Inacreditável

Ônibus param por mais segurança e funcionários são assaltados

Motoristas e cobradores protestaram na manhã desta terça contra a violência no transporte coletivo; enquanto a mobilização ocorria, quatro trabalhadores foram roubados dentro de um ônibus

Gabriel Huth -

* Atualizada às 17h

Trabalhadores do transporte coletivo urbano e rural de Pelotas paralisaram as atividades na manhã desta terça-feira (16). Com faixas e carro de som cobrando ações de combate aos frequentes assaltos, cerca de 60 motoristas e cobradores se concentraram no terminal da rua Dom Pedro II, em frente à antiga Estação Férrea. Porém, nem mesmo o protesto foi suficiente para inibir a ação de bandidos. Enquanto a mobilização ocorria, quatro trabalhadores foram assaltados dentro de um ônibus.

Eles conversavam em um dos veículos estacionados na rua Manduca Rodrigues, a poucos metros do terminal, quando dois homens armados entraram e levaram carteiras e celulares. Ninguém no entorno percebeu a ação dos bandidos, que fugiram. Uma das vítimas é o cobrador Fabiano Lima, que diz ter passado por este tipo de situação pelo menos 12 vezes durante o trabalho. “É até hilário esse tipo de situação ocorrer justamente enquanto se reivindica mais segurança”, critica o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Pelotas (STTRP), José Inácio de Jesus.

Entre os trabalhadores, o clima de indignação só aumentou com o episódio. A maioria dos que conversaram com a reportagem na manhã desta terça disse que a realidade de insegurança é muito mais grave do que os números apresentados pelas autoridades apontam. “Não tem horário nem dia. É com arma branca e de fogo. Eles entram, limpam o caixa e os passageiros e vão embora. Alguns a gente já conhece de longe porque continuam soltos”, afirma Gilnei Santos, 51. Há 23 anos como cobrador, passou por apuros tanto a trabalho quanto como passageiro.

Embora os relatos sejam dos mais variados locais da cidade, a Zona Norte e o Fragata são apontados como pontos críticos para os ônibus. Tanto que à tarde, poucas horas após o retorno da circulação, dois coletivos foram assaltados. Ambos no Fragata.

De acordo com a Brigada Militar, ações de combate ao crime dentro do transporte coletivo têm sido feitas com frequência, seja individualmente pela Brigada ou através de operações com demais órgãos de segurança. “Com esse tipo de operação em 2017 tivemos uma pequena redução nos índices em comparação a 2016, mas que é importante”, aponta o subcomandante do 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Marcio Facin. Segundo ele, a reclamação de que há mais assaltos a ônibus do que os apontados pelos dados oficiais pode ser resultado das subnotificações. “Orientamos que sempre seja registrada a ocorrência imediatamente, o mais breve possível para que possamos identificar e prender os criminosos”, completa.

Surpresa aos usuários
Apesar de anunciado com antecedência, o protesto dos funcionários do Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas (CTCP) pegou de surpresa muitos usuários do sistema, que não sabiam da mobilização entre as 8h30min e 11h. Porém, quem permaneceu nas paradas de ônibus à espera do retorno do serviço se mostrou favorável aos motivos da paralisação.

“É um direito deles. Tenho amigos que trabalham no transporte que já sofreram assaltos e contam cenas terríveis, com homens armados e até atirando”, diz o pintor Igor Luís Ferreira, 37. Morador do Obelisco, saiu de casa cedo para um exame na Santa Casa de Misericórdia e na hora de retornar foi surpreendido pela falta dos coletivos. Ainda assim, aguardou pacientemente o fim do protesto. “Eu também pensei em trabalhar nos ônibus, mas desisti. Está muito arriscado”, conta.

Informada de que não conseguiria voltar para casa no Pestano antes das 11h, Elisângela Corrales, 32, ligou para o marido. “Vim cedo ao Centro só para comprar um presente. Agora tive que pedir carona ao meu marido que trabalha no Fragata, não vou ficar esperando.” Apesar do transtorno, ela compreende a razão dos trabalhadores, pois já presenciou ataque a um coletivo. “Foi no começo da tarde, bem perto da Avenida (Bento). Eu gelei na hora”, descreve.

A circulação dos ônibus começou a ser retomada aos poucos por volta das 11h15min. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário em Pelotas (STTRP), novas mobilizações podem ser marcadas para os próximos dias para voltar a chamar a atenção contra os assaltos a coletivos.

O secretário executivo do CTCP diz que o consórcio foi informado pelo sindicato da mobilização. “Nossa maior preocupação é com o risco e o stress a que os trabalhadores e usuários são submetidos com a insegurança”, diz Enoc Guimarães. Segundo ele, o presença do videomonitoramento nos veículos tem auxiliado na identificação dos criminosos. “As câmeras ajudam no trabalho da Polícia Civil. Muitos já foram presos com o uso dessas imagens”, destaca.

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