Proteção coletiva
Dose de reforço está em atraso para quase 78 mil pessoas
Cobertura vacinal entre as crianças também preocupa em Pelotas; mais de 30% delas sequer tomaram a 1ª dose
Quase 78 mil pessoas estão com as doses de reforço da vacina para Covid-19 em atraso, em Pelotas. É o equivalente a um terço de quem deveria já ter corrido para tomar a 3ª dose. Mais de 20 mil pessoas sequer foram buscar a 2ª aplicação. É um cenário que gera preocupação. Sabe-se que a vacinação é a grande ferramenta coletiva para barrar a circulação do vírus. Entre a criançada, o dado também surpreende negativamente: mais de 30% dos pequenos entre os cinco e os 11 anos de idade ainda nem começaram a proteção. São números que podem estar relacionados a um dos aspectos que o Diário Popular também aborda neste final de semana: a desinformação em saúde.
A secretária de Saúde, Roberta Paganini, admite a importância de reforçar a conscientização da população, com um trabalho de comunicação ampliada e busca ativa de quem ficou para trás. "Temos que garantir e facilitar o acesso". Medidas como vacinação aos sábados, horário ampliado no Shopping Pelotas e o roteiro do Trailer da Vacina pelos bairros são exemplos de estratégias para qualificar o atendimento. Na quinta-feira, a prefeitura também decidiu encerrar com a imunização por agendamento para os pequenos que, em vários momentos, emperrou o fluxo e gerou indignação das famílias.
Agora, basta dirigir-se aos pontos definidos e receber a dose. Confira:
- Pfizer (de 5 a 11 anos e para os imunocomprometidos, que tenham comorbidades ou deficiência):
* Local: Unidade de Vacinação Infantil, na Ubai Navegantes, na rua Dona Darci Vargas, 212
* Horário: das 9h30min às 19h30min, de segunda a sexta
* Intervalo para 2ª dose: no mínimo oito semanas
- CoronaVac (de 6 a 11 anos):
* Local: rua General Neto, 1.707, ao lado do Ceron, entre as ruas Marcílio Dias e Professor Araújo ou na Unidade de Vacinação Infantil, na Associação Rural de Pelotas, na avenida Fernando Osório, 1.754, Três Vendas, no pavilhão Jorge Gertum, com entrada pelo portão da avenida Salgado Filho,
* Horário: das 8 às 18h, sem fechar ao meio-dia, de segunda a sexta-feira
* Intervalo para 2ª dose: no mínimo 28 dias
É preciso acelerar a liberação da quarta dose a todos os idosos
O aumento de casos de coronavírus na China - que tem recorrido ao lockdown para tentar barrar a transmissão - e em alguns países da Europa, como Suíça, Áustria, Itália, Reino Unido e Holanda faz disparar o sinal de alerta sobre uma possível onda no Brasil e como o país estaria preparado para enfrentá-la.
"O meu sinal de alerta tá aceso. A gente tem que ficar de olho. Não temos uma cobertura vacinal ideal. A gente tem muita gente sensível". A afirmação é do professor do Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Fernando Barros. Ao conversar com o Diário Popular, o pesquisador fez referência à subvariante da Ômicron, ainda mais contagiosa, e mencionou estudo realizado em Israel, que demonstra que a mortalidade foi quatro vezes menor entre os cidadãos com mais de 60 anos idade, após a quarta dose. "Para gente idosa, que o sistema imunológico é mais fraco, nós temos que dar logo a quarta dose", enfatiza o doutor em Epidemiologia.
E ao cobrar agilidade para ampliação da vacinação, Barros fez algumas ressalvas: a segunda dose já não pode ser considerada um parâmetro de proteção - o reforço é fundamental -, a imunidade da vacina diminui com o tempo e a pandemia não terminou. E mais: "Eu não acho que ela vá terminar tão cedo e não vai terminar por decreto. A pandemia vai terminar quando o vírus parar de circular", reforça o médico. E, para isso, depende, principalmente, da imunização da população.
Dedicação às alas Covid, do início ao fim
Parece inacreditável: a enfermeira Niviane Genz, 49, ficou à frente das alas Covid do Hospital-Escola (HE-UFPel), durante dois anos, sem nunca ter testado positivo. A santo-angelense pertence a um grupo de apenas quatro profissionais que acompanhou todo o processo: das primeiras internações de suspeitos, em março de 2020, à decisão da prefeitura de Pelotas sobre a desativação dos espaços específicos para o tratamento da doença, em março de 2022.
