Missão

Missão levada à risca durante 163 anos

A preocupação em preservar os direitos da criança e do adolescente une profissionais no Instituto Nossa Senhora da Conceição desde 1855

Paulo Rossi -

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Atividades multidisciplinares geram oportunidades para o futuro dos jovens (Foto: Paulo Rossi - DP)

São 163 anos de história. Setenta e cinco meninas atendidas anualmente. Uma missão que une uma grande equipe. O Instituto Nossa Senhora da Conceição foi fundado em 7 de setembro de 1855, com o intuito de prestar serviços e ações de cunho socioassistencial. Certificada como Entidade Beneficente de Assistência Social, a instituição sem fins lucrativos acolhe crianças e adolescentes do sexo feminino de seis a 12 anos, em situação de vulnerabilidade social. Atividades e projetos são desenvolvidos mediante o trabalho de profissionais dos mais diversos campos do conhecimento, unidos pela vontade de oferecer oportunidades para quem mais precisa.

Pautado na política de assistência social, o serviço oferecido busca incentivar a convivência e fortalecer vínculos através de um espaço de vivência socioeducacional e cultural. Ser agente da transformação é o principal objetivo da instituição. São 75 meninas, oriundas de diferentes bairros da cidade. A partir dos seis anos elas já podem se inscrever para participar. Tão jovens, mas com diversos motivos em comum que as levam até lá. Todas estão expostas à situação de risco social, como trabalho infantil, relações conflituosas com as famílias e violência doméstica. Sabendo que a problemática existe, se trabalha a prevenção e não apenas a cura para os problemas.

A assistente social Liz Helena Rodrigues detalhou como é a rotina no local. De manhã, elas estudam nas suas escolas. A partir das 12h30min, se reúnem no Instituto para almoçar. A tarde é repleta de atividades educacionais, culturais e assistenciais. As pequenas são divididas em três turmas, de acordo com a sua faixa etária, e cada uma tem sua professora responsável. Temas como preconceito, inclusão e cidadania são debatidos em sala de aula, um local descontraído e decorado de acordo com a vontade delas. Noções de música, teatro e dança também são ensinadas.

Cada menina tem direito a uma hora por semana - para que todas tenham oportunidade - nos computadores com acesso à internet. A instrutora Rosa Mara Dias explica que o intuito das aulas de informática é dar recursos para complementar o que é aprendido no colégio. Ela conta que as meninas trazem sérios problemas de casa. Por isso, quando chegam no Instituto, se deparam com um "mundo muito agradável". A psicóloga Ana Maria Porto colabora para deixar essa experiência mais prazerosa, auxiliando as crianças e seus familiares. O relacionamento criado se fortaleceu tanto que ir ao psicológico se tornou algo divertido e natural. "Elas chegam e dizem: tia Ana, nós precisamos conversar", lembrou. É uma forma de suprir a carência de quem já teve tantos vínculos rompidos.

Brinquedos se espalham pelos cômodos da instituição, organizados diariamente pelas próprias meninas. O ato de brincar é incentivado pela equipe. "É um resgate à infância", justificou a psicóloga. Essa dinâmica permite uma troca entre os profissionais e as pequenas, pela qual que se descobre e se aprende um pouco mais sobre o outro. É feito um trabalho de inclusão com as famílias, conforme explica a assistente social e coordenadora administrativa Maristela Silva. Dessa forma, também é disponibilizado aos familiares o desenvolvimento físico, psíquico e moral feito na instituição.

Trabalho em equipe

O corpo técnico é formado por uma equipe extremamente unida. A higienização precisa ser feita, a comida precisa ser preparada todo dia (com doações da Mesa Brasil e do Banco de Alimentos), os visitantes precisam ser atendidos por uma secretária. Cada detalhe é pensado e as ações executadas com carinho. "Isso aqui ainda existe graças ao trabalho e ao apoio de todos", afirmou, emocionada, Maristela. Uma parceria feita com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) possibilitou a introdução de diversos projetos no Instituto. Um trabalho odontológico, por exemplo, é feito com professores. Até mesmo intercambistas são recebidos, vindos de países como Chile e México.

Há 17 anos, a Cooperativa dos Propagandistas de Pelotas (Coopropel) e seu sindicato (Sinpropel) são apoiadores. Desde 2017, kits completos de materiais escolares são entregues, visando incentivar o estudo. "Enxergamos a instituição como um local do bem", justificou Edson Donato e Cristiane Gomes, representantes. A partir de janeiro, um projeto desenvolvido por eles disponibilizará mensalmente livros para todas as faixas etárias. Um plano de reestruturação e preservação do patrimônio cultural do prédio também está em andamento, coordenado pela arquiteta e urbanista Simone Neutzling. O local, segundo ela, possui um grande acervo, "de muita riqueza".

Comemorações e despedidas

Todas as importantes datas são comemoradas, contou o professor Manoel Luiz Brenner de Moraes, presidente do Instituto Nossa Senhora da Conceição. Os dias que antecedem o Natal são marcados por ensaios para uma grande apresentação de fim de ano. Na tarde de terça-feira, sorrisos se espalhavam enquanto uma música natalina era cantada. A grande festa contará com um Papai Noel e a presença das famílias de todos os profissionais envolvidos, possibilitando um maior conhecimento acerca da realidade vivida lá dentro. Uma grande reunião é promovida, fortalecendo ainda mais os laços criados. É oferecida às meninas a oportunidade de conhecer quem as ajuda.

Porém, apesar de ser uma época animada, o final do ano também é um momento triste. Quando completam 12 anos, elas precisam deixar o Instituto para abrir espaço para outras chegarem. Uma fila de espera se forma a cada ano, já que há encaminhamentos do Conselho Tutelar e da Coordenadoria Regional de Educação (CRE). As adolescentes se sentem vulneráveis, pois estão prestes a se despedir de quem as abrigou por tanto tempo. "O último dia é uma choradeira", relatou a psicóloga Ana.

O aprendizado

A maior lição para a pequena Izabely, de sete anos, é "não machucar os outros". Ela frequenta o Instituto há um ano, assim como a Camile, de nove. Ela aprendeu a ler, a escrever e, principalmente, "a ser educada". O que as duas mais gostam de fazer é brincar. Um pouco mais velha, Emily, 12, gosta das aulas. Lá aprendeu um pouco mais sobre respeito, educação, sobre como ajudar o próximo e, principalmente, aprendeu a ser amada: "Desde o dia que eu cheguei, todo mundo ficou me abraçando".

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