Local de referência para os pelotenses para a realização de atividades ao ar livre, encontros e feiras, assim como ponto de turismo, a praça Coronel Pedro Osório tem sido alvo constante de furtos e vandalismo. A paisagem do espaço público composto por inúmeros monumentos históricos é de degradação. Resultados mais recentes dos crimes ao patrimônio: a obra em homenagem à Miss Universo Yolanda Pereira se encontra jogada no chão, sem partes da estrutura; o relógio de sol já não tem os algarismos romanos; e outras obras estão cobertas por pichações.

No guia de visitação elaborado pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult), a praça ocupa o primeiro lugar da lista com 22 locais que compõem o Centro Histórico de Pelotas, reconhecido em 2018 pelo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio do Brasil. A orientação para os turistas descreve que a praça mais famosa de Pelotas é um espaço de lazer, palco de eventos culturais como a feira do livro e concentra grande parte da história do Município por ser composta de diversos monumentos para contemplação, como o Chafariz Fonte das Nereidas e o Relógio do Sol.

Entretanto, no período de maior atividade turística na cidade em razão da realização da 29ª edição da Fenadoce e em que inúmeros ônibus de excursão param próximo à Praça Coronel Pedro Osório, quem for visitar o espaço irá encontrar este cenário prejudicado. Os vestígios das ações criminosas estão por todo local, desde as esculturas de Antônio Caringi até a retirada de tijoletas do chão do local.

Degradação do patrimônio
Do Relógio, só restam marcações circulares, já os números de metal indicadores dos horários foram furtados. A Fonte das Nereidas se tornou uma espécie de tela para as pichações, enquanto as placas de bronze nos postes que iluminam o entorno do chafariz também têm sido arrancadas. Em algumas das estruturas, estas placas foram substituídas por tampas de alumínio.

Em situação ainda mais lamentável, o pedestal em homenagem à pelotense Yolanda Pereira, primeira brasileira a conquistar o título de Miss Universo, permanecia jogado no chão esta semana. A coluna também estava sem as letras que descreviam o título, bem como havia sumido o topo da estrutura. Nos monumentos que fazem parte do motivo de tombamento da praça pelo Iphan, inúmeros são os artefatos furtados, quebrados ou poluídos visualmente pela pichação.

Testemunhos
Flanelinha ao redor da praça há 31 anos, Ivan Aires diz que os monumentos amanhecem vandalizados e furtados há bastante tempo. "É sempre na madrugada e no outro dia as coisas estão assim", conta, apontando para o pedestal em homenagem a Yolanda Pereira.

O testemunho dele vai ao encontro do trabalho de observação e pesquisa feito pela restauradora Flávia Faro. "Fotografo essas obras desde 2012. Semanalmente eu passava pela praça e via a depredação, cada dia tinha uma novidade ruim", conta. A falta de conservação adequada das esculturas da praça Coronel Pedro Osório foi tema de pesquisa no mestrado da profissional. Oito anos após concluir a dissertação, diz que cada vez mais a história das obras se perde diante da depredação. "No Monumento às Mães tem uma tartaruga furtada, a placa também. São obras de escultores renomados que, infelizmente, estão se encaminhando para uma perda total de informação."

Para a restauradora, conforme peças, pedrarias, placas e outros elementos são perdidos, os marcos identitários dos monumentos vão sendo extintos, assim como um pouco da arte e da cultura da cidade se perde também. "A própria escultura do Coronel Pedro Osório tem o pedestal a cada dia mais pichado", exemplifica. Flávia ressalta que o cuidado e a conservação exige trabalho constante e que somente com intensa vigilância é possível preservar a história da praça. "As providências só são tomadas quando existe alguma ocasião, como a Feira do Livro, por exemplo ", critica.

Neste sentido, há cerca de um ano a conservadora-restauradora, junto com a colega Isabel Torino, elaborou e entregou à Secult um parecer sobre os monumentos solicitando mais efetividade do poder público na proteção do patrimônio. No entanto, diz que o documento até o momento não foi respondido. Entre os pedidos das profissionais estava o monitoramento por câmeras e policiamento mais presente. Flávia destaca ainda que para conscientizar a população também é necessário investimento em educação patrimonial. "É essencial colocar dentro da cabeça dos pequenos esse cuidado com o patrimônio público."

Recolhimento e segurança
De acordo com o Secretário Municipal de Cultura, Paulo Pedrozo, o Município realizou o registro das depredações na base do monumento que homenageia Yolanda Pereira. A obra deve ser recolhida por equipes da Secult que irão estudar a possibilidade de restauração e devolução ao local. Ainda conforme informações da pasta, no último final de semana o Chafariz teve peças furtadas recuperadas pela Guarda Municipal (GM).

A comandante da GM, Cintia Aires, confirma que os patrimônios públicos vêm sofrendo diversas depredações, furtos e pichações nos últimos anos. Ela argumenta ainda que várias ações são realizadas visando coibir os delitos, inclusive de forma integrada com outras forças de Segurança Pública. "Na terça-feira, dia 13, uma operação integrada entre Guarda Municipal, Brigada Militar e Agentes de Trânsito esteve nas praças e parques visando coibir danos e furtos, ao patrimônio e à população."