Saúde
Espera por tratamento oncológico se agrava
Pelotas e região têm 101 pacientes aguardando por radioterapia e início das sessões tem demorado mais de 60 dias
Carlos Queiroz -
O que já era grave no final de setembro agora está ainda pior. Pessoas com câncer que precisam iniciar o tratamento com radioterapia em Pelotas e outros 27 municípios da região continuam amargando uma fila de espera cada vez maior e mais lenta. Desde o final do ano passado sem poder contar com a estrutura do Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), a única alternativa dos pacientes tem sido o Centro de Radioterapia e Oncologia (Ceron) da Santa Casa de Misericórdia, incapaz de dar conta da demanda.
No dia 30 de setembro o Diário Popular publicou matéria em que gestores, médicos e pacientes relataram o problema. Naquele momento, 80 pessoas estavam na fila para os cuidados radioterápicos e a espera durava em média 45 dias. Menos de dois meses depois são 101 pessoas aguardando, sendo que 30 delas estão esgotando o prazo máximo de 60 dias previsto em lei para iniciar a terapia.
O problema seria minimizado com o encaminhamento para Rio Grande de parte dos pacientes oncológicos que têm Pelotas como referência assistencial. Lá, a Santa Casa possui equipamento para radioterapia e realiza 60 sessões diárias, dois terços da capacidade. No entanto, apesar do compromisso assumido em setembro pelo Estado de que em poucos dias liberaria o encaminhamento de parte dos pacientes da fila para o hospital do município vizinho, até agora isso não ocorreu.
A demora tem sido motivo de protestos de secretários de saúde dos 28 municípios das 3ª e 7ª Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS). “Por sermos a referência regional, tratamos de toda a parte técnica e burocrática para que os pacientes pudessem ser direcionados à Santa Casa de Rio Grande. No entanto, quando chegamos ao Estado com tudo encaminhado encontramos uma série de entraves”, reclama a secretária Ana Costa, de Pelotas.
Segundo ela, os gestores vêm tentando discutir desde outubro com a Secretaria da Saúde do Estado o fim do impasse pela falta de documento da Vigilância Sanitária do Estado atestando a capacidade do hospital para absorver mais pacientes. Contudo, por pressão do governo o tema tem sido retirado de pauta em reuniões da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), em Porto Alegre. Em encontro marcado para esta sexta-feira (24), na capital, a expectativa é debater o assunto e encontrar uma solução.
“Questionamos até que ponto a falta de eventuais adequações apontadas por este documento pode ser impeditivo para absorver os atendimentos. Ajustes podem ser necessários, só que enquanto isso acontece não se deve deixar aquela estrutura ociosa e pessoas com câncer esperando”, completa Ana Costa.
Para a secretária de Saúde de São José do Norte, o problema vai além da radioterapia e mais do que agravar a situação de quem espera por tratamento, já causa vítimas. “Tivemos uma paciente com leucemia de 52 anos que ficou mais de 50 dias aguardando cuidados. Acabou falecendo no último sábado. Mesmo com judicialização para que o Estado conseguisse tratamento isso não aconteceu”, relata Roberta Paganini.
600 quilômetros
Diante da urgência em garantir atendimento oncológico digno e da insolvência por parte do Estado em liberar o direcionamento a Rio Grande, os municípios estudam a hipótese de, em último caso, pacientes deixarem de ser referenciados para Pelotas e viabilizar encaminhamentos a Santa Maria - viagem de 600 quilômetros (ida e volta) pelo direito à saúde.
O próprio coordenador da 3ª CRS não descarta a possibilidade. “Acreditamos que a Vigilância irá liberar mais pacientes para a Santa Casa de Rio Grande. Porém, se isso não ocorrer podemos estudar o encaminhamento para Santa Maria”, diz Gabriel Andina.
Apesar de mostrar confiança de que Rio Grande pode ser uma solução temporária até que os novos complexos de radioterapia do HE-UFPel e Ceron fiquem prontos, em julho de 2018, o coordenador não arrisca uma data para que as pessoas com câncer acessem o tratamento. “Queremos que isso (liberação da Santa Casa) se resolva o mais rápido. Se possível até o final deste mês.”
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