"Foi uma experiência sem igual. Lidamos com a pressão psicológica de enfrentar o desconhecido, com o risco de morte presente, mas sempre nos amparamos. Tivemos um ombro, um apoio e um incentivo para continuar", conta, ao referir-se à equipe que ajudou a liderar. Nesta sexta-feira (25), o resultado, ainda que preliminar de um processo seletivo, virou motivo de celebração: Niviane deverá ficar vinculada à Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias, com 24 leitos de Enfermaria, para onde irão agora os pacientes com diagnósticos como Covid-19 e tuberculose. A confirmação oficial sai na segunda-feira (28).
"Nesses dois anos ficou comprovado que podemos assumir o compromisso de estar 100%, com um cuidado integral, sem contar com o apoio dos familiares para o auxílio em momentos de alimentação e de higiene do paciente", destaca. E no espaço a que se dedicará daqui para frente não será diferente. Aliás, ao longo da carreira, a enfermeira tem feito questão de enfrentar desafios e dirigir um olhar de acolhimento aos inúmeros casos que recebeu, desde o instante em que decidiu fazer residência em Oncologia.
E durante a pandemia, neste turbilhão de emoções, pressões e medos, Niviane conquistou o feito de concluir e defender a tese de doutorado. "E ainda não desisti do sonho de ser médica", afirma. Um sonho que ela aduba com o apoio do marido Altair e dos filhos Barbhara, 25, e Carlos Eduardo, 20.
Qual seria a possibilidade de rearticulação da rede hospitalar?
Debates através do grupo de trabalho entre gestores, assim como com participação das universidades, serviriam de base para tomada de decisões, em caso de o governo precisar retomar as alas Covid. "Estamos sempre atentos ao que acontece no mundo. Hoje já sabemos como fazer, pois precisamos definir uma série de alternativas para superar obstáculos", argumenta a secretária de Saúde de Pelotas, Roberta Paganini. Embora se mostre otimista com os resultados positivos da vacinação, ainda que não no patamar desejado. "Claro que se dependesse da nossa vontade, 100% das pessoas estariam imunizadas".
As campanhas como contraponto à desinformação
Um trabalho em rede, encabeçado pelo Ministério Público Federal (MPF), irá reunir professores e pesquisadores de universidades e institutos federais, com o objetivo de combater a desinformação em saúde. A união de esforços será deflagrada em 8 de abril, quando passam a ser definidas estratégias junto a profissionais da educação e de ambientes de saúde para combater as fakenews que impactam, por exemplo, na adesão da vacina.
"Queremos articular ações com apoio de agentes de checagem e, através do MPF, conseguir que as plataformas sejam obrigadas a tirar os conteúdos que são danosos para saúde pública", afirma a coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e análise de Redes da UFPel, Raquel Recuero. A pesquisadora também foi incisiva, ao defender a urgência de as organizações e instituições públicas envolverem-se em campanhas massivas que sirvam de contraponto à enxurrada de desinformações.
Uma das últimas teorias falsas que tem ganho eco coloca em xeque a qualidade da vacina da Pfizer, que utiliza a técnica RNA Mensageiro, que ensina as células a sintetizarem uma proteína que estimula a resposta imunológica do corpo. No bombardeio das redes, a tese é de que o DNA - responsável por armazenar as nossas informações genéticas - seria alterado. "São coisas terríveis, que precisam ser combatidas", lembra a doutora em Comunicação e Informação.
Raquel ainda destaca que estes discursos, que se disseminam rapidamente, têm características populistas, suscetíveis a conspirações. Um mal que se espalha para outros espaços. Neste contexto de desconfiança, a própria Ciência passa a ser questionada, assim como a seriedade do Jornalismo.
Conheça alguns dados da vacinação em Pelotas
* Doses de reforço em atraso em Pelotas: 77.804 - 33,7% (dos que tomaram a 2ª dose)
- 67.686 adultos
- 10.118 idosos
* Com a 2ª dose em atraso: 20.495 - 7,41%
- Adultos: 13.783 - 5,7%
- Adolescentes: 3812 - 17,5%
- Crianças: 2.900 - 17,2%
População adulta que deveria ter ser vacinada: 269.494
- Com apenas uma dose: 245.859 - 91.2%
- Com esquema vacinal completo: 230.833 - 85,6%
Total de adolescentes de 12 a 17 anos que deveriam ser vacinados: 25.543
- Com pelo menos uma dose: 21.682 - 84,9%
- Com esquema vacinal completo: 16.073 - 62.9%
Total de crianças de 5 a 11 anos que deveriam ser vacinadas: 27.950
- Com pelo menos uma dose: 19.472 - 69,67%
- Com esquema vacinal completo: 3.153 - 16,19% - para muitos, ainda não se completou o prazo para a D2
Detalhe: No Brasil, até o momento, o reforço só é previsto para o público a partir dos 18 anos de idade. Já a quarta dose começou pelas pessoas imunodeprimidas e, nos últimos dias, começou a ser estendida para os idosos com 80 anos ou mais.
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