Educação
EJA para séries iniciais terá menos turmas em 2019
A decisão foi tomada pela Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed) para diminuir custos e pela baixa procura de interessados
Carlos Queiroz -
A oferta de turmas na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) para séries iniciais será menor em 2019 nas escolas municipais de Pelotas. A mudança não afeta o EJA para ensinos Fundamental e Médio. A decisão foi tomada pela Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed) para diminuir custos e pela baixa procura de interessados, justifica a pasta. A modalidade é voltada, por exemplo, à alfabetização de pessoas e atualmente conta com 463 matriculados, divididos em 17 escolas municipais. Em 2019, o número cairá para 12 escolas da rede.
Tratado pelo secretário de Educação, Artur Corrêa, como uma “reorganização”, nas escolas há reclamações de alunos e professores pela medida. O principal problema será no núcleo Zona Norte, onde estudantes da Vila Princesa precisarão percorrer mais de dez quilômetros até a sala de aula e no Sítio Floresta em torno de seis quilômetros - eles passarão a estudar na escola Fernando Osório.
As inscrições para as turmas encerram-se nesta segunda-feira. A previsão é abrir novamente prazo para matrículas em janeiro. Na próxima terça-feira, o secretário prestará esclarecimentos sobre o fechamento destas turmas na Câmara de Vereadores de Pelotas.
Dentro da sala de aula
“São casos e pessoas especiais que precisam deste estudo”, desabafa a professora Cristine Herzog, professora da Escola Piratinino de Almeida, no Areal. Assim que a escola recebeu o comunicado da Smed e repassou na sala de aula, mais de dez alunos interromperam os estudos, sem a perspectiva de continuação no ano que vem. Na noite da última quarta-feira, eram três alunos presentes: uma idosa, uma jovem e um adolescente.
A professora conta que as aulas vão além dos conteúdos programáticos. “Fizemos palestras com profissionais, ajudamos eles a fazerem documentos, damos orientações para formar um currículo, ensinamos o reconhecimento do dinheiro. Eles têm dificuldade, mas são pessoas que passaram anos afastados da escola, dos estudos, que trabalham o dia todo”, comenta Cristine. Dos três presentes, apenas um confirmou que seguiria os estudos mesmo em outra escola.
Smed quer diminuir custos
O argumento da baixa presença de interessados foi levantado por uma equipe de supervisores da Smed, em visitas surpresa às escolas nos últimos dois anos. Conforme os próprios supervisores e diretores da secretaria, equipes encontraram escolas com menos da metade do número de matriculados. O investimento de professor, estrutura, merenda e materiais, avaliaram, não compensa pelo baixo número de alunos. “O que não pode ter é um professor para três alunos. Os recursos públicos são finitos e precisam ser racionalizados”, calcula Artur. A pasta não informou o montante que deve ser economizado com a medida.
Com uma evasão média superior a 30%, a tendência é a extinção do programa com o tempo, projetam as supervisoras. Neste aspecto, o novo Ensino Fundamental de nove anos tem apresentado índices positivos de permanência nas escolas. “Se temos menos interessados nas séries iniciais, também representa que estamos tendo um avanço neste sentido. Estamos adequando para atender uma necessidade verdadeira”, analisa Cibele Mirapalheta, supervisora da Smed. Questionados se a medida vai aumentar ou diminuir o número de alunos nesta modalidade para o próximo ano, o secretário acredita que o número vai se manter. Sobre as reclamações de distâncias, os gestores também comentam que foram pensados núcleos de fácil acesso do transporte coletivo.
Dificuldade se impõe
José Rodrigues, 37 anos, é pintor e pedreiro. Em março, após 20 anos longe das salas de aula, voltou a estudar numa turma da escola Piratinino de Almeida. Morador do Corredor do Obelisco, hoje o caminho de casa até a escola é percorrido de bicicleta. Depois do comunicado, ele é um dos que não aparecem mais na escola. O local é, para ele, porta de acesso a um futuro mais promissor ou a um emprego formal. “Fica ruim, né. Não é hora de parar, é hora de continuar.”
Escolas com EJA
séries iniciais em 2019
Escola Francisco Caruccio - Pestano
Escola Mario Meneghetti - Getúlio Vargas
Colégio Municipal Pelotense - Centro
Escola Luiz Augusto Assumpção - Barro Duro
Escola Raphael Brusque - Colônia Z-3
Escola João da Silva Silveira - Monte Bonito
Escola Alberto Rosa - Corrientes
Escola Mariana Eufrásia - Fragata
Escola Bibiano de Almeida - Areal
Escola Saldanha Marinho - Bom Jesus
Escola Joaquim Assumpção - Centro
Escola Fernando Osório - Três Vendas
Núcleos a partir de 2019
Fragata - As aulas serão concentradas na escola Mariana Eufrásia, abarcando as escolas Olavo Bilac, Alcides de Mendonça Lima e Nossa Senhora de Lourdes. As três escolas são do bairro e ficam a cerca de dois quilômetros de onde serão as aulas.
Areal - As turmas ficarão concentradas na Bibiano de Almeida. No local também ficarão alunos hoje das escolas Piratinino de Almeida e Cecília Meireles. A distância entre a Piratinino e a Bibiano é de cerca de dois quilômetros. Já a Cecília Meireles, a distância é menos de um quilômetro.
Bom Jesus - O colégio Saldanha da Gama também terá alunos do Dunas. As escolas ficam distantes cerca de um quilômetro.
Centro/Porto - A escola Joaquim Assumpção receberá estudantes de um anexo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), onde a prefeitura aluga salas, e da escola Ferreira Viana, no Fátima. A distância também é de cerca de um quilômetro e meio.
Três Vendas - O núcleo ficará concentrado na escola Fernando Osório. Este reunirá as maiores distâncias, por integrar a escola Antônio Ronna, na Vila Princesa, e a Independência, no Sítio Floresta. A distância vai entre seis e dez quilômetros.
Alunos por modalidade
EJA no município
►Iniciais - 463 alunos
►Ensino Fundamental - 2.131 alunos
►Ensino Médio - 332 alunos
►Total - 2.926
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