A pelotense Rafaela Muller está entre os seis estudantes do Rio Grande do Sul que conseguiram atingir a nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada no fim do ano passado. A nível nacional, somente 60 pessoas conquistaram o feito mais almejado por aqueles que fizeram a prova, a nota mil na redação.

Aos 35 anos, Rafaela já dispõe de uma carreira acadêmica considerável. Formada no Mário Quintana, em 2004, prestou vestibular para Direito na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e passou. Depois, a carreira de advogada durou um ano e ela abriu uma rede de postos de combustíveis na cidade. Há cerca de dois anos, acontecimentos na vida de Rafaela fizeram com que ela quisesse cursar Medicina. Fez a prova do Enem duas vezes, e antes que tentasse pela segunda vez, preferiu buscar o curso pré-vestibular do Fleming. “Inicialmente meu foco era só a Universidade Católica, mas com o passar do ano no curso, fui melhorando meu desempenho nos simulados e acabei me dedicando também para concorrer em uma faculdade pública”, disse Rafaela.

Preparação

Ingressando no curso no início de março de 2023, Rafaela tinha aulas presenciais durante as manhãs e nos sábados, assistia as aulas online da rede. De tarde ela trabalhava e à noite treinava produzindo as redações ou fazendo simulados. A rotina dela priorizava os estudos. “Às vezes, fiz alguma coisa com os meus amigos, porque algumas coisas a gente tem que abdicar para que sobre tempo, que seja para dormir”, admitiu. “A gente consegue manter o foco quando sabe exatamente onde quer chegar.”

Desafios no caminho

“Eu nunca perdi o foco. Algumas vezes, houve um momento de queda, porque na rotina de estudos tu vem numa crescente e daqui a pouco vem uma nota mais baixa e a gente fica na dúvida”, expôs Rafaela. A convivência com os colegas do curso, que estavam em uma situação semelhante ajudou ela a enfrentar os momentos mais difíceis e a não desistir. “Importante a rede de apoio, que foram meus amigos e a minha família”.

O tema da redação do Enem 2023 foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Rafaela achou o tema muito necessário e importante. Segundo ela, foi um assunto bom para escrever, pois estava bem preparada para temas sociais, embora não tenha achado fácil. “O Enem é uma prova muito preocupada com a realidade do País, então a maioria dos temas vai abordar assuntos que a gente tem que refletir”, pontua.

Primeiro impacto

Rafaela acreditava que havia tirado uma boa nota, porém nunca pensou que conseguiria atingir a maior nota, estando entre os seletos 60 participantes do País. “Quando eu vi… não sei nem te explicar. Eu comecei a chorar”, lembra. A felicidade frente à nota mil é um momento que Rafaela achou que nunca ia passar. “Eu nem imaginei que fosse ficar tão feliz, porque quando a gente fazia aqui, eu dizia ‘gente, não se preocupem com o mil, porque ninguém tira mil’, mas quando eu tirei mil, mudou tudo”.

Segredos da nota mil

Para ela, o material escrito e as correções semanais foram fatores importantes para o progresso da sua parte escrita. “O fundamental é tu saber aproveitar a crítica que tu recebe. [...] Algumas coisas, às vezes, estavam na minha cabeça, eu escrevia, mas não necessariamente eu tinha passado aquilo para o papel”, ressalta. Rafaela conta que a virada de chave veio através da aceitação das críticas, momento em que ela começou a manter acima de 900 a nota nas redações-teste.

A ausência de um modelo de texto fixo é outro ponto destacado por ela, que revela ter produzido redações de acordo com o plano de texto feito na hora. “Eu pegava o tema, via quais eram as palavras-chave, via os argumentos que eu ia utilizar e começava a escrever”. Existem modelos para a redação do Enem que, segundo ela, garantem uma boa nota, mas não dão originalidade, e o que assegura uma nota mil é conseguir comprovar a autoria no texto. “No esqueleto (modelo), a gente ganha tempo de prova, o que também é importante, mas eu nunca consegui ter o esqueleto [...] e foi assim que eu consegui ir evoluindo, e por incrível que pareça deu certo”, complementa.