Moradia

Maioria das casas do loteamento Estrada do Engenho já estão ocupadas

Moradores que receberam as moradias na última sexta usaram o fim de semana para fazer a mudança, enquanto não contemplados com projeto pedem clareza

Foto: Carlos Queiroz - DP - Rodrigo aproveitou a segunda-feira de sol para desmontar a antiga casa

Por João Pedro Goulart
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(Estagiário sob supervisão de Lucas Kurz)

A última sexta-feira foi marcada por muita alegria para 57 famílias que receberam novas moradias no loteamento da Estrada do Engenho. Essas pessoas que antes viviam em área de risco, às margens do canal São Gonçalo, finalmente puderam realizar a mudança para as novas casas populares, onde terão mais qualidade de vida e condições ideais para viver. Para essas famílias, a transição representa muito mais que uma simples realocação, mas também significa um clarão de esperança que funciona como motivação no enfrentamento diário dos desafios da vida.

Há oito anos, após a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre Município e MP, grupos familiares compostos por jovens mães, crianças e idosos aguardavam com ansiedade o dia da entrega dos lares populares, que enfim chegou. Hoje, o que restou de algumas das antigas moradias são apenas memórias sobre o dique de contenção do canal São Gonçalo, e a atenção se volta a uma quantia de casas coloridas, com acesso a energia elétrica e água encanada, deixando para trás o retrato do passado difícil vivido pelos humildes moradores da região.

A percepção das ruínas dos antigos casebres na Estrada do Engenho dá conta de que grande parte das famílias não perderam tempo, organizaram seus pertences e já concluíram a mudança de residência durante o fim de semana. Alguns poucos moradores ainda restam no local, retirando pedaços de materiais para reutilização, como é o caso do Rodrigo Soares, em torno de 25 anos. Rodrigo vive junto com o pai e ambos já estão aproveitando a nova casa desde sábado.

Mesmo assim, pai e filho, com a ajuda do amigo Charles, seguem trabalhando juntos na remoção de pedaços de madeira que serão úteis no lar recém-adquirido. “Levar o que tem de bom… madeira para fazer cercado, umas telhas boas para vender”, comentou. Os planos para a nova casa são os mais variados e Rodrigo pretende construir um galpão nos fundos da casa nova, para organizar o ambiente, agora que será possível. “Muda tudo, aqui não tinha saneamento certo e lá agora tem. Luz também, lá tem tudo certo”.

Ingressando no loteamento, o cenário é bem diferente do que foi visto na estrada. Praticamente todas as moradias já estão habitadas e a reportagem acompanhou o movimento de arrumação dos objetos pessoais de cada um. Enquanto isso, outras famílias já tinham tudo organizado e aproveitavam a sombra da frente de suas casas. É o que fazia Luciano da Silva, de 50 anos, que aproveitou o fim da mudança para receber parentes e amigos curiosos para ver o novo lar. Falando dos problemas da antiga casa, um dos visitantes lembrou: “O arroio quase encostava na casa quando chovia muito. Muito boas as casinhas, melhora a vida”, apontou. Ao posar para a foto, Luciano relembra que as condições de moradia antigas eram muito precárias, com ligações clandestinas de luz e água. “Aqui é outra vida. Ali naquele canal qualquer ventinho ou alguma chuva já tinha que ficar antenado”, disse o homem, enquanto reafirmava o valor da nova casa. “Vou tentar mudar cada vez para melhor, ter uma estabilidade, arrumar as coisas direitinho, conseguindo as coisas cada vez melhores”, completou.

Os lares construídos também estruturam a vida de muitas crianças na região. Andriele Fernandes, mãe de dois filhos, um de cinco anos e outra de quatro anos, iniciou a mudança levando aos poucos a mobília e eletrodomésticos. Enquanto isso, o filho mais velho desbrava a nova área, onde há pracinha e quadra amplas e seguras para brincar, algo inédito para as crianças. “Ele adorou, vive na pracinha. Ter uma cama decente para dormir, lugar onde não vá pingar”, admitiu a mãe.

Orgulhosa da nova moradia, ela relata como era complicada a vida antes. “A luz estava sempre caindo, o pessoal tinha que subir no poste para arrumar. Água para tomar banho tinha que ir na rua engatar a mangueira que passava por dentro do canal. Coisas que mudaram bastante “, completou.

E quem ficou para trás?

Embora grande maioria das famílias já estejam morando nas residências recém entregues, há moradores que ainda permanecem nas casas antigas por não terem sido contemplados com o projeto. Mais para o fim da estrada, mora em um chalé Luiz Carlos Gama. Após se separar da mulher, perdeu a casa que tinha e se mudou para a Estrada do Engenho.

Porém, se instalou no local depois da assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre Município e Ministério Público (MP), em 2016, que indica o desmanche das casas que restaram para construção de um parque. “Disseram que iam me arrumar um lote lá para a Farroupilha, e era para desmanchar o chalé e levar até lá. Mas como eu vou fazer isso sozinho?”, questiona.

Outro morador não contemplado é o vizinho de Luiz, o Alexandre Silveira, de 40 anos, que vive na região há mais de 15 anos. Segundo ele, “disseram que tinham coisas no meu nome”. Ao contrário do vizinho, Alexandre ainda não recebeu nenhum aviso acerca de um novo local para morar. “A princípio, não deram previsão de nada”, expôs. De acordo com os dois homens, foi avisado que a partir do dia que eles recebessem a notificação de desocupação do imóvel, teriam um prazo de 30 dias para sair do local.

Lotes da Prefeitura

O diretor executivo da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária (SHRF), Dino César Souza, informa que permaneceram na estrada do Engenho três famílias que foram identificadas pela equipe de serviço social da secretaria como oriundas de outras áreas da cidade e que já possuíam propriedades em outros locais. “Na ocasião do levantamento feito pelo Ministério Público elas não estavam ali naquela região, chegaram bem depois e por isso optamos por disponibilizar para essas famílias lotes para que possam levar suas casas, em outros pontos da cidade. Ninguém ficará desabrigado, todas serão reassentadas, apenas não ficarão no novo loteamento”, diz.

Conforme a Secretaria de Habitação os moradores contemplados no novo loteamento têm sete dias para retirar bens e materiais das antigas casas, liberando a área para o trabalho de remoção do restante dos materiais. A previsão é de que na próxima semana comece o trabalho de limpeza da área.

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