Mais online, menos presencial. Essa é a curva de mudança no ensino superior brasileiro apontada pelo Censo da Educação Superior 2022, organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em quatro anos, o número de cursos superiores na modalidade de Educação à Distância (EaD) cresceu 189,1%. A estimativa é que a modalidade supere os cursos presenciais em número de estudantes ainda em 2023.

Nas 2,5 mil instituições de ensino superior do País, foram oferecidas 17 milhões de vagas em cursos EaD em 2022. Para os professores Christiano Avila, chefe do Núcleo de Políticas de Educação a Distância da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e Rosaura Silva, coordenadora do Programa Unidade Universidade Aberta do Brasil/UFPel, a flexibilidade de local e horários é o principal motivo do aumento da busca pela modalidade. "Nos grandes centros existe uma busca alavancada pela necessidade de trabalhar em horários que, na modalidade presencial, deveria se estar em sala de aula. Em locais onde não existe ensino superior presencial, esta é a única possibilidade de acesso à educação superior", avaliam.

A pandemia, segundo os especialistas, é um dos fatores que trouxe grandes mudanças para o cenário da educação à distância. "Todos os olhares se voltaram para essa modalidade. Docentes buscaram um melhor entendimento dos processos de aprendizagem e das tecnologias aplicadas no ensino remoto e estudantes perceberam as potencialidades e facilidades trazidas pelo uso de tecnologias", comentam. O momento também diferenciou o ensino remoto emergencial, que surgiu como uma resposta rápida ao isolamento social, da EaD, que é planejada para ser realizada remotamente.

Desafios da atualidade

Com o avanço acelerado da modalidade, também surgem novas demandas. Entre elas, Christiano e Rosaura destacam que garantir a qualidade do ensino é um dos maiores desafios. "Falta uma legislação e/ou regulação que incorpore indicadores de qualidade que consigam parametrizar a educação pública e privada na modalidade", observam. A formação de professores especificamente para a modalidade também é uma barreira a ser superada. "É um desafio a formação de professores para a EaD. Muitas vezes existe uma transposição direta do ensino presencial, mas é preciso que o desenho didático seja pensado para a educação a distância", avaliam.

Como fica o ensino presencial?

A expectativa é que, em 2023, o número de estudantes de cursos EaD supere o de cursos presenciais. Isso significa que é o início do fim dos cursos presenciais? Para os professores, não. Segundo eles, ambas as modalidades têm seu espaço no cenário educacional. "Cada modalidade tem suas vantagens e desvantagens, e elas podem atender a diferentes necessidades e perfis de alunos, portanto as duas modalidades podem coexistir, podemos ter cursos presenciais e cursos a distância, ambos com muita qualidade", avaliam.

Os especialistas dizem, inclusive, que pesquisadores da área já indicam que estamos chegando em um momento onde não cabe mais a diferenciação entre as modalidades. "Eles argumentam que a dicotomia entre EaD e presencial tornou-se obsoleta, especialmente à luz dos avanços tecnológicos. A integração das tecnologias digitais na educação transformou o panorama do aprendizado, promovendo modelos híbridos que combinam elementos de ambos os métodos", explicam.

Os dez maiores cursos à distância (em número de matrículas):

1- Pedagogia
2- Administração
3- Contabilidade
4- Sistemas de informação
5- Gestão de pessoas
6- Enfermagem
7- Educação física
8- Logística
9- Serviço social
10- Marketing

Educação superior brasileira em números

- 2,5 mil instituições de ensino superior, sendo 2,2 mil privadas e 312 públicas
- 22,8 milhões de vagas, sendo 17,1 milhões à distância e 5,6 milhões presenciais
- 3,1 milhões de estudantes ingressaram em cursos EaD em 2022 e 1,6 milhão em cursos presenciais