Paixão

Nas entranhas do Pantanal

Dois aventureiros de Pelotas pretendem atravessar de caiaque um dos mais bem conservados biomas do planeta

Carlos Queiroz -

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Os amigos Noé Vega, 65, e Carlos Delevati, 57, vão percorrer661 quilômetros de caiaque. (Foto: Carlos Queiroz)

Paixão pela natureza e por aventuras. Este sentimento em comum motivou os amigos Carlos Delevati, 57, e Noé Vega, 65, a sair de Pelotas na manhã de segunda-feira (22) rumo a uma expedição que atravessará o Pantanal brasileiro. A viagem está prevista para ser concluída em 42 dias, sendo 30 deles sob as águas do rio Paraguai. Ao todo, serão 661 quilômetros percorridos de caiaque, apenas na força do braço, para concluir o trajeto que vem sendo planejado desde fevereiro.

Tanto Delevati quanto Noé já possuíam ligação com o Pantanal e mantêm laços com o local até hoje. Noé, que é uruguaio e professor de Arquitetura, conta que desde a década de 1980 faz visitas regulares ao bioma, mas ansiava pela oportunidade de conhecer mais a fundo o local através desta travessia. Já Delevati, possui memórias paradisíacas de infância no local. Ele relata, inclusive, sua participação voluntária em uma expedição médica, que percorreu cerca de 1,2 mil quilômetros para levar atendimento de saúde às comunidades ribeirinhas. Esta será a oitava expedição náutica realizada pelo empresário, que tem o costume de convidar amigos para acompanhá-lo. Desta vez, devido à conexão mútua com o local e à grande parceria, Noé será o desbravador.

Preparativos
Delevati conhece todo o percurso. Há dois meses, o mesmo trajeto foi feito com um barco motorizado para reconhecimento e mapeamento. Apesar de estarem um pouco atrasados quanto à melhor época do ano para a atividade - a partir da segunda quinzena de outubro se inicia a transição para o período chuvoso -, o clima não deve oferecer grandes empecilhos, além, é claro, do calor constante de mais de 30ºC. Ao todo, somando peso corporal, carga e caiaque, cada um estará carregando 160 quilos.

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 As paradas serão em acampamentos montados às margens do rio. (Foto: Carlos Queiroz)

O trajeto
A expedição começa em terra firme. Serão percorridos mais de dois mil quilômetros de carro até a cidade de Cáceres, no Mato Grosso, por onde a dupla adentrará as águas do rio Paraguai. A partir de então, os mais de 600 quilômetros de viagem serão distribuídos em seis trechos menores, para os quais estão previstas paradas para descanso em acomodações previamente estabelecidas. As paradas serão em acampamentos montados às margens do rio. A primeira está marcada para a histórica Fazenda Descalvados, localizada a cem quilômetros do ponto de partida. “O trecho é que diz quando devemos remar e quando devemos acampar, é quando der”, explica o mentor da aventura Carlos Delevati.

O percurso mais delicado será entre a terceira e a quarta parada, que compreende um espaço entre Porto Conceição, até a chegada na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Engenheiro Eliezer Batista. Os dois terão pela frente 144 quilômetros que oferecem apenas um ponto apropriado para acampamento, em função da densidade e da umidade da mata no Pantanal. Não há outra alternativa a não ser navegar por 16 horas seguidas. Após 30 dias entre navegação e descanso, está prevista chegada de caiaque na cidade de Corumbá, já no Mato Grosso do Sul.

Natureza
“Aventura é sair da zona de conforto. Pra mim, o prazer está em chegar a lugares de difícil acesso com a menor condição possível. Nós vamos adentrar uma natureza que nos rejeita”, disse Delevati. O pantanal é considerado pela Unesco um Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera. Delevati também conta que, com a época de piracema e a pesca proibida, o rio estará silencioso e com pouco movimento de embarcações. Tanta proteção ambiental torna o bioma praticamente intocável e deve proporcionar, além de paisagens únicas, uma enorme oportunidade de conexão com a natureza.

Perigo
A mesma natureza que encanta, oferece riscos. Onças, abelhas, formigas e jacarés estão entre as principais ameaças. Os aventureiros contam que foram instruídos pelo biólogo Fernando Tortato, especialista no comportamento animal, sobre como lidar com possíveis situações. A cada metro percorrido os viajantes estarão inevitavelmente no território de um destes animais, e devem estar cientes de que estarão sendo observados. Delevati espera ansiosamente por um encontro inesperado, mas está consciente sobre a principal instrução recebida: manter distância.

Comunicação
Sinal convencional será raridade durante todo o percurso. Em um ambiente tão inóspito, e com tantos possíveis imprevistos, os aventureiros levarão consigo um dispositivo eletrônico que atualiza a localização via satélite a cada cinco minutos. Além disso, este mesmo dispositivo é capaz de enviar mensagem pré-programadas, como por exemplo, “está tudo bem”, ou “preciso de ajuda”. Eles contam com uma rede de contatos nas cidades de partida e de destino para buscar a resolução de eventuais dificuldades. O dispositivo contém também um botão de SOS, somente para emergências vitais, que aciona as autoridades mais próximas para a prestação de socorro.

Apesar de inspiradora, uma aventura como estas requer muita experiência e planejamento prévio. A teoria oferece muitas armadilhas, que se apresentam apenas na prática, e um trajeto deste porte não é recomendável a viajantes de primeira viagem. Ambos estão levando massivo equipamento eletrônico para captação de imagens e maior cobertura possível de todo trajeto. A intenção é a elaboração de um documentário intitulado de Travessia pantaneira, que será publicado em uma página no Facebook que carrega o mesmo nome. Durante o percurso, a falta de sinal dificulta uma interação ao vivo com o público interessado.

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