A população que vive na rua Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou popular rua Tom Jobim, no Laranjal, tem convivido com problemas provenientes das modificações realizadas no antigo reservatório de água R15. Antigo, pois, há algum tempo, por conta das demandas causadas pelo crescimento populacional do bairro, foi preciso transformar o reservatório em uma estação de tratamento do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep). Segundo os moradores, o resultado mais evidente dessa mudança foram os impactos trazidos à natureza que são perceptíveis ao redor da área.

A grama que cobre a extensão da calçada no local está visivelmente danificada e menos verde que os canteiros das residências que se avizinham. Duas árvores amoreiras que anteriormente, segundo relatos dos vizinho, produziam folhas, atualmente se encontram mortas, restando apenas o tronco e os galhos secos. Essa situação tem uma suposta explicação: canos instalados próximo ao alinhamento predial da estação que podem estar expelindo efluentes químicos em direção à calçada. Isso é o que temem os moradores. Em uma pesquisa pelo Street View, recurso do Google que permite a visualização de diversos locais do mundo sob a ótica de um veículo na via, o cenário é bem diferente. As imagens datam de outubro de 2022, e as tubulações ainda não estão lá, assim como as árvores estão inteiras.

Conforme conta o morador Maurício Polidori, de 67 anos, o meio-fio da rua acaba acumulando o líquido efluente que é constantemente evacuado pela estação. O homem desconfia que os resíduos líquidos são gerados de processos que ocorrem dentro da estação de tratamento, provavelmente sendo da limpeza de filtros ou algo do tipo. "A gente não sabe o que contém nesses efluentes, mas eles correm dia e noite. Parece que chove permanentemente. Corre água aqui de um metro de largura", manifesta.

Outra mudança recente feita nas imediações do reservatório tem apresentado riscos à população que vive naquelas proximidades. Uma caixa com cerca de dois metros de largura foi construída fora da área da estação, ficando instalada sobre o passeio público da rua Tom Jobim. O buraco fica acima do nível do piso, tem quase um metro de profundidade e está aberto há três semanas, desde que foi instalado. Por não estar coberto, isso tem causado um acúmulo de água parada dentro do buraco. Chegando perto, é possível perceber que larvas já se acomodam na superfície do líquido, o que no período que se vive, de explosão de casos de dengue pelo país, não é a melhor informação. "Justamente em um momento que se combate a dengue. A gente cuida de um vaso de planta em casa e eles fazem isso. E é perigoso, vá que caia ali um animal ou uma pessoa ", complementou o Polidori.

Posicionamento do Sanep

De acordo com a assessoria de comunicação do Sanep, a água em questão é decorrente da retrolavagem dos contêineres móveis responsáveis pelo tratamento da água distribuída ao Laranjal. A autarquia diz que procedimento é imprescindível para o funcionamento correto das estruturas e, consequentemente, para assegurar a qualidade do abastecimento do bairro, que durante mais uma temporada de verão não registrou períodos de falta de água. O Sanep foi alertado sobre o fluxo de água decorrente da limpeza realizada nesta semana e fez contato com a empresa terceirizada responsável por operar o sistema móvel. O intuito é diminuir o volume de água, mediante intervalos maiores entre as retrolavagens de cada contêiner, minimizando assim a vazão de água decorrente da operação, como foi feito em outras oportunidades.

A respeito do buraco, a autarquia diz que trata-se da instalação de macromedidor para acompanhamento em tempo real das vazões e pressões de água distribuída ao Laranjal. As tampas estão em processo de finalização e a previsão era que fossem instaladas ainda na quarta-feira (6), após a reportagem ir ao local.