Saúde pública

Espera por órteses e próteses pelo SUS pode chegar ao fim

Serviço de Reabilitação Física de Bagé, referência à região, pode voltar a prestar o atendimento em agosto

A espera de quem sonha com a colocação e o uso de próteses e órteses pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pode estar mais perto do fim. Passado mais de um ano, o Centro de Reabilitação Física de Bagé - referência a 39 municípios da região - deve voltar a prestar o serviço. Uma empresa de Passo Fundo apresentou toda a documentação na tarde desta quinta-feira (5) e, após análise jurídica, deve ser firmado contrato. A expectativa é de que, no máximo, até o meio de agosto, o atendimento possa ser retomado.

O desafio, portanto, será zerar a fila. A estimativa é de que a demanda reprimida seja de aproximadamente 220 pacientes, somados os cerca de 120 que aguardam revisões e outras cem pessoas que esperam ser acolhidas pelo Serviço de Reabilitação. "Neste começo, como é uma empresa nova, que estaremos conhecendo, pretendemos agendar em torno de 50 avaliações", adiantou a coordenadora geral do setor de Fisioterapia da Secretaria de Saúde de Bagé, Clarissa Collares.

O cálculo, entretanto, é de que o contrato firmado entre a Nemrod Medical e o Poder Público contemple entre 70 e 80 dispositivos por mês. É um serviço que mexe com sonhos, alimenta a autoestima e pode, finalmente, jogar fim a tantas angústias.

A espera também é por respostas
A pelotense Adriane Sanches Birgman, 52, admite: a ansiedade não cresce apenas ao ver o neto Arthur Birgman de Oliveira, de sete anos, usar a mesma órtese (bota) que já não comporta o tamanho do pé. Os dedos ficam para fora. A espera transforma-se em indignação pela falta de respostas aos muitos contatos com lideranças políticas que a avó já disparava em agosto de 2017, quando o Diário Popular foi à casa da família.

"Pode ser que agora, que está mais perto das eleições de outubro, eles corram para achar uma solução", afirma. E lamenta pela demora na retomada. Enquanto o tempo corre, o pequeno Arthur realizou cirurgia - em fevereiro - para relaxar o nervo da panturrilha da perna direita. E se o novo par de órteses permanecer emperrado, não haverá outro caminho: precisarão arrecadar em torno de R$ 1 mil para adquiri-lo. Uma decisão que contraria: "É um direito. Pagamos impostos e temos que contar com os serviços públicos", reclama. E garante: a luta - e as queixas - são em nome das muitas crianças que também dependem do atendimento.

Alguns pacientes ficaram para trás
O sorriso segue no rosto. A vontade em restabelecer os movimentos com uma prótese na perna esquerda também permanece firme. Mas neste mais de um ano de espera, Jadir Lucena Nobre, 50, tem visto companheiros ficarem para trás. Cidadãos, em geral, idosos, que desistiram dos deslocamentos até Bagé para as sessões de fisioterapia, sem perspectiva de quando as próteses se tornariam realidade.

"É muito cansativo. A gente viaja umas cinco, seis horas, entre ida e volta, para fazer uma sessão que às vezes dura 50 minutos. Muitos desistiram", lamenta. E lembra que o compromisso se repete a cada 15 dias. Não raro, com ritual que começa na madrugada e só se encerra no final da tarde, se o trajeto for cumprido de ônibus para contemplar pacientes de diferentes áreas em que Bagé é referência à Zona Sul.

"Mas sigo indo para fortalecer a musculatura e a minha coluna. Minha perna tá pronta pra prótese provisória há uns seis meses e não posso perder a vez", reforça e faz questão de enfatizar o empenho da equipe do Serviço de Reabilitação. São profissionais que também alimentam sonhos e incentivam uma conduta positiva diante da vida e de seus dramas.

Do acidente de moto fica o aprendizado em recomeçar. As pedaladas ocorrem com adaptação nos pedais. As partidas de futebol com os netos, agora, o transformaram em goleiro. Os planos de integrar equipe de basquete adaptado. Em meio ao otimismo, há um forte suporte de familiares e amigos. À espera da prótese, entretanto, o desejo de comemorar os 50 anos com festa-baile, para poder dançar com a mulher Rosângela, não se concretizou. Mas a comemoração ocorreu, claro, com sorriso largo e churrascada.

Entenda melhor
Em maio do ano passado, a Ortopédica Canadense, de Porto Alegre, anunciou que não renovaria o contrato com o Serviço de Reabilitação Física devido aos recorrentes atrasos no repasse de verbas do Governo do Estado. Ao tomar a decisão, a dívida já ultrapassava os R$ 100 mil. Antes disso, em abril, certa de que interromperia o trabalho, a empresa já não assumia encomendas. Novos pacientes, portanto, deixavam de ser acolhidos.

De lá para cá, Estado e prefeitura buscavam um prestador para restabelecer o serviço. É o que deve ocorrer agora, a partir das negociações com a empresa Nemrod Medical, de Passo Fundo. É o que espera, atenta, a comunidade.

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