Negócios

O doce mercado que prospera em Pelotas

Estima-se que mais de quatro mil pessoas tenham atividade ligada à produção da iguaria que é Patrimônio Imaterial do Brasil

(Foto: Carlos Queiroz) - Milhares de pessoas atuam no setor nessa época

Potencial. Cleonice Del Ponte, 53, prepara a massa de leite condensado para enrolar o morango. Com o início da Fenadoce, a rotina é puxada, mas não lamenta, pois foi contratada temporariamente e a expectativa é conseguir um lugar no mercado de trabalho. Com estimativa de mais de quatro mil pessoas envolvidas com os doces em Pelotas, o momento é de muita produção do setor que ainda não tem dados específicos, mas se encaminha para configurar entre os mais importantes do Município.

A começar pela associação e cooperativa, com cerca de 40 empresas gerando empregos o ano todo, sem contar com a informalidade. Pelo desempenho da Rua do Doce, em dez meses de funcionamento, a Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Inovação (Sdeti) já consegue ter estimativas e se compromete em fazer um diagnóstico do setor doceiro, tão relevante para a cidade, assim como no passado, quando a indústria de conserva se destacava.

De acordo com levantamento do Museu do Doce da UFPel, existiram mais de 47 empreendimentos no setor de conservas, além das confeitarias. Hoje, a produção caseira evoluiu e as doceiras dividem panelas e tachos com a gerência dos negócios. Os registros da Sdeti apontam que, só pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae) específica para tortas e bolos, há 812 empresas registradas. Conforme o diretor de desenvolvimento da Sdeti, Diego Knorr, nem todos que fazem doces estão regularizados e existem ainda os microempreendedores individuais, os MEIs. “A dificuldade em filtrar os dados está na identificação do empreendimento, pois uma pessoa pode fazer doces, abrir um espaço para comercializá-lo e juntamente vender chás e salgados.”

Mas a tendência é de mudança. Os doces finos, além de serem Patrimônio Imaterial do Brasil, representam a prospecção de Pelotas. “É a principal ferramenta que atrai turistas”, garante o secretário Gilmar Bazzanella. Ele estima que a média anual de vendas na Rua do Doce seja de 42 mil unidades - com base nos dez meses de funcionamento. “Só os oito espaços do calçadão rendem R$ 252 mil por mês, sem contar as docerias importantes da cidade.”

A presidente da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Simone Maciel Jara Bica, diz que a cada ano a profissão vem conquistando lugar no mercado. “Deixamos de ser só doceiras para sermos empresárias e gestoras de funcionários.” Para ela, a profissional do doce não está mais na cozinha dos fundos da casa, pois a regulamentação a coloca na posição de empresária. “Além disso, o doce de Pelotas vende Pelotas.”
De acordo com o secretário Bazanella, 30% dos doces vendidos durante a Fenadoce estão fora do Centro de Eventos.

De aprendiz a empreendedora
O primeiro emprego da empresária Elaine Sturbelle Beick, 54, foi em uma confeitaria. Desde então se apaixonou pela profissão e nunca mais largou os doces. Montou sua própria produção e, com os resultados, adquiriu casa própria, veículo e todos utensílios da fábrica. “Todos os anos consigo fazer um novo investimento na empresa e na loja.” Ela conta que, durante o ano, ela e uma funcionária dão conta do recado, até porque ainda sofre os reflexos da pandemia. Mas durante a Fenadoce precisou contratar temporariamente 15 funcionários.

80 anos de tradição
Pelotas mantém também a tradição dos doces cristalizados, especialmente com dois nomes bem conhecidos. Dona Zilda, falecida em 2014, e Onélia Leite, que mantém firme a produção durante todo o ano.
Doces Onélia foi registrado em 1999, mas bem antes disso a doceira já ajudava a mãe com os cristalizados e geleias. A produção é diária e, para essa época do ano, conta com quatro funcionários. A doceira acorda às 6h30min e vai dormir depois que não tiver mais nada para fazer. “Ano passado foi muito boa a Fenadoce e, se for assim agora, vamos trabalhar bastante.”

Dona Zilda começou a produção ainda na década de 40 e atualmente o filho Sérgio Sias mantém a tradição de uma das fábricas mais antigas da cidade. A pequena indústria gera empregos diretos e indiretos e os produtos são vendidos praticamente para todo o Brasil, principalmente Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e São Paulo. Atualmente, são mais de 30 variedades de produtos.

Apoio técnico e financeiro
Técnica-gestora em projeto do Serviço Brasileira de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Jussara Cruz Argoud diz que as doceiras estão mais organizadas, até mesmo para a produção do doce com indicação geográfica, e contam com acompanhamento. “Procuramos acompanhar, quando necessário, para melhoria da gestão das empresas, acesso ao mercado e como divulgar o produto de qualidade, além de qualificar para as boas práticas de manipulação de produtos”, comenta. Além disso, as doceiras da Associação foram sendo subsidiadas pelo Sebrae para a compra dos estandes na Fenadoce.

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