Indignação

Pórtico centenário é derrubado no Areal

Moradores do entorno criticam demolição da estrutura alegando que marcava uma época da cidade e era a identidade do local

Foto: Tiago Klug - Prefeitura diz não ter conhecimento sobre a demolição

Na Semana do Patrimônio, Pelotas tem arrancado da sua história um dos marcos mais importantes do bairro Areal. O pórtico Villa Mozart, na esquina da avenida São Francisco de Paula com a rua Lhulier, foi destruído na madrugada de sábado, para surpresa e indignação dos moradores da rua. Segundo eles, a demolição da estrutura já havia sido evitada há alguns anos, mas desta vez não conseguiram agir a tempo de impedir a derrubada, notando apenas quando caminhões já retiravam os entulhos.

"Tiraram a nossa identidade, nossa referência", diz a moradora Ana Maria Biancini. Há 40 anos no local, ela lamenta a ausência do pórtico. Para os moradores Ferdinando Bitencourt Islabão, 56, e Maria Rosane da Cruz, 54, é como se um pedaço da casa deles tivesse sido arrancado. "Acabaram com a característica da vila", reforça Juventil Oliveira, 67. Rosangela Lemos, 65, conta que foi morar no local quando tinha um ano de idade e lembra quando seu pai, hoje com 90 anos, comentava sobre a existência do monumento.

Apesar dos vários relatos do pórtico da Villa Mozart como um marco de longa data naquela região do Areal, encontrar referências históricas sobre a estrutura é tarefa difícil. O DP consultou historiadores e o Museu da Baronesa, mas não obteve informações sobre o local com estas fontes. Uma das poucas citações documentadas está no terceiro volume do Almanaque do Bicentenário de Pelotas.

Estrutura estava no passeio público
O que mais deixa intrigado o grupo de moradores que defendia a preservação do pórtico é o fato de que ele estava na calçada e, mesmo assim, foi demolido pelo comprador do terreno. "Será que tinha autorização? Por que foi na calada da noite?", pergunta Ana Maria, referindo-se à derrubada da estrutura, que teria ocorrido durante a madrugada.

A retirada do pórtico é uma surpresa até para a Prefeitura de Pelotas, já que, segundo a Secretaria de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana (SGCMU), não houve registro de solicitação de demolição da estrutura. Como parte dela estava sobre o passeio público, a autorização do Município seria necessária para intervenção.

Ainda conforme a Prefeitura, não houve denúncia sobre o caso e a SGCMU vai levantar mais informações para identificar eventuais responsabilidades. Já o Departamento de Memória e Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) diz também não ter recebido pedido de demolição e que, embora não haja registro histórico e o pórtico não seja tombado, a estrutura poderia, sim, ser considerada patrimônio cultural da comunidade local. A Secult afirma ainda que, caso tivesse havido algum comunicado da intenção de demolição, o Departamento teria argumentado pela preservação.

De acordo com os vizinhos ao local onde ficava o pórtico, uma denúncia sobre o caso será encaminhada ao Ministério Público para que sejam apuradas as responsabilidades.

O Jornal tentou contato com o possível comprador do terreno e consequentemente responsável pela demolição, mas não teve retorno até o fechamento da reportagem.

Mais um
Assim como vem ocorrendo com outros monumentos nos últimos meses, no último final de semana mais uma obra exposta na praça Coronel Pedro Osório, no Centro de Pelotas, foi atacada. Desta vez foi o busto do médico e político Miguel Rodrigues Barcelos. Além de ter a placa de bronze e os adornos furtados, o monumento teve quebradas as placas de mármore que cobrem a estrutura.

O titular da Secult, Paulo Pedrozo, afirma ter verificado a situação ainda no sábado registrado ocorrência ontem nas polícias Civil e Federal, já que a praça é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O secretário também diz ter informado a Guarda Municipal para que haja reforço no policiamento no local.

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