"Nós só queremos uma estrada", diz um pescador indignado frente ao cavalete que impede a passagem ao Pontal da Barra. O acesso foi interrompido após equipes da Prefeitura realizarem um serviço paliativo no local, o que não solucionou o problema para os moradores, pois veículos de quatro rodas não passam pelo areião. Esgotados diante a tantos prejuízos, na sexta-feira um grupo de moradores foi recebido para uma reunião pela chefe de Gabinete, Kelli Baum, e pelo secretário de Governo e Ações Estratégicas, Fábio Machado, na Prefeitura. Ficou agendado um encontro com a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), no dia 24, que ainda não teve confirmação.

O serviço, considerado intervenção emergencial, ficou acordado no encontro para viabilizar a situação de quem mora no local e busca minimizar o impacto dos estragos da chuva que se acumula desde setembro. No sábado, camadas de aterro foram retiradas só para a passagem a pé ou empurrando a bicicleta. Uma barreira, feita com tronco de árvores, foi improvisada como forma de garantir a segurança dos condutores e também cenário para protesto, pois foram expostos cartazes pedindo uma estrada.

Nestas condições, o cenário na manhã de ontem era de uma caminhonete de transporte parada e de moradores transitando a pé caminhando em direção ao Valverde. Sob o sol forte, a pescadora Elizete Correa, 63, estava indo trabalhar - serviço considerado bico, pois seu carro forte é a venda dos bolinhos de peixe e risoles de camarão. "Ninguém mais compra porque falta estrada. Também não temos como calcular o prejuízo, pois perdemos tudo o que tínhamos de pescado congelado, sendo que era a nossa garantia de algum recurso durante o período de defeso. Mas com a enchente de setembro, foi tudo embora, inclusive a estrada", explicou.

Até para não ter que pagar luz a mais que o consumo, o pescador João Carlos Vargas Borges, 62, conta que vai até a CEEE Equatorial informar a numeração do relógio, pois nunca mais foi medido pelos funcionários da empresa. Os dois lamentam que nesse momento não aparecem representantes da Prefeitura e da Câmara de Vereadores na comunidade para ver como está a situação. Depois de caminharem quase dois quilômetros para chegarem ao destino, ambos os trabalhadores da pesca disseram, em tom de desalento, que não acreditam nas promessas. Para eles, a solução seria fazer uma estrada por dentro do bairro, com saída da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), que não haveria mais problemas. "Mas como nós não damos lucro para o Município, acredito que não há interesse em melhorar nossa condição de vida", concluiu Elizete ao lembrar que toda a água do Guaíba, que apresenta nova cheia recorde, vai descer e inundar todo o trecho novamente. Além disso, a previsão marca chuva para quarta-feira.

O pescador Carlos Eduardo Hernandes Vaz, 44, sendo 30 de profissão, sugere que seja feita uma estrada mais alta nos trechos apontados pelos moradores à Prefeitura, a exemplo do que fizeram na balsa durante uma grande enchente na década de 70. "A água da Lagoa dos Patos bate nesses trechos e corrói toda a estrada. Todo inverno é assim", lamenta. A outra alternativa seria a contenção de pedras, que já teve uma época, mas foi retirada após decisão judicial. "Outra situação inacreditável é que são tantos anos de problemas na estrada que ainda não temos uma via secundária. Tem uma marcada no mapa, mas não saiu do papel."

Estudo técnico

Na reunião de sexta, o secretário Machado informou que o Município trabalha em um estudo técnico direcionado à região do Pontal da Barra, que deve apontar as medidas necessárias e legais para a recuperação definitiva da estrada. A previsão é de que esta semana o laudo já esteja disponível e possa ser divulgado no encontro com a prefeita, caso a reunião seja confirmada.