Pandemia
Pesquisa da UFPel aponta cerca de 15 mil gaúchos infectados
O levantamento servirá de base para novas medidas a serem adotadas pelo governo do Estado
*Atualizada às 17h41min para acréscimo de informações.
Um infectado para cada 769 habitantes. Esse é um dos dados estimados pela segunda fase da pesquisa coordenada pelo Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O estudo é realizado em nove cidades do Rio Grande do Sul, nas quais foram aplicados 4,5 mil testes. Seis deles registraram casos positivos de Covid-19, o que resulta em uma estimativa de que 15.066 gaúchos já possuem os anticorpos da doença. Os resultados seguirão servindo de base para as novas decisões do governo do Estado.
"É necessário ter cuidado para interpretar números pequenos", alertou o reitor da UFPel e coordenador geral da pesquisa, Pedro Hallal. Uma das principais conclusões do estudo é que há um infectado a cada 769 habitantes. Comparado com a fase anterior, esse número assusta, já que ele era de um a cada 2.000. Com a finalização do segundo inquérito também foi possível estimar que mais de 15 mil gaúchos estavam infectados há 15 dias, porém, até a manhã desta quarta-feira (29) o governo notificava apenas 1.350 casos. Desse modo, o levantamento indica que para cada caso registrado, há 12 que não chegaram ao conhecimento das autoridades
Dos 4,5 mil testes realizados, apenas seis apontaram resultado positivo, então, calcula-se que cerca de 0,13 das pessoas já possuem os anticorpos da doença. Ainda de acordo com os dados do estudo, para cada 1 milhão de habitantes no RS, estima-se que existam 1,3 mil contaminados reais, enquanto a primeira fase apontava 500 infectados para cada milhão. "Há uma tendência de aumento", frisou o reitor. Além disso, Pedro Hallal explica que dados oficiais são baseados em casos confirmados, os quais representam uma pequena parcela, e salienta que a pesquisa é única na literatura mundial. Sobre os testes rápidos aplicados, garantiu que o utilizado já passou por quatro estudos de validação e possui 99% de especificidade.
A nova etapa confirma também a transmissibilidade do vírus no ambiente domiciliar. Apenas uma das seis pessoas que testaram positivo para Covid-19 morava sozinha. Nas outras cinco, foi identificada a presença de anticorpos para o novo coronavírus nos demais membros da família. No total, foram testados 12 familiares e nove tiveram resultado positivo. Do caso registrado em Pelotas, o infectado morava com mais duas pessoas, sendo que uma testou positivo e a outra negativo. Esse dado, segundo Hallal, confirma que os testes funcionam e que a transmissão domiciliar é considerada alta.
Das quatro perguntas que o estudo pretende responder - percentual de gaúchos com anticorpos para o vírus; velocidade de expansão da infecção ao longo do tempo; percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas e cálculos precisos da letalidade - a terceira não foi analisada, pois o número de casos ainda não permite. Porém, a novidade do novo inquérito foram os números referentes à letalidade da doença. Baseado nos casos notificados, ou seja, 1.350 infectados para 49 mortos, há 3,6% de letalidade. Já em uma estimativa fundamentada em cima dos casos reais, a mortalidade cai para 0,33%. "Esse dado não é sinal verde para relaxar as medidas restritivas", ponderou o reitor. Somente a terceira fase do estudo, prevista para ocorrer entre os dias 9 e 11 de maio, mostrará a situação dessa última semana do mês de abril. Com 100% das testagens esperadas realizadas, Hallal agradeceu a contribuição da população gaúcha. "Tiveram a sensibilidade de abrir a porta e atender os entrevistadores", falou.
Distanciamento Social
Outro ponto da pesquisa detectou uma mudança no comportamento dos habitantes do Rio Grande do Sul. De acordo com o estudo, houve um aumento significativo das pessoas que passaram a sair de casa diariamente. Na primeira etapa, 20,6% dos entrevistados declararam essa opção. Agora, esse número passou para 28,3%.
Os que disseram sair apenas para necessidades essenciais, como supermercado e farmácia, caiu de 58,3% para 53,4%. Os que declararam ficar em casa todo o tempo, que antes eram 21,1%, agora são 18,3%. "Estes dados são importantes para que os municípios consigam dosar os seus decretos de acordo com este grau de cumprimento das recomendações de distanciamento social", declarou Hallal.
Em Pelotas, 26% dos habitantes declararam sair diariamente, enquanto no primeiro inquérito eram apenas 18,4%. Para as atividades essenciais, o dado era de 60,2% e agora caiu para 54,4%. Os que confirmaram ficar em casa todo o tempo são 19,6% - anteriormente eram 21,4%. Isso pode ser caracterizado pelo movimento que vem sido observado no município durante as últimas semanas. Porém, conforme explica o reitor, a abertura do comércio, que ocorreu no último dia 22, ainda não impacta nesses dados. Se isso vir a acontecer, será com os dados do terceiro inquérito populacional.
Pedro Hallal reafirmou seu posicionamento contrário às flexibilizações. "Sigo favorável ao distanciamento social, mas foi interessante notar os dados de Pelotas", disse, referindo-se à grande parte dos pelotenses que continua saindo de casa somente para atividades essenciais.
A pesquisa
Ao todo, 18 mil moradias serão visitadas no Estado, escolhidas de forma aleatória e com embasamento científico que segue critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). As residências estarão localizadas em oito regiões, definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Santa Maria, Uruguaiana, Ijuí, Passo Fundo, Caxias e Santa Cruz do Sul.
O estudo coordenado pela UFPel conta com o apoio do Ministério da Saúde e com a parceria de outras 12 instituições de ensino superior, públicas e privadas: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Pampa (Unipampa/Uruguaiana), Universidade de Caxias do Sul (UCS); Universidade de Passo Fundo (UPF); IMED, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/Passo Fundo) e Universidade La Salle (Unilasalle).
Agora para todo o Brasil
Na oportunidade, o reitor anunciou que o primeiro inquérito populacional do estudo nacional, também coordenado pela UFPel, ocorrerá no próximo dia 5. O trabalho será dividido em três fases e 33.250 pessoas serão pesquisadas em cada uma. O estudo, já inédito feito apenas no Rio Grande do Sul, agora acontecerá em 133 cidades de todos os estados.
Dados
1ª fase:
4.189 testes
2 testes positivos
0,05 da população com anticorpos
1 infectado a cada 2000 habitantes
5.650 pessoas com anticorpos no RS
Para cada caso notificado havia 4 não notificados
2ª fase:
4.500 testes
6 testes positivos
0,13 da população com anticorpos
1 infectado a cada 769 habitantes
15.066 pessoas com anticorpos
Para cada caso notificado há 12 não notificados
Distanciamento social no RS
Fase 1:
58,3% saíam para atividades essenciais
20,6% saíam diariamente
21,1% ficavam o tempo todo em casa
Fase 2:
53,4% declaram sair somente para atividades essenciais
28,3% saem diariamente
18,3% ficam o tempo todo em casa
Distanciamento em Pelotas
Fase 1:
18,4% diariamente
60,2% atividades essenciais
21,4% o tempo todo em casa
Fase 2:
26% diariamente
54,4% atividades essenciais
19,6% o tempo todo em casa
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