caps Escola é o único com o quadro completo. Além dos funcionários concursados, a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) possui convênio com o local, o que, segundo a coordenadora, ajuda a compor o número mínimo da equipe.
O problema vai além do serviços de assistência psicossocial e na atenção básica as equipes também estavam incompletas. A solução foi realizar o remanejo de pessoal em algumas das Unidades Básicas de Saúde da cidade. Para o problema nos Caps, a titular da SMS, Roberta Paganini, aposta no pedido de reposição que ainda será enviado à Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos (Sarh). As vagas dizem respeito ao concurso público aberto no último ano para contratação de novos servidores.
Em toda a rede dos Caps faltam 15 funcionários, entre os níveis Médio e Superior. A SMS ainda não possui o número de quantos novos profissionais serão admitidos. "Todas as unidades vão ficar com as equipes completas", garante Roberta. Com os novos profissionais, a pasta volta a receber a verba necessária para o serviço. "Hoje estamos em déficit, com as contratações vamos conseguir equilibrar as contas", frisa. Além do pedido referente ao certame, a pasta planeja a abertura de um segundo Serviço Residencial Terapêutico (SRT), dessa vez do tipo 1.
Se faltar, quem usa vai sentir falta
O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) recebe diariamente entre 120 e 150 pessoas, explica a coordenadora, Aline Vaniel. Por mês, o número chega a 1,8 mil usuários. Vladimir da Costa, 56, frequenta o lugar há 12 anos, "desde que abriu", lembra. Ele entrou no local por conta do alcoolismo e, logo, foi diagnosticado com depressão. Nesse tempo, formou muitas amizades no lugar, além de ver muitos partirem. "O Caps pra mim é tudo. Infelizmente já vi muitos indo, voltando e até mesmo tirando a própria vida."
Um dos amigos que ele encontra semanalmente no local é o Claudinei Silva, 59. Ele é usuário da rede há mais de seis anos e agradece pelas portas sempre abertas do serviço. "Já passei um ano e meio sem beber. Eu tive muitas recaídas e, agora que a minha netinha nasceu, estou conseguindo me manter", conta. A neta, que já completa quatro meses, serve como uma força para seguir com o tratamento. Para além do plano terapêutico e das atividades, como oficinas e musculação, o Caps é um espaço que forma laços entre as pessoas. "Toda vez marcamos uma meia hora antes na praça, aqui na frente, pra conversarmos", comenta Vladimir. O serviço fica na praça José Bonifácio, número 1.
Novidade na área da saúde mental
O Serviço Residencial Terapêutico é uma espécie de casa de acolhimento a pessoas com transtornos mentais que precisam de supervisão. Hoje, o município conta com uma unidade do tipo 2 e está na fase de montagem do projeto da próxima, de tipo 1. Cada tipo se diferencia dependendo do nível de autonomia do paciente. Os mais graves, aqueles incapacitados de alimentar-se sozinhos, por exemplo, são do tipo 2. "São pessoas que passaram anos internadas em hospitais, fazendo o uso contínuo de medicamentos", explica a coordenadora do Departamento de Saúde Mental.
A doença do usuário não é o principal determinante para entrar ou não na casa, e sim a situação e o contexto social do paciente. No local, trabalha-se a autonomia de cada paciente, com foco na criação de uma rede de apoio. O projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde, segundo a secretária Roberta Paganini. Por enquanto, a SMS aguarda a aprovação nas esferas estaduais e federais. Quando aberto, o serviço passa a oferecer oito vagas.
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