Luta
Gamp aposta na união no combate à violência
Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas atua há 26 anos em defesa dos direitos da categoria
Paulo Rossi -
O lilás é uma cor que significa transformação. E é com ele que está escrito Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas (Gamp) na camiseta que Alexandra Pereira, Diná Lessa Bandeira, Lúcia Maria Christ e Roberta Luzzardi vestem ao conversar com a reportagem. Elas, junto de Cecília Hypólito, Tânia Oliveira e Zely Franco Garcia, formam a organização feminista que já existe há 26 anos na cidade, sempre na luta por mudanças em prol dos direitos das mulheres.
O Gamp surgiu como a segunda ONG de viés feminista no Rio Grande do Sul. A criação veio na esteira de outros grupos internacionais, mas também como resposta a uma realidade local daquele período. À época, Pelotas viu eclodir o número de assassinatos de mulheres - hoje chamados de feminicídio. Um dos casos mais emblemáticos foi a morte de Luciety Mascarenhas Saraiva, estudante da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 1988, pelo ex-namorado. Como forma de pressionar a Justiça para que o autor do crime fosse preso, a mãe de Luciety, Jurema Saraiva, organizou um grupo para acompanhar o julgamento. O ativismo funcionou e o grupo segue o trabalho até hoje.
Dentre as conquistas da militância do Gamp está a construção da rede de proteção à mulher, através da Lei Maria da Penha. Atualmente, Pelotas é um dos sete municípios que contam com estrutura completa - delegacia e vara especializadas; coordenadoria de violência contra a mulher; centro de referência (Cras) de atendimento à mulher; serviços de saúde e casa de acolhida, esta batizada em homenagem à Luciety.
Em termos de acolhimento da Justiça, apesar de sentenças desfavoráveis em casos de violência doméstica seguirem acontecendo, as voluntárias do Gamp veem avanços nestes 26 anos de estrada. “Hoje se enxerga como preocupante e a criação da vara da violência doméstica e familiar contra a mulher foi um avanço”, comenta a assistente social Lúcia Maria Christ.
Entretanto, elas seguem, o avanço não parece ter se refletido de forma contundente no cotidiano. Homens não matam mais com tanta frequência, sob o explícito pensamento de que as companheiras são propriedades, mas os assassinatos seguem acontecendo - desde 2015, quando foi criada a Lei do Feminicídio, aumentou em 6,5%. Emblemático é o recente caso de Luciara Guiote, morta a facadas na Guabiroba pelo namorado sob o argumento de que ela “o tirava do sério”. A pelotense foi assassinada na frente da filha de 18 anos.
Em ação na periferia da cidade
Para manter a luta, que é contra toda a forma violência, desde a invisibilidade até a agressão física, o Gamp tem percorrido a periferia da cidade para realizar palestras, oficinas e rodas de conversa em centros comunitários, escolas e Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “O empoderamento se dá através do acesso à informação. Muitas mulheres não sabem que existe toda essa rede de proteção que as ampara. Nessas orientações explicamos como identificar essas atitudes e, ao fim da fala, sempre vem alguém para nos pedir socorro”, afirma a atual diretora do grupo, Diná Lessa Bandeira.
E é interessante perceber como esse diálogo solidifica essa união, que tem palavra no dicionário: sororidade. “A gente chora por pessoas que nunca viu na vida, porque existe essa empatia. E assim vamos juntas, sempre na resistência”, finaliza a diretora.
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