Boa ação
Grupo realizará ato pró-doação de órgãos em Pelotas
No Rio Grande do Sul, são 2.372 receptores aguardando na fila. Este ano ainda não houve doações na Zona Sul, diz organização
Lucas Kurz -
Um ato para a continuidade da vida. No próximo sábado, o grupo Pró-Doação de Órgãos estará reunido no largo do Mercado Central, das 10h às 16h, com o objetivo de chamar a atenção para a importância deste gesto. A iniciativa é de autoria do Rotary Club Princesa do Sul, que retomou o projeto “Doação de órgãos e tecidos” motivado pela luta de Elbert Kruger, que aguarda por um transplante de pulmão. O ex-diretor do então instituto de ensino Cefet está em Porto Alegre há um ano na expectativa da chegada do órgão.
Enquanto aguarda pelo transplante, professor Kruger, como é carinhosamente conhecido, tem sido um protagonista em campanhas de conscientização pela doação no Rio Grande do Sul. Entre a rotina de exames hospitalares, ele realiza lives, dá entrevistas e elabora um extenso trabalho por meio de informativos semanais.
Denominados “Doação de Órgãos, Tecido e Sangue”, os boletins apresentam dados da Central Estadual de Transplantes do Estado (CET/RS) e levantam estudos com o objetivo de divulgar informações para que a sociedade conheça os fatos e possa contribuir na busca para possíveis soluções e alternativas de campanhas para ampliar a adesão. “Não estou fazendo uma coisa para mim, estou fazendo para nós. Somos mais de duas mil pessoas no Rio Grande do Sul esperando por um órgão e o fato é que nós estamos esquecidos”, afirma Kruger.
O professor conta, ainda, que quando chegou a Porto Alegre encontrou uma realidade que jamais imaginava. Na fila, viu inúmeras pessoas que estavam com a mesma doença morrerem antes de conseguir a realização do transplante. “De janeiro até março, morreram 11 colegas que estavam na fila de espera por um pulmão. Nós temos um limite de tempo, o meu está acabando, o de outros colegas já acabou. Se não vier o transplante logo, eu não sei se estarei vivo no próximo mês”.
Kruger ressalta que, durante seus estudos sobre a doação de órgãos no Rio Grande do Sul, percebeu que a desinformação e a falta de políticas públicas voltadas para a importância da doação de órgãos e sangue são as principais causas para a pouca adesão no Estado. Para ele, é necessário um trabalho urgente e eficaz para conscientizar a população.
“As pessoas têm que conversar sobre a doação de órgãos. A negativa familiar é uma das maiores causas para a falta de doação, porque são raras as pessoas que falam sobre isso. Quando o ente querido falece, elas não sabem se ele gostaria de doar ou não. Tem que acabar esse tabu sobre a doação. A morte vai vir para todos, mas tem pessoas que morrem em circunstâncias que possibilitam que a vida continue em outro corpo. A possibilidade de uma pessoa acabar na fila à espera de uma doação é muito maior do que a de ser doador”, diz.
Na Zona Sul do Estado, a Organização a Procura de Órgãos (OPO 5), de Rio Grande, atende 22 municípios no serviço de captação. De acordo com os dados da organização, neste ano ainda não foi realizada nenhuma doação. Em 2021, foram apenas seis.
De acordo com Viviane Mendonça, enfermeira da OPO 5, os principais fatores para a escassez de doações são a falta de conhecimento da comunidade sobre o tema e a estrutura hospitalar deficiente. “Falta preparo na hora de identificar um potencial doador e realizar uma busca. Falta leito para esse paciente nas UTIs. Equipe são despreparadas para lidar com a situação”, avalia.
A enfermeira afirma que há uma grande carência de treinamento para as equipes das Comissões Intrahospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), principalmente para o momento de comunicar a família da morte encefálica do ente querido e de abordar a possibilidade da doação.
O cenário no Estado
No Rio Grande do Sul, até o dia 29 de abril deste ano, eram 2.372 os receptores na fila de espera por um órgão. A maioria aguarda pela doação de rim, córneas e fígado. “É importante salientar que a lista maior não significa mais tempo de espera. Esse tempo depende de vários fatores. Para rins, por exemplo, a lista é mais longa, mas, em compensação, é mais fácil receber um transplante renal do que um cardíaco”, destaca o coordenador adjunto da Central de Transplantes do RS, Rogério Caruso.
Diagnosticado com bronquiectasia, o mineiro Luiz Antônio de Faria, 23, se mudou para Porto Alegre para entrar na fila pela doação de dois pulmões. Ao todo, foram dois anos de espera na capital gaúcha, enquanto sentia a sua doença avançar.
“O processo é difícil, eu usava oxigênio 24 horas por dia. Conforme a doença avança, vai afetando o físico e o psicológico. Quando eu cheguei aqui, subia escadas, apesar do cansaço. Depois de um tempo, eu ficava cansado até para tomar banho. A espera é muito difícil, porque você convive com a esperança de uma doação e com o medo de não aguentar até o momento do transplante”, relata.
Para sobreviver, Faria necessitava da doação de dois pulmões. Há pouco mais de um mês ele recebeu a tão esperada notícia e foi transplantado.
“Era um domingo. Eu estava dormindo e o telefone tocou. Minha mãe foi atender bem desanimada, mas aí ela me chamou e eu fiquei extasiado, paralisado. Só depois que pensei, ‘nossa, eu consegui’. É um misto de felicidade e ansiedade, é tudo ao mesmo tempo. A melhor sensação de todas”, conta.
Como doar
No Brasil, a doação de órgãos e tecidos só é realizada após autorização familiar. Por isso é tão importante comunicar à família o desejo de ser doador. O procedimento pode ocorrer após a constatação de morte encefálica, que é a interrupção irreversível das funções cerebrais.
Órgãos em 29/04/2022
Coração 12
Córnea 877
Fígado 148
Pulmão 74
Rim 1252
Pâncreas 1
Pâncreas + rim 3
Fígado + rim 5
Pulmão + fígado 0
Respostas negativas
No ano passado foram 45 aberturas de protocolos de pacientes identificados como possíveis doadores de órgãos. Do total, 39 não foram concluídos:
Negativas da família - 18
Contraindicação médica - 13
PCR - Parada cardíaca - 4
Protocolos não concluídos devido ao paciente não resistir até a conclusão dos exames para a doação - 4
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário