Sem atendimento

População sofre com a falta de médicos na Zona Rural

Pelo menos duas unidades estão sem atendimento médico, enquanto em outras o atendimento não é diário

Jô Folha -

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Unidade na Santa Silvana não tem previsão para reabrir. (Fotos: Jô Folha - DP)

A dificuldade por um atendimento médico na Zona Rural de Pelotas é grande. Alguns postos estão sem médicos enquanto outros não atendem diariamente a população das comunidades. Além de não atender as expectativas da população, que sente-se carente pelo atendimento, municípios vizinhos registram aumento de atendimentos em suas unidades em função da crise no sistema local.

A principal justificativa da ausência dos profissionais é a não reposição do programa Mais Médicos. Com a saída dos cubanos, Pelotas perdeu 12 médicos, que nunca foram repostos na totalidade pelos substitutos brasileiros. As secretarias de Saúde de Turuçu, Arroio do Padre e Morro Redondo confirmaram que muitos moradores de localidades próximas têm procurado suas unidades de saúde. “A gente mal consegue atender os nossos. Fica sobrecarregado”, informou Robinson Cafuman, superintendente da pasta em Turuçu.

Em um relatório apresentado pelo poder executivo na última quarta-feira (27), os dados demonstravam a falta de 11 médicos de um total de 61 equipes. Outro relatório, levantado pelo Conselho Municipal da Saúde (CMS), aponta a falta de 16 profissionais nos postos de saúde do município.

Na manhã desta terça-feira, uma equipe do Diário Popular visitou quatro unidades básicas no interior do município e conversou com moradores das localidades desassistidas. Na Santa Silvana e na Colônia Maciel, não há nenhum médico atendendo há semanas. Sem médicos até a semana passada, na Colônia Corrientes os atendimentos voltaram a acontecer nesta semana somente em três dias. Na Colônia Osório, também sem médicos até a semana passada, a população reclama do baixo número de fichas atendidas diariamente, sendo necessário amanhecer na fila do posto para conseguir uma vaga.

Todas estas reclamações também já chegaram ao Conselho Municipal de Saúde, confirma Luiz Guilherme Belletti, presidente do órgão. “Não estamos contentes com a maioria das unidades. Pedimos já uma reunião com a secretária Ana Costa para tratar disso e ainda não tivemos uma data”, critica.

Fechado e sem aviso
Quem chega para ser atendido na Santa Silvana encontra um posto totalmente fechado. Não há recepcionista, JF_2825equipe de enfermagem ou assistência social. Na porta, há apenas um aviso sobre o desacato a servidores públicos - nada é informado para quem encontra o portão com o cadeado trancado. A desinformação ronda a casa dos moradores da comunidade. Especulam que a unidade permanecerá fechada, que o médico está em licença saúde, que haverá uma reforma.

Vizinho do posto, seu Arlindo Scherdien (foto), 56, comenta que há semanas não aparece ninguém no local. Conforme outros moradores, até mesmo os computadores foram retirados do imóvel. Um abaixo-assinado organizado na localidade reuniu mais de 750 assinaturas pedindo a reabertura do posto. "Parece que eles se esqueceram de nós", lamenta Arlindo, que é diabético e já teve uma perna amputada em função da doença.

Dona de um restaurante também nas proximidades, Cláudia Harms, 32, vê com preocupação o fechamento da unidade. Muitos carros estacionam em frente ao posto e pedem informações no estabelecimento. "Minha filha agora apareceu com umas pequenas bolinhas embaixo dos pés, a gente fica preocupada. Antes, era levar aqui no lado e ser atendida. É muito ruim pra comunidade", diz. Em funcionamento, moradores e funcionários da subprefeitura relatam que eram atendidos mais de 20 pacientes por dia.

A secretária de Saúde, Ana Costa, confirmou que a unidade passará por reformas com mão de obra prisional. A intervenção no imóvel deve começar no próximo mês e ainda não há previsão para conclusão. Até lá, população deverá procurar a UBS na Colônia Osório, a uma distância de 15 quilômetros.

