Cultura
As belezas guardadas pela região
Nove cidades da Zona Sul concentram 41 dos 153 bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) no Rio Grande do Sul
Paulo Rossi -
Fachadas, ornamentos, azulejos e um tanto de memória guardada atrás de cada detalhe. Nove cidades da Zona Sul concentram 26% de todos os bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) no Rio Grande do Sul. E é justamente a cidade de Piratini - onde ocorreram alguns dos episódios mais marcantes da cultura gaúcha no século 19 - que recebeu a maioria das distinções. Dos 41 tombamentos da região, 15 ficam na Primeira Capital Farroupilha.
A Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer mantém parceria com o Sebrae para a elaboração de um projeto de desenvolvimento do Turismo em Piratini. Estabelecimentos, como hotéis e restaurantes, passam por um diagnóstico de gestão com um objetivo central: identificar aspectos a aprimorar para atrair novos visitantes e bem recebê-los. Certos de que o mais importante o município já possui: os feitos históricos. Basta valorizá-los.
“Ganhamos da própria história o nosso produto turístico. Por isso, a comunidade deve ter o patrimônio como um filho”, incentiva o secretário Fladimir de Moura Gonsalves. E defende: o turismo é lucrativo e tem condições de se tornar mais um setor para fomentar o desenvolvimento da economia.
Compromisso compartilhado em diversas mãos
A sinalização está espalhada por 880 metros do Centro Histórico e serve de guia para o visitante percorrer a Linha Farroupilha e conhecer, ao menos, parte dos 33 bens tombados em Piratini; considerados os títulos concedidos por União, Estado e Município.
São prédios como o antigo Teatro Sete de Abril, no largo Padre Reinaldo Wist. A construção, erguida por volta de 1830, recebia saraus e bailes em que se dançava fandango ao som de viola e rabeca. Durante a Revolução Farroupilha, o local chegou a sediar celebração em homenagem à chegada das tropas do líder Bento Gonçalves. Hoje, o imóvel está dividido entre duas residências particulares; uma delas com a fachada original preservada.
Sobrado da Dorada
A construção, de 1830, pertenceu a um dos primeiros médicos de Piratini, José Afonso Gassier. O francês era casado com Florinda Moreira, neta de Vicente Lucas de Oliveira, presidente da Câmara na época da Proclamação da República Rio-Grandense, em 1836.
E é, justamente ali, onde ainda resiste uma das lendas piratinienses. Do alto de uma das pilastras, o cão - símbolo de lealdade e também da Maçonaria - transforma-se em guardião da cidade. À noite, a estátua de cerâmica ganharia vida e, como cachorro de verdade, rondaria o sono dos moradores.
Entre a falta de apoio e a falta de investimento
O funcionário público Darwin da Costa Lucas tem em mãos o compromisso de preservar um desses 15 bens tombados pelo Iphae, em solo piratiniense. E é o que tem feito, principalmente, em respeito à memória do avô Manoel Ricardo Lucas.
Fachada conservada, madeiramento trocado, telhas originais, pintura sempre irretocável - orgulha-se, mas lamenta a falta de apoio do Poder Público. Uma postura que ganha reflexos no comportamento da própria população: “A comunidade não tem a consciência da preservação”, lamenta.
Vínculo afetivo
A piratiniense Ceura Amaral Frota, 82, abre as portas da residência para conversar com o Diário Popular. E, rápido, as memórias voltam à infância e à beleza dos dois casarões em que tem cruzado as décadas.
Primeiro, no imóvel ao lado, que foi a Casa do comendador Fabião, um dos primeiros comerciantes de Piratini. Depois de casada, no prédio de número 30, que havia sido a Casa Comercial dos Fabião.
Ambos integram a Linha Farroupilha. Motivo para estufar o peito. Motivo também para desapontamento, já que o reconhecimento não se converte em qualquer tipo de suporte público para os proprietários terem as construções bem conservadas.
Os desafios do turismo cultural
A professora da Faculdade de Administração e de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Dalila Rosa Hallal, é enfática: “O turismo cultural só deve ser incentivado à medida que traga benefícios para toda a comunidade, fazendo com que inclua e integre os moradores das cidades, valorizando as características locais e, sobretudo, dando oportunidades iguais a todos os atores envolvidos”.
E nesse processo de planejamento participativo, de respeito à diversidade e de valorização da identidade, é fundamental atentar-se ao fato de que cada localidade é única e possui particularidades - defende Dalila. E vai além: como opção social, ao interferir no cotidiano, ouvir a população é passo fundamental na tomada de decisão. “É fundamental respeitar e compreender os vínculos profundos do patrimônio com aqueles que o produziram: trata-se de reconhecer que, este saber fazer, preservar, difundir, aprender e refazer práticas são elementos indissociáveis.”
Novos tombamentos
O Iphae possui 23 processos de avaliação de tombamento abertos e entre as cidades contempladas está Rio Grande. A assessoria de imprensa do Instituto não revelou, entretanto, quais bens podem receber o reconhecimento.
As indicações, que geram a análise técnica, podem ser feitas por diferentes fontes, além do governo do Estado. Assembleia Legislativa, Ministério Público (MP) e a própria comunidade podem encaminhar sugestões. Aspectos históricos, arquitetônicos e ambientais ganham amplos e longos estudos.
O desafio aos proprietários, todavia, é fazer com que o “selo” concedido pela Secretaria Estadual de Cultura não se transforme em apenas um título e uma obrigação pela preservação que, se bem explorada, poderia se tornar um ganho coletivo.
Crie um roteiro para conhecer
1. Piratini
- Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril)
- Antiga Cadeia
- Antiga Casa da Fazenda
- Antiga Casa Fabião
- Antiga Farmácia Caridade
- Antiga Moradia de Egydio Rosa
- Casa Comercial dos Fabião
- Casa da Camarinha
- Casa de Gomes de Freitas
- Casa de Visconde Lucas de Oliveira
- Casa do Comendador Fabião
- Casa no Logradouro Reinaldo Wist, 15
- Ponte do Império
- Prédio da rua Bento Gonçalves
- Sobrado da Dorada
2. Pelotas
- Antiga Escola de Agronomia Eliseu Maciel
- Antiga residência do Senador Augusto Assumpção
- Casa da Banha
- Casa de João Simões Lopes Neto (Instituto)
- Castelo Simões Lopes
- Catedral de São Francisco de Paula
- Clube Cultural Fica Ahí Pra Ir Dizendo
- Palacete Payssandu - Casa de João Simões Lopes Neto
3. Rio Grande
- Antigo Quartel General 6º GAC
- Casa dos Azulejos
- Complexo Rheingantz
- Hotel Paris
- Prefeitura
- Reservatório metálico
4. Jaguarão
- Antiga Enfermaria Militar
- Clube 24 de Agosto
- Fórum
- Mercado Público
- Theatro Politeama Esperança
5. Pedras Altas
- Bens móveis do Castelo
- Granja de Pedras Altas
6. São José do Norte
- Centro Histórico
- Prefeitura
7. Santa Vitória do Palmar
- Cine Teatro Independência
8. Cerrito
- Prédio de Vila Freire
9. Candiota
- Usina de Candiota I
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