Profissão

O sapateiro inovador

Seu Osmar Peixoto recebe e entrega os serviços em seu veículo, na avenida Duque de Caxias

pr9912Público encontra seu Osmar a partir das 9h na Duque de Caxias (Foto: Paulo Rossi)

Os ponteiros do relógio se aproximam das nove horas quando seu Osmar Peixoto, 65 anos, estaciona seu Fiat Prêmio na avenida Duque de Caxias. De bota e bombacha, distribui algumas placas ao redor do veículo e, como se girasse a plaquinha de fechado para aberto, senta-se no banco do motorista, ceva o mate, liga o rádio e aguarda a chegada da clientela.

Há alguns meses, seu Peixoto precisou entregar o imóvel onde atendia como sapateiro. Pelos baixos rendimentos da profissão, não era possível arcar com outro aluguel. Como alternativa, utilizou as ferramentas disponíveis para encontrar um novo modo de trabalhar no tradicional ofício: passou a atender no seu próprio veículo, estacionado quase na frente do antigo ponto, para seguir próximo dos clientes fiéis.

"Como eu já atendia aqui, foi a alternativa que encontrei para manter a clientela e seguir na atividade", relata Peixoto, que é aposentado.

Seu Peixoto não realiza os consertos e trabalhos no veículo. Lá ele recebe sapatos, botas e outros calçados e é o ponto de encontro para a devolução. O serviço é executado em sua residência, durante o intervalo de almoço ou à noite, quando retorna.

Se o serviço for simples, anuncia, entrega no mesmo dia. No entanto, o tempo às vezes é necessário para secar colas e acabamentos. Entre um mate e outro, a companhia muitas vezes é do rádio ou de donos de caminhão de frete que trabalham na região. "É bom ouvir música. O rádio deixa os pensamentos ruins longe da cabeça", indica.

Quem já consertou um calçado com seu Osmar, retorna. É a opinião do cliente Paulo Furtado, 73 anos. "O serviço é bom, eu já arrumei um sapato. É caprichoso", elogia Furtado, que também é aposentado.

Sempre na ativa
Mesmo aposentado, Peixoto segue trabalhando. Quando perguntado quanto de experiência possui no ramo da sapataria, remonta à juventude, quando trabalhou em um fábrica de calçados em Pelotas. Natural de São Lourenço do Sul, trabalha com sapateiro autônomo há mais de 25 anos.

"O pobre é o maior artista porque vive com um salário mínimo", fala, com ironia. Ele comenta que o salário de aposentado não dá que chega, e o ganho só como sapateiro também não é o bastante. "Não posso parar, nosso dinheiro vale cada vez menos", comenta.

Peixoto é mais um entre os milhares de aposentados que seguem trabalhando no Brasil. Em uma pesquisa divulgada no final do ano passado da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que 21% dos aposentados brasileiros continuam no mercado de trabalho. Outro dado que chama a atenção na pesquisa é que 47% dos aposentados na ativa trabalham por necessidade de complementar a renda da aposentadoria.

Serviços expandidos
Além de consertos em calçados, a lista de serviços é ampla: também afia facas, tesouras e até alicates de unha. No início da profissão, recorda, a função era valorizada, os produtos eram de mais qualidade e gerava bons rendimentos. "Hoje desvalorizou muito e a gente precisa fazer o que sabe", diz, se referindo aos serviços de afiador.

 

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