Enchente

Escoamento das águas no Laranjal leva moradores de volta às suas casas

A baixa dos níveis nos mananciais possibilitou a retomada dos sistemas de drenagem no bairro, fazendo com que, aos poucos, as pessoas tentem retornar aos lares

Foto: Jô Folha - DP - A água subiu cerca de meio metro na casa de Yuri Paim

No último fim de semana, a queda nos níveis da Lagoa dos Patos e do canal São Gonçalo proporcionou a reativação dos sistemas de escoamento das águas nos balneários Santo Antônio e Valverde, no Laranjal. Além da casa de bombas Pontal da Barra, que voltou a funcionar, foram instaladas bombas flutuantes provisórias na intenção de aumentar a vazão. Ainda, à beira da praia, tratores com equipamentos pluviais completam o trabalho de drenagem da água que inunda as ruas do bairro. Na manhã desta segunda-feira (3), mesmo com a redução evidente do alagamento, o cenário continua a traduzir o misto de sentimentos de temor e incertezas que vivem os moradores das áreas mais afetadas.

Há quase trinta dias fora de casa, Yuri Paim, 37 anos, aproveitou a trégua dada pela água e retornou para averiguar a situação da moradia. A residência fica a uma quadra do Trapiche, em uma das ruas perpendiculares à avenida Senador Joaquim Augusto de Assumpção. O homem vive com a esposa, mas a enchente os obrigou a procurar um local mais seguro. Por isso, ele ergueu tudo o que podia para o segundo andar. Antes de rever a casa, Yuri contou que foi através dos últimos vídeos gravados por vizinhos que percebeu que, se calçasse botas até o joelho, haveria chance de chegar ao local sem se molhar tanto. “Tenho umas coisas pra pegar ali. Vou dar água pras plantas da minha esposa. E dar uma olhada para ver o que precisa comprar para limpeza”, disse o morador.

Se aproximando da residência, pode-se notar a redução de volume da água. Tendo a marca na parede como referência, a altura da cheia chegou a quase meio metro dentro da casa, o que foi um alívio para Yuri, pois ele se preparava para encontrar um panorama ainda pior. “Está ruim, mas está bem melhor do que eu imaginava. Vai dar uma trabalheira. Subiu bastante água, tem bastante lodo. Achei que não ia ter tanto lodo, achei que a água estava até mais limpinha. Mas sai fácil, parece. Um pouco de móveis perdidos, o MDF foi para o saco. Tinha algumas coisinhas dentro, depois eu vou ver com calma, mas foi menos pior do que eu imaginava”, analisou.

Buracos na areia

Na orla da praia, bancos de areia de quase dois metros separam a Lagoa dos Patos do calçadão do Laranjal. Atualmente, transitar nesse espaço é uma tarefa desafiante, seja pela inundação que tomou as vias e passeios integralmente, ou pela areia umedecida que oculta buracos imprevisíveis. Em determinados pontos, o avanço a pé pela orla é quase impossível, já que a areia, molhada e instável, não suporta o peso do corpo, causando a submersão de boa parte da perna. Isso torna o ambiente desfavorável à circulação de pessoas, sendo o Calçadão, que segue alagado, o caminho mais seguro no acesso a outras partes do balneário. Pela quantidade de água na avenida, até mesmo um veículo foi flagrado usando o calçadão para transitar sem risco de ficar preso no alagamento.

A espera continua

Em alguns trechos arenosos da beira de praia, retroescavadeiras do Sanep realizavam a abertura de lacunas para facilitar o escoamento da água que permanece retida nas ruas. Sobre um dos morros, Daniele Oliveira, 47 anos, observava o fluxo constante da água em direção à lagoa, torcendo pelo recuo da água. Professora de uma escola do Município e moradora da rua Caçapava do Sul, ela relata que, dentro de casa, o limite máximo atingido pela água chegou a quase 1,4 metro. No fim de semana, deslocando-se de caiaque, a mulher pode notar que o ritmo de redução aumentou, resultado da mudança dos ventos e da reativação das medidas de drenagem adotadas pela Prefeitura. “Amanhã [terça-feira, 4] muda o vento de novo, então acho que para saber se está dando certo as bombas, só amanhã mesmo”, considera Daniele.

Na orla da praia, situação ainda é de bastante destruição causada pela força das águasFoto: Jô Folha - DP

Consequências emocionais

Há um mês longe de casa, a professora conta que no colégio onde trabalha, mais quatro colegas passam pela mesma situação causada pelas cheias. Enquanto isso, as aulas nas escolas municipais voltaram e as educadoras se vêem sem condições emocionais de retornar à sala de aula, considerando os contextos pessoais de cada uma e suas consequências. “Eu tenho um filho pequeno. No dia que encheu, ele correu de um lado para o outro, dizendo que não queria sair, que queria ficar onde ele estava. Agora, ele não quer nem chegar na beira da praia. A gente sai para dar uma caminhada, ele vê que tem água, senta e não quer mais andar. Sem falar que a gente está sempre pensando se o vento vai virar, se vai chover, se vai acontecer alguma coisa”, afirmou.

Orientadas pela diretora do colégio, as professoras aguardam um parecer oficial da Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed), que decidirá o que será feito a partir de agora. “Eu tenho uma colega que está grávida, no final da gestação. Quando ela saiu de casa, só levou a bolsa da maternidade. O resto do enxoval ficou. [...] Outra colega que saiu de casa tem a mãe com Alzheimer, que talvez não esteja entendendo nada do que está acontecendo. Isso tudo abala a gente”, acrescentou Daniele.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Governo lança plano para reconstrução de rodovias e pontes afetadas pela chuva Anterior

Governo lança plano para reconstrução de rodovias e pontes afetadas pela chuva

Rio Grande ainda tem ruas alagadas Próximo

Rio Grande ainda tem ruas alagadas

Deixe seu comentário