Saúde

Metade Sul é a pior região com cobertura de mamografia de rastreamento

Dados são do Observatório do Câncer do RS e colocam as 3ª e 7ª CRS com níveis abaixo da meta do Estado

Foto: Divulgação - DP - Para melhorar o desempenho das regionais, foram adquiridos, no ano passado, seis mamógrafos digitais

No mês dedicado à fala, à prevenção, aos cuidados e ao tratamento do câncer de mama a Metade Sul do Estado apresenta um dado alarmante: a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), com sede em Pelotas, e a 7ª CRS, em Bagé, estão abaixo da meta de cobertura de mamografia de rastreamento (31% ou mais) no público alvo e precisam criar mecanismos para mudar o cenário. Os dados são do próprio site do governo do Rio Grande do Sul, divulgados pelo Observatório do Câncer do RS. A culpa pode estar na estrutura. Dos 225 mamógrafos disponibilizados pelo Estado às CRS, a macrorregião sul tem 15 equipamentos.

Com isso, enquanto a cobertura total gaúcha para rastreamento está em 41,7% (na média entre 2015 e 2022), a Regional Pelotas tem 17,3% e a Regional Bagé, 16,7%, do público alvo. No comparativo, a média da 11ª CRS, em Erechim, é de 53,4%. Em relação a realização do exame, a média estadual é de 64,4%, sendo que as 3ª CRS e 7ª CRS atingem 62% e 60%, respectivamente, embora todas estejam longe da meta de 90%. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) tem duas justificativas para esses índices: exames realizados em mulheres que não estão na faixa correta do alvo e, por ser coletados nos sistemas de informação, acredita-se que Municípios que não registram sua produção ou utilizam sistemas próprios que, por vezes, têm dados subnotificados. Pode-se atribuir ainda a alta demanda e a pouca estrutura: atualmente o RS tem 227 mamógrafos SUS em uso, distribuídos em todas as regiões de saúde. Destes, 15 estão localizados na macrorregião de saúde sul, composta pelas 3ª e 7ª CRSs.

 
Mutirão

Pelotas segue no padrão de percentual para rastreamento e, em 2022, ficou com o índice de 17,9%. A diretora de Atenção Especializada e Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Caroline Hoffmann, explica que o maior prestador de mamografias do Município é o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel), e no primeiro semestre de 2022, o mamógrafo passou estragado. A recuperação veio no segundo semestre, através de incentivos do programa Saúde Ativa, onde as mamografias foram contratualizadas pela Prefeitura com outros hospitais, aumentando o número de exames de rastreamento, compensando a oferta.

Um novo problema no mamógrafo do HE voltou a aumentar a fila de espera no início de 2023. Desta vez, por questões orçamentárias, o Município não conseguiu manter as contratualizações com Saúde Ativa, o que causou impacto na oferta de exames na cidade. Mesmo assim, a Prefeitura segue com as mamografias de rastreamento em mulheres com idade entre 50 a 69 anos. A busca ativa deste público é feita nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para que os exames sejam realizados na frequência determinada pelo SUS.  

Caroline Hoffmann esclarece que, com o retorno do funcionamento do equipamento da HU, a expectativa é que seja realizado um mutirão. "Aliado a isso, está o incentivo para que a população procure sua unidade mais próxima para manter seus exames atualizados, bem como fazer o autoexame", destacou a diretora. Isto porque a demora no diagnóstico do câncer de mama pode impactar negativamente no tratamento da doença. Caroline lembra ainda que a incidência do câncer de mama e de mortes causadas pela doença não estão relacionadas à realização de exames de mamografia, pois este apenas dá o diagnóstico precoce ao paciente para que ele realize o tratamento. "A incidência está relacionada a fatores de risco, que podem ser hereditários, genéticos e ambientais, por exemplo. Consequentemente, quando existe uma maior incidência, o número de óbitos será maior".

Com essas referências, a doméstica Cláudia Luiza de Oliveira da Rosa, 49, achou que teria prioridade na fila de espera. Ela já perdeu uma irmã e uma tia com câncer de mama, e que no seu caso, além da mamografia, ela deve fazer um ultrassom de mamas. Ocorre que mesmo com histórico familiar, ela aguarda há dois anos para ser chamada. A paciente costuma cobrar a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Bom Jesus, e tem como resposta que ainda não foi aprovado. Por ter seios volumosos, ela diz sentir muita dor. "Minha preocupação é que perdi familiares dos dois lados para essa doença horrível. Mas o que posso fazer se não tenho dinheiro para arcar com um exame particular? Os médicos pedem, mas nunca somos chamados", desabafou. A expectativa agora recai sobre a chegada do mutirão.

Mesmo com indicadores de rastreamento baixos, Pelotas registrou, conforme levantamento do setor de Atenção Especializada e Hospitalar da SMS, cem internações cirúrgicas por neoplasia de mama em 2021. No ano passado foram 117 procedimentos e, até outubro de 2023, 61 hospitalizações registradas. Diante desses dados, a média de hospitalizações se mantém ao longo dos dois últimos anos e tende a se manter até o final de 2023.

Gestão para melhorar indicadores
Para melhorar o desempenho das regionais foi adquirido no ano passado, através do Programa Avançar, seis mamógrafos digitais, sendo um deles destinado para a Santa Casa de Rio Grande. No mesmo ano, por entender que as duas regiões do sul do RS têm particularidades de acesso, foram desenvolvidas, em parceria com o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama), ações conjuntas com os gestores e profissionais de saúde, a fim de qualificar e ampliar o rastreamento.

Isto porque os dados do Observatório apontaram que, em média, de 2015 a 2022, mais de 25% (75 mil) dos exames anuais foram realizados fora da população alvo, expondo pacientes de forma desnecessária e consumindo recursos públicos sem produzir um rastreamento efetivo. Já 40% (40 mil) dos exames realizados de forma correta quanto à população alvo, mas erroneamente com um intervalo menor do que dois anos. Se nos dois casos fossem usados os critérios exigidos pelo SUS para os 115 mil exames anuais, a cobertura estadual do rastreamento contra o câncer de mama subiria de 40% para 60%. Além disso, cerca de 18% (54 mil) dos exames anuais são realizados com uma periodicidade maior do que dois anos colocando pacientes em risco por diagnóstico tardio, como no caso da Cláudia, citada nesta matéria.

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