Saúde

Média de cesarianas em Pelotas é superior a do país

A prevalência nos serviços públicos de saúde fica em 40% e nos privados, 85%

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         Jornalista e professora Caroline Casali optou pelo parto normal (Foto: Gustavo Mansur - DP)

Estatística local indica que 65,7% dos bebês nascidos em Pelotas são por meio de cesarianas, percentual superior ao do país, de 56%. São 1,6 milhão de cirurgias feitas por ano no Brasil, o que aumentou progressivamente nas últimas décadas, segundo dados do governo federal. A prevalência nos serviços públicos de saúde fica em 40% e nos privados, 85%. Com base nesses números, o Ministério da Saúde baixou a portaria 306/2016, que aprova as Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana.

A normativa objetiva oferecer aos profissionais da saúde e às mulheres brasileiras orientações e recomendações baseadas em evidências científicas sobre importantes questões relacionadas à intervenção, assim como promove o uso de políticas e práticas informadas por evidências científicas no território nacional. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa não ter acesso direto ao Termo de Consentimento Livre Esclarecido que, além de informar a gestante sobre as condições e os riscos do procedimento, deveria trazer a justificativa médica para a realização da cirurgia.

Segundo a enfermeira do Núcleo de Atenção à Saúde Materno-Infantil da SMS, Adriane Medeiros, a elevada estatística de partos cesáreos em Pelotas representa um grande desafio para a política de saúde, considerando os riscos desnecessários para a mãe e a criança - além da associação com a mortalidade materna e os custos adicionais para o sistema de saúde.

Enfatiza que o programa Mãe Pelotense, em consonância com as diretrizes do Ministério da Saúde, têm como objetivo incrementar ações na Rede de Atenção à Saúde para a promoção de um pré-natal acolhedor e resolutivo. A expectativa é melhorar o cenário a partir de ações, entre elas a diminuição de partos cesáreos, a captação precoce da gestante, a realização de no mínimo seis consultas no pré-natal e uma pós-nascimento, e a redução de partos prematuros.

Segundo a ginecologista e obstetra Gislaine Vargas, em torno de 60% das mulheres que chegam ao seu consultório querem fazer cesariana, o que acredita ser, acima do medo de sentir dor, uma necessidade de querer programar tudo, o que de certa forma é cultural. Ou porque o marido trabalha em outra cidade ou porque reside em um município menor, que não tem suporte de atendimento ao recém-nascido ou até por medo de enfrentar a estrada na madrugada.

A comerciária Daiane Moreira, 32, está no grupo das mulheres que optaram pela cirurgia, decisão que já havia tomado mesmo antes de engravidar. “Tive dois exemplos de partos na família: um normal, outro por cesárea. A que teve normal ficou muito mal e a outra não. Tenho uma amiga que também fez por cesariana e disse que não sentiu nada”, justifica ela, que um dia depois de participar dessa reportagem ganharia Giovana.

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       Mesmo antes de engravidar Daiane Moreira já havia optado pelo método cirúrgico (Foto: Carlos Queiroz - DP)

A pedagoga Lauren Heres dos Santos, 32, espera um casal de gêmeos - Elisa e Joaquim - e diz que só por isso passará pela cirurgia. Mesmo querendo parto normal na primeira gravidez, da filha de dez anos, também não conseguiu. Uma semana antes do parto foi constatado que a bebê esteva em uma posição desfavorável e o cordão umbilical enrolado nas pernas dela. “Não escolhi cesárea em nenhuma das vezes”, ressalta.

A médica acentua pertencer a uma geração que preponderantemente pregava o parto normal. Antigamente a taxa de operações não passava dos 20%. Explica que entre as cesarianas está a eletiva, quando é uma escolha da paciente, e por indicação obstétrica, quando constatado algum problema materno ou fetal. “Eu penso que sempre que possível e não vá oferecer risco para a mãe e o bebê, o parto vaginal é melhor, mas a cesariana pode ser muito boa se houver necessidade e, mesmo que seja uma escolha da mãe, devem ser obedecidos os sinais de segurança dela e do bebê”, frisa.