Posto aberto sem médico
Na Colônia Maciel o posto de saúde permanece aberto, porém não há atendimento médico. Quem chega para ser atendido no local é orientado a buscar atendimento na Colônia Gruppelli, a uma distância de aproximadamente 12 quilômetros. A enfermeira Gilce do Amaral Pereira conta que há duas semanas não é realizados atendimentos médicos na unidade. Antes, número variava entre 20 e 30 pacientes diários.

“A gente só escuta reclamações. Muitos acabam indo no hospital de Morro Redondo, que a partir das 19h atende pelo SUS”, comenta. Em oito anos trabalhando no local, Gilce sente-se em casa no posto, onde também cultiva uma horta com plantas medicinais utilizadas em atividades com a irmã Assunta, tradicional nome da medicina alternativa em Pelotas.

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Consultório permanece vazio na Colônia Maciel. (Foto: Jô Folha - DP)

A secretária Ana Costa informa que uma médica será deslocada para a unidade para atender em dois dias por semana - às quartas e sextas-feiras. A mesma profissional também atende os outros três dias na UBS Corrientes. Os atendimentos, projeta Ana, devem começar na próxima semana.

Poucas fichas
Na sala de espera da UBS da Colônia Osório, na manhã da terça-feira, não havia cadeiras livres. Depois de mais de cinco meses sem médico, nesta semana foi transferido para o local um profissional que antes trabalhava na Colônia Z-3. A principal reclamação na comunidade é o baixo número de fichas somado ao número de moradores da Santa Silvana, atualmente sem posto de saúde. Seriam em torno de 10 fichas diárias. O número não é confirmado, tampouco negado pela SMS.

Dona Simone Hartwig, 42, chegou no posto antes das 7h da manhã e conseguiu a última ficha de atendimento. Outros moradores chegaram mais cedo. Por volta das 10h30, ela ainda aguardava para a consulta do seu filho Wellington, de 16 anos. “Meu filho tem aula de tarde e a gente ainda não sabe se vai ser atendido de manhã”, reclamou a moradora da localidade.

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Reclamação na Colônia Osório é o baixo número de atendimentos diários. (Foto: Jô Folha - DP)

Conforme a SMS, a recente chegada do médico ainda passa por uma adaptação da equipe e é preciso mais tempo para que possa haver planejamento e ações concretas na comunidade. Por ser estratégia de saúde da família, a equipe também realiza visita a idosos acamados e foca mais na prevenção do que o pronto-atendimento.

Sem atendimento diário
“Agora temos que escolher qual dia ficar doente?”, é o principal questionamento de moradores ouvidos pela reportagem sobre a frequência de atendimento na Colônia Corrientes. O posto ficou dois meses sem atendimento médico até que, nesta semana, uma profissional começou a trabalhar na UBS.

O atendimento no local será nas segundas, terças e quintas. Estão cadastradas na unidade cerca de 380 famílias. A autônoma Paula de Oliveira, 45, precisou chegar cedo para conseguir uma receita para fazer exames gerais. Por volta das 6h30 da manhã ela chegou no posto e seria uma das últimas atendidas da manhã. “Bom seria ter médico todos os dias”, disse.

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 Secretaria busca profissionais
A prioridade da SMS, informa Ana Costa, é colocar médicos em todos os postos da cidade, mesmo que não seja diariamente. Em recente viagem a Brasília, onde esteve no Ministério da Saúde, Ana teve a confirmação que Pelotas não terá reposição de profissionais no programa Mais Médicos.

Das 12 baixas no quadro com a saída dos médicos cubanos, houve reposição de sete profissionais. Pelos cálculos da secretaria, faltariam cinco médicos na rede municipal. “A Secretaria de Administração já está em fase final de um edital para a contratação de médicos. Continuamos captando médicos visto que não teremos a reposição”, indicou. O lançamento do edital ainda não tem uma data definida. “Nossa prioridade são os casos onde tem uma equipe apenas para não deixar nenhum posto sem médico”, explicou.

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