Aprendizado

Oficina no IFSul ensina afetadas pela enchente a produzirem móveis de madeira

Com doações de pallets, 12 mulheres do Pontal da Barra e Laranjal construirão e levarão para casa estantes, mesas, bancos e balcão de pia

Foto: Ana Paula Margarites - Especial - DP - Grupo recebe orientação técnica de professores

O Programa de Extensão Escritório Modelo de Edificações, criado há três anos pelos cursos de edificações e da Escola de Design do IFSul, lançou o Projeto SOS Volta Pra Casa, que realiza a Oficina de Mobiliário Emergencial na sede do Instituto. Além de ensinar a fazer e de disponibilizar os móveis aos participantes da oficina, serão divulgados nas redes sociais os manuais e vídeos, para replicar o conhecimento.

Foram selecionadas 12 mulheres do abrigo Edmar Fetter, moradoras do Pontal da Barra e de áreas mais sensíveis do Laranjal, atingidas pelas enchentes, para construir um balcão de pia com pallets e ferramentas de fácil manuseio, em três dias de atividade. Posteriormente, em novas rodadas de oficinas, serão feitas mesas e bancos e estantes - móveis que as participantes levarão aos lares quando puderem retornar.

Auxiliam na oficina cinco alunos do IFSul, dos cursos técnicos de design gráfico e de interiores, e de química, dois formados em edificações e 14 professores. A ideia, segundo a coordenadora do Programa de Extensão Escritório Modelo de Edificações, Juliana Plá, é que cada participante ensine o ofício a mais duas pessoas, e assim levando o conhecimento adquirido na Instituição para a comunidade.

“O foco do Escritório é a habitação de interesse social”, que elabora modelos de mobiliários e de casas em parceria com o poder público, ressalta. “Com a enchente, uma ex-aluna conversou conosco para a gente fazer algum movimento, e resolvemos estender neste projeto SOS Volta Pra Casa, que a gente quer capacitar a comunidade”, completa a professora.

No futuro, novas oficinas e com outras temáticas devem ser elaboradas, para que o conhecimento seja multiplicado dentro das comunidades, incluindo a Z-3 e a Doquinhas, áreas que foram bastante afetadas pelas enchentes, assim como o Laranjal. “A gente ainda não consegue dizer o que podemos propor, porque precisamos ver a situação quando as famílias retornarem às casas”, aponta Juiana, que é professora do curso de Edificações.

“A proposta é que o mobiliário seja com pallets, todos os móveis foram feitos a partir deste material, que conseguimos muitas doações. Pensamos que é uma matéria prima fácil para conseguir depois, é resistente e, geralmente, se consegue por doações”, salienta a professora de Design, Mariana Piccoli.

No contexto de que as famílias voltarão a áreas ribeirinhas, em que os alagamentos fazem parte da rotina, como é o caso do Pontal da Barra, a escolha pelos pallets torna-se adaptável à realidade da comunidade. “É interessante por ser madeira maciça, que se forem molhadas, elas secam e continuam em uso, diferentemente de materiais como MDF e outros”, justifica a professora Vívian Bandeira.

O ensino da técnica pode, segundo Vivian, virar “uma forma de renda no futuro, porque elas [as participantes] aprendem a trabalhar em equipe e podem adquirir uma vontade de empreender nesta área, de fabricar móveis com uso de madeira”.

Para a oficina, pensou-se o uso de ferramentas “simples de serem adquiridas”, complementa Mariana, e há o interesse de que se recebam doações de pregos, serras, lixas, martelos, trenas, esquadros, dentre outros - interessados em doar podem entrar em contato diretamente com o Programa de Extensão pelo Instagram @emedi-ifsul.

“Elas [as participantes] não estão usando serra circular, nada industrial, o projeto todo foi executado para ser feito com prego, martelo e serra tico-tico”, explica Mariana. “Aceitamos as doações. Idealmente, queríamos que cada uma saísse com um kit de ferramentas”, completa.

As pescadoras Yasmim Silva, 28 anos, e Célia Carvalho, 42, participam desta primeira oficina, realizada entre a quarta e a sexta-feira. Moradoras da vila de pescadores no Pontal da Barra, elas estão fora de casa há um mês, abrigando-se na Escola Edmar Fetter. Yasmim vive com o marido e dois filhos, e mostra resiliência para o retorno à própria casa. “Está destruída, a enchente foi bem bruta, mas nada tira a nossa fé de que somos guerreiros e vamos conseguir levantar tudo novamente. Muito legal a iniciativa deste curso, que a gente pode fazer móveis diferentes e ter mais experiência com as ferramentas, para poder levantar tudo de novo”.

Célia, que além de pescadora é estudante de Gestão Ambiental, relata que nunca tinha visto tanta água quanto nesta enchente, apesar de estar acostumada com os alagamentos. “Aproveitei a oportunidade para estar aqui [no curso], porque acho muito interessante trabalhar com reciclagem de material, da madeira que seria descartada”, diz. “As casas estão bem destruídas, são de madeira, mas vamos reconstruir de novo”, conclui. ​

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