Saúde

Mais de 1,5 mil à espera por cirurgias

Fila se deve à falta de cinco anestesistas no HE-UFPel; solução segue indefinida

Carlos Queiroz -

Mais de 1,5 mil pessoas estão em fila de espera para cirurgia no Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel). E o pior: não há data certa para a solução chegar e os atendimentos serem agilizados.

Atualmente, a instituição conta com sete anestesistas e enfrenta problemas para o fechamento de escala presencial 24 horas, considerando férias, folgas e afastamentos. A estimativa é de que mais cinco profissionais precisariam compor a equipe para, em um prazo de aproximadamente cinco meses, a fila ser efetivamente reduzida.

Enquanto isso, são priorizados os pacientes com câncer - já que o HE é referência em Oncologia - e também aqueles que já estão internados e necessitam de procedimentos de urgência. Com apenas um anestesista por plantão, o hospital fica com parte da estrutura ociosa, já que existem duas salas para cirurgias eletivas e uma para situações de urgência - principalmente em função dos partos de alto risco -, mas não há médicos anestesistas de prontidão para colocá-las em funcionamento ao mesmo tempo.

O caso já virou, inclusive, ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) para exigir providências, mas o resultado prático, na vida dos pacientes, segue emperrado.

Enquanto o tempo corre, rumo do tratamento permanece indefinido
Quem aguarda solução, vê a preocupação aumentar. É o caso da aposentada Clara Maria Moreira, 59. Em julho do ano passado, um ultrassom de rotina identificou que o endométrio - camada interna do útero - estava com 1,9 centímetro de espessura e o alerta foi feito: espessamento de natureza a esclarecer. 

A moradora do bairro Três Vendas passou a buscar orientações. Em novembro, após consulta na Faculdade de Medicina (Famed/UFPel), recebeu indicação de realizar curetagem semiótica que irá permitir retirada de material para biópsia. “Preciso investigar o porquê dessa alteração. Se tiver algum problema, quanto mais cedo puder atacá-lo, melhor”, enfatiza. E admite: já recorreu pelo menos duas vezes à Ouvidoria do hospital para cobrar agilidade, mas até hoje aguarda previsão de data para o procedimento.

“Tenho sentido dores muito fortes na perna esquerda e não tenho a mínima ideia se tem alguma relação com esse problema no útero, que pode ter se agravado nesses nove meses, desde que fiz o exame”.

O jeito foi recorrer à Justiça
O volume de papéis revela a correria dos últimos meses. Em final de novembro, a aposentada Dilma Regina Minks, 71, recebeu indicação para ser internada para retirada do rim direito. O quadro era de hidronefrose; uma doença em que o rim fica dilatado devido à obstrução do fluxo da urina. Com o receio de que a situação pudesse evoluir para um câncer ou provocasse o comprometimento do órgão também do lado esquerdo, a família se mobilizou. Dilma já havia passado pelo Pronto-Socorro de Pelotas (PSP) e pela Beneficência Portuguesa em 2018, devido a infecções urinárias recorrentes.

“As dores eram terríveis”, conta a moradora do Sítio Floresta. Os alvos, portanto, dividiram-se entre o Conselho Municipal de Saúde e a Defensoria Pública. “É um absurdo que a pessoa trabalhe, contribua, pague tudo direitinho e quando precise do SUS não vá ter acesso”, desabafa a nora Nailê Alves Amaral, que liderou a corrida por atendimento.

E embora não possuam em mãos, entre exames, laudos, documentos e encaminhamentos, nenhuma decisão judicial, ambas têm convicção: a cirurgia só foi realizada em 28 de março após acionarem a Justiça. Do contrário, ainda estariam prevalecendo os argumentos apresentados pelo Hospital-Escola em 9 de janeiro: (...) não se trata de diminuir a gravidade da patologia da paciente em questão, menos ainda de negar atendimento aos usuários em detrimento de outros, mas de estabelecer prioridades de agendamento frente à situação momentânea do hospital.

A posição da Direção do HE
A superintendente do HE-UFPel, Samanta Madruga, garante que em nenhum momento a gestão teria ficado inerte à situação. A ação civil pública do MPF contra a Ebserh teria exigido a convocação de três anestesistas aprovados no concurso nacional, mas na prática não foi o que ocorreu. Efetivou-se contratação de apenas um profissional, que acabou por não representar reforços à equipe. “O médico serviu de reposição da exoneração de outro anestesista ocorrida em outubro de 2018”, explica.

A direção do HE passou, então, a buscar outras duas soluções junto à sede da Ebserh, em Brasília. Ambas em vão. A contratação dos candidatos aprovados que escolheram o HE como segunda opção no concurso não foi autorizada. A realização de processo seletivo simplificado, em que é aberto edital e a seleção é feita com base em currículos e experiência, também foi vetada.

“Na continuidade da ação do MPF, a Justiça recentemente negou a liminar que solicitava a contratação imediata dos profissionais que estão faltando”, lamenta a superintendente. E destaca que com grupo de 12 anestesistas - conforme aponta dimensionamento realizado pela própria Ebserh -, o hospital teria condições de fazer até 370 cirurgias por mês. Atualmente, este número não ultrapassa a média de 210 procedimentos por mês.

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