A jornalista e professora Caroline Casali, 33, teve o segundo filho de parto normal, 16 anos após o nascimento de Guilherme. Theodoro nasceu no dia 3 deste mês. “Os partos dos dois foram uma escolha, porque eu tinha todas as condições. Eu acredito que traga benefícios para mãe e filho. A recuperação é mais fácil e mais rápida, a amamentação também flui melhor, o leite desce mais ligeiro”, comenta.

Além disso, considera que nada se compara à sensação de receber a criança no peito imediatamente após seu nascimento. “É um momento especial e uma chance de ser protagonista do parto. Na cesárea fica tudo na mão dos médicos. Eu queria que eles nascessem no momento que quisessem e queria participar desse momento”, completa.

Diretrizes visam promover uso de políticas e práticas
De acordo com o Ministério da Saúde, em condições ideais, a cesariana é uma cirurgia segura e com baixa frequência de complicações graves. Além disso, quando realizada em decorrência de razões médicas, a operação é efetiva na redução da 

mortalidade materna e perinatal. Entretanto, é frequentemente utilizada de forma desnecessária, sem razões médicas que possam justificar as altas taxas observadas no Brasil.

O grupo de trabalho que elaborou as diretrizes salienta que, embora as complicações maternas graves associadas à cirurgia sejam muito pouco frequentes, quando esse procedimento é realizado centenas de milhares de vezes ao ano observa-se um número expressivo de complicações cirúrgicas graves. Juntamente com as questões sociais, estruturais e biomédicas que determinam a mortalidade materna no Brasil, acredita-se que as complicações da cesariana possam ser um fator adicional que contribui para a atenuação da velocidade de redução da mortalidade materna no Brasil.

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Do ponto de vista neonatal, principalmente pela realização de intervenções cirúrgicas desnecessárias em mulheres com idade gestacional ao redor da 37ª semana, o procedimento passa a ser um fator contribuinte para a prematuridade tardia iatrogênica (estado de doença, efeitos adversos ou complicações causadas por ou resultantes do tratamento médico), da ocorrência de desconforto respiratório neonatal e internação em unidades de terapia intensiva neonatal. Mas, além dos seus efeitos na morbidade e na mortalidade materna e neonatal, a cesariana pode interferir na vinculação entre a mãe e o bebê, no aleitamento materno e no futuro reprodutivo da mulher, além de possíveis repercussões de longo prazo na saúde da criança.

As diretrizes têm a finalidade de promover o uso de políticas e práticas informadas por evidências científicas no território nacional. A tarefa de desenvolver diretrizes informadas por evidências científicas envolve a realização de diversas revisões sistemáticas, a classificação e a interpretação das evidências científicas e o desenvolvimento de recomendações em consenso que incluem os profissionais da saúde e os representantes da sociedade civil.

Sem custo adicional nos planos de saúde
A assessoria de comunicação da Unimed informa que o parto normal está incluído nos planos hospitalares e faz parte da cobertura dos planos obstétricos, conforme a lei 9.656/98. A definição por cesárea ou normal ocorre com a indicação do médico assistente. Cabe ao profissional orientar a gestante sobre o contexto de cada um dos procedimentos. Não há cobrança de taxa extra para realização de cesarianas.

No Saúde Maior, conforme a auditora médica Elisa Hallal e o médico Rodrigo Brezolin, a cobertura ocorre para todos os tipos de partos, desde que seja no ambiente hospitalar, com os profissionais obstetras credenciados pela operadora. O parto normal está incluído no plano, sem restrições. Já o por via abdominal (cesariano) é indicado nas situações em que seja mais seguro para mãe e bebê. Não existe nenhum custo adicional para realização do parto, seja por qualquer via.